A Televisão Pública de Angola exibiu ontem, 09/03, um documentário, cuja qualidade técnica caberá aos críticos classificarem. Enquanto isso não surge, o Blog Angodebates rende os parabéns à TPA pela pertinência e, mais do que isso, pelo cruzamento de opiniões.
Zungueira, ocupação “feminizada” cujo conceito remete a uma imagem vívida. O termo é de "fabricação" angolana, vem do kimbundu "kuzunga" (andar depressa), assim rezam os mais consentâneos relatos.
Foi interessante acompanhar entre os enquadramentos os do sociólogo Laurindo Vieira, do historiador Cornélio Calei, bem como do oficial da polícia nacional, Divaldo Martins. Ângulos como questões de sobrevivência, embaraço ao trânsito, concorrência desleal, ocupação praticada por mulheres vindas da periferia, foram os mais visados.
Das Zungueiras falaram algumas, representando províncias como Uige, Huila, Malange e Benguela – não haveria, obviamente, espaço suficiente num programa televisivo para ouvir todas, que são, no final de contas, a mais comum das “paisagens” do país inteiro. Foram ouvidas também outras sensibilidades, podendo-se deste modo ouvir os prós e os contras da actividade.
«Se antes eram apenas um fenómeno das capitais de cidade, hoje tende a espalhar-se. Digo, sem medo, de errar que encontrei zungueiras no Bailundo, por exemplo», assegurou mais ou menos nestes termos o historiador Cornélio Calei.
O fenómeno zungueira é um daqueles temas impossíveis de esgotar com a superficialidade que caracteriza os fóruns da media, pelo que, tal como os intelectuais sugeriram, o Angodebates é também somos pela reflexão social permanente.
Zungueira, ocupação “feminizada” cujo conceito remete a uma imagem vívida. O termo é de "fabricação" angolana, vem do kimbundu "kuzunga" (andar depressa), assim rezam os mais consentâneos relatos.
Foi interessante acompanhar entre os enquadramentos os do sociólogo Laurindo Vieira, do historiador Cornélio Calei, bem como do oficial da polícia nacional, Divaldo Martins. Ângulos como questões de sobrevivência, embaraço ao trânsito, concorrência desleal, ocupação praticada por mulheres vindas da periferia, foram os mais visados.
Das Zungueiras falaram algumas, representando províncias como Uige, Huila, Malange e Benguela – não haveria, obviamente, espaço suficiente num programa televisivo para ouvir todas, que são, no final de contas, a mais comum das “paisagens” do país inteiro. Foram ouvidas também outras sensibilidades, podendo-se deste modo ouvir os prós e os contras da actividade.
«Se antes eram apenas um fenómeno das capitais de cidade, hoje tende a espalhar-se. Digo, sem medo, de errar que encontrei zungueiras no Bailundo, por exemplo», assegurou mais ou menos nestes termos o historiador Cornélio Calei.
O fenómeno zungueira é um daqueles temas impossíveis de esgotar com a superficialidade que caracteriza os fóruns da media, pelo que, tal como os intelectuais sugeriram, o Angodebates é também somos pela reflexão social permanente.
Perdoem-nos a insistência, mas julgamos pertinente o poema…
África mãe Zungueira
Esta que se aproxima
carrega uma criança às costas e outra no ventre
uma nuvem húmida rasga-lhe a blusa
lembrando que é hora de parar e amamentar
e lá vai ela seguindo o itinerário que a barriga traçar
gestora de um ovário condenado a não parar
porque é património social
penhora o útero na luta contra a taxa de mortalidade
Conhece bem demais a cidade
não tanto pelos monumentos
mas pela necessidadeviandante como a borboleta
fez-se fiel e histérica amante
da lei da compra e venda de porta à porta
uma lei entretanto não prevista por lei
“depender só do marido? Nunca”
mulher é aquela que não de deixa
mal acordou a urbe já peleja aliciando clientes
no estômago só o funji do jantar de ontem
sem tempo sequer para escovar os dentes
Lá vai mais uma dobrando a esquina
de pregão firme como a voz do tambor
humilhada aos poucos pelo sol
nos mapas de salitre da poeira que adormeceu no suor
Forte por fora muitas vezes vulnerável no íntimo
veja esta nos olhos encarnados grita despercebida
uma mulher mal amada
nunca descobertarainha de etapas queimadas
ele que devia ser companheiro
é de se esconder no copo
quando os ventos são ásperos
autentico chá em taças de champanhe
não estar disposta para mais um suor sagrado
é para ele frontal apelo à violência
habituada a levar da cara odeia a sinceridade do espelho
Por aqui passou mais uma profissional da zunga
protagonista anónima com mil mestrados da vida
contudo não contada na segurança social
para o turista uma espécie de paisagem
rosto de uma noite que lançou a mulher
às avenidas dialécticas dos centros urbanos
no seu dever de sustentar a sociedade
a mesma que a condenará antes de amanhecer
por não participar da vida política
ou por não saber ler
nem escrever
In consulado do Vazio (Gociante Patissa-KAT consultoria e empreendimentos, Julho 2008)
1 Deixe o seu comentário:
Julgo que os linguístas, os sociólogos e até os estudiosos de ciências políticas terão de incorporar nas suas abordagens e conceitos um novo elemento: o zunguismo. Passou de facto social a fenómeno social. E não apenas um fenómeno urbano... Hoje em qualquer aglomerado populacional com actividade pública ou moradores que não se ausentem para trabalhos isolados, como os campestres, há a presença do zunguismo... Disse-o e muito bem o professor calei que encontrou zuingueiras no Bailundo, pois, eu digo que encontrei na Munenga que é uma sede comunal e na Pedra Escrita que é apenas uma aldeia de camponeses.
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