“O Manuel hoje vai à escola?”, questionou-me a proprietária do anexo em que vivo.
“Não, não vou à escola…”, respondi-lhe, curto e desconfiado.
“Então não vai sair…?”, insistiu com aquele sorriso mecânico, próprio de quem sabe o que quer apesar de tantas voltas.
“Não, não vou sair”, garanti, mas logo vi que eram apenas 18 horas, e emendei: “Não agora”.
“A tia queria falar com o Manuel…”, insiste ela como sempre, tratando-me por Manuel, como se não tivéssemos assinando um contrato de arrendamento (onde obviamente se pode ler o meu verdadeiro nome) antes de embolsar os meus lindos Dólares.
“Por mim, podíamos falar agora, se lhe dá jeito.”, saí com essa, usando a técnica “ocidental” de dizer à pessoa justamente o que quer ouvir.
Lá puxou duas cadeiras da sala dela, que fica a um passo da minha janela, ou seja, no quintal que partilhamos. Sentados frente-a-frente, tomou a iniciativa: “Bom, Manuel, eu já queria conversar contigo ontem, só que não deu tempo”, justifica ela.
Coloco-me, então, a fazer escuta activa. Sigo, paciente, o relato, inferindo que iríamos desembocar (apenas) na relação de vizinhos. Mas a kota surpreende: “É para falar do nosso contrato”.
Esforcei-me o máximo para disfarçar o que me passava pela cabeça. É que, curiosamente, a nossa relação perdeu o sentido afectivo (como é cultural de nós africanos, que temos um parentesco por afinidade muito amplo) por causa do desrespeito ao contrato. Tanto recalcamento, que do “bom dia”, “boa tarde”, não passamos. De um lado, o inquilino, cansado de esperar que a senhoria concluísse obras como se comprometeu, já lá vão 15 dos 18 meses; Do outro lado, a senhoria, vizinha por sinal, levando a vida na defensiva (“tipo nada”).
Bom, voltando ao ponto, diz-me a mais velha que o contrato termina dentro de três meses, e com isso, exerce a obrigação de sondar a intenção inquilino. Entretanto, curioso é o facto de se lembrar tão atempadamente desta cláusula quando, e o que seria mais fácil, desconhece o nome do cliente.
“Costumo ser sincero”, iniciei, “estou à procura de um espaço maior, mas está difícil…”
“Ahã!, para casar já, né?”, interrompeu-me, muito inconveniente para o meu gosto.
“… Não é por aí!”, repudiei como quem diz espaço maior é para casar, Caramba?! “É por causa dos meus papéis, já quase não há espaço na mesa. Se não aparecer até lá, penso estender o nosso contrato só para seis meses. Já não aguento um ano e meio”, abri o jogo.
“É isso mesmo! Também penso fazer contrato diferente, de seis-seis meses. Por isso, e como tenho uma conta com um mestre da obra naqueles lados do “Kamatondo”, então queria ver se adiantavas já seis meses, filho. Também já falei com o outro do anexo ao lado”.
Mais palavras, menos palavras, eu disse à senhoria que não tinha fundos para o adiantamento de seis meses, o que só conseguiria, provavelmente, no fim de Maio. Foi no fundo um truque, na esperança de que até lá consiga, de facto, um espaço maior para arrendar.
“Então, Manuel, já não vai dar para continuar, mas pode ficar à vontade nestes três meses que faltam. Só não queria surpreender”, sentenciou, como boa cumpridora de contratos que (não) é.
“Não, não vou à escola…”, respondi-lhe, curto e desconfiado.
“Então não vai sair…?”, insistiu com aquele sorriso mecânico, próprio de quem sabe o que quer apesar de tantas voltas.
“Não, não vou sair”, garanti, mas logo vi que eram apenas 18 horas, e emendei: “Não agora”.
“A tia queria falar com o Manuel…”, insiste ela como sempre, tratando-me por Manuel, como se não tivéssemos assinando um contrato de arrendamento (onde obviamente se pode ler o meu verdadeiro nome) antes de embolsar os meus lindos Dólares.
“Por mim, podíamos falar agora, se lhe dá jeito.”, saí com essa, usando a técnica “ocidental” de dizer à pessoa justamente o que quer ouvir.
Lá puxou duas cadeiras da sala dela, que fica a um passo da minha janela, ou seja, no quintal que partilhamos. Sentados frente-a-frente, tomou a iniciativa: “Bom, Manuel, eu já queria conversar contigo ontem, só que não deu tempo”, justifica ela.
Coloco-me, então, a fazer escuta activa. Sigo, paciente, o relato, inferindo que iríamos desembocar (apenas) na relação de vizinhos. Mas a kota surpreende: “É para falar do nosso contrato”.
Esforcei-me o máximo para disfarçar o que me passava pela cabeça. É que, curiosamente, a nossa relação perdeu o sentido afectivo (como é cultural de nós africanos, que temos um parentesco por afinidade muito amplo) por causa do desrespeito ao contrato. Tanto recalcamento, que do “bom dia”, “boa tarde”, não passamos. De um lado, o inquilino, cansado de esperar que a senhoria concluísse obras como se comprometeu, já lá vão 15 dos 18 meses; Do outro lado, a senhoria, vizinha por sinal, levando a vida na defensiva (“tipo nada”).
Bom, voltando ao ponto, diz-me a mais velha que o contrato termina dentro de três meses, e com isso, exerce a obrigação de sondar a intenção inquilino. Entretanto, curioso é o facto de se lembrar tão atempadamente desta cláusula quando, e o que seria mais fácil, desconhece o nome do cliente.
“Costumo ser sincero”, iniciei, “estou à procura de um espaço maior, mas está difícil…”
“Ahã!, para casar já, né?”, interrompeu-me, muito inconveniente para o meu gosto.
“… Não é por aí!”, repudiei como quem diz espaço maior é para casar, Caramba?! “É por causa dos meus papéis, já quase não há espaço na mesa. Se não aparecer até lá, penso estender o nosso contrato só para seis meses. Já não aguento um ano e meio”, abri o jogo.
“É isso mesmo! Também penso fazer contrato diferente, de seis-seis meses. Por isso, e como tenho uma conta com um mestre da obra naqueles lados do “Kamatondo”, então queria ver se adiantavas já seis meses, filho. Também já falei com o outro do anexo ao lado”.
Mais palavras, menos palavras, eu disse à senhoria que não tinha fundos para o adiantamento de seis meses, o que só conseguiria, provavelmente, no fim de Maio. Foi no fundo um truque, na esperança de que até lá consiga, de facto, um espaço maior para arrendar.
“Então, Manuel, já não vai dar para continuar, mas pode ficar à vontade nestes três meses que faltam. Só não queria surpreender”, sentenciou, como boa cumpridora de contratos que (não) é.
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Amigo Patissa,
Junta as migalhas, paga a renda mas trata tb de comprar um terreno (se ainda não tens) e vai: bloco a bloco, grão a grão, erguendo o teu castelo. Não te enerves se alguém te jogar pedras. Com elas construas o teu Castelo.
Já tive casa e agora pago renda... Mas a primeira coisa que fiz foi construir uma na minha fazenda e comprar um terreno em Luanda, onde aos poucos vou colocando pedras e outros inertes. Já diziam os Ndengues do Kota duro que "na casa de renda o sonho nunca acaba"...
Na próxima semana, se tudo correr como deve, já terei um novo espaço para morar. Não é grande nem responde aos meus desejos, mas é maior que o espaço onde ainda moro.
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