Era dia do teste político-ideológico, a última etapa para se jurar a bandeira e atribuir patentes a um grupo de recrutas. Era impensável chumbar, mas o que todos almejavam mesmo era dar a resposta mais convincente e, consequentemente, ganhar o título de sargento mais honrado.
- A CINQUENTA METROS DE UM BATALHÃO INIMIGO, O QUE É QUE FARIAS? – perguntava o instrutor.
E a maioria respondia mais ou menos assim:
- Bem, chefe, considerando que as armas, mesmo a farda até, custam muito caro, e uma arma na mão do inimigo significa duas armas contra nós, e também por isso e por aquilo… eu fugiria, perdão, faria um recuo estratégico.
Ia quase no fim a longa fila de mancebos e, volvidas duas horas, ainda estava por surgir a “resposta de honra”. Passaram quase todos, quase disse, até chegar a vez do mancebo tido como o mais burro do pelotão.
- MANCEBO, JORGE!
- PRONTO, ILUSTRE INSTRUTOR!- A CINQUENTA METROS DE UM BATALHÃO INIMIGO, O QUE É QUE FARIAS?
- OU MATO, OU MORRO, CHEFE!!!
Pronto!, estava encontrada a resposta da honra. Jorge recebeu a patente de oficial mais algumas regalias económicas. Intrigados pelo insólito, alguns colegas foram abordá-lo na caserna à noite:
- Mas tu és burro ou quê, ó Jorge, para dizeres que ou matas ou morres? Dar a vida, quando os outros se enriquecem com a guerra? – reprovou Esmeraldo.
- Ó Esmeraldo, eu queria dizer “OU FUJO PARA O MATO, OU FUJO PARA O MORRO!”. Só que tropa não fala muito. Agora, se vocês entenderam mal, a culpa não é minha. Pensam que sou burro, não??!!
(Adaptação de Gociante Patissa. Foi-lhe contada pelo amigo Higino há coisa de dez anos)
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Vitória ou morte, Venceremos... Assim nos ensinaram nouestros ermanos (cubanos). Lembras-te do Logo do Jornal do M que era produzido nos tempos do Maquis?
Era o VC. O programa de Rádio era AC. (vitória é Certa e Angola Combatente). Bons tempos (mesmo no ovo sinto que os vivi)!
Quem nasceu numa família poli+nesa de base (explico, cruzamento de político+camponesa) de base, acompanhou/viveu a estupidez da guerra. E por conseguinte toda a carga propangandística própria do comunismo. Não te esqueças, Canhanga, que a caneta era a nossa arma de combate...
Ouvia, com orgasmos ideológicos, o programa Angola Combatente. E aquelas canções patrióticas de carnaval: "itangi vietu viecelua, etu viene katuavitendele. Tuakaembile ofundanga" (os nossos problemas têm desculpa, os vossos para nós não contam. Fomos lançar pólvora).
O bom é que, finalmente, já não temos angolanos de um e de outro lado: só nos resta o mesmo lado, o do compromisso para o desenvolvimento, mas unidos.
Realmente, há vezes em que dá vontade de re-ouvir (no quarto trancado) aquelas canções... Ainda bem que estamos numa circunferência, sem lado... Ainda bem. Gostaria de ter um dia poder contar com narrações de experiências descomplexadas de irmãos que estve do "utro lado". Seria bom partilharmos, sem mágoas, estas NOSSAS experiências que poderão servir de escola aos nossos filhos para que possam dizer um dia e para sempre JAMAIS A GUERRA!
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