João
Fernando André*
“O que cuspimos ou urinamos
enche-nos de maravilhas.”
enche-nos de maravilhas.”
(Adriano Mixinge)
Para
concebermos os termos “Batuque” e “Batuqueiro” na obra «O OCASO DOS PIRILAMPOS»,
precisamos [de] entender, a priori, alguns conceitos atinentes à Linguística,
particularmente, ligados à Lexicologia e à Semântica: Termo; Neologismos; Tipos
de Neologismos; Sema; Extensão e Intensão semânticas. Assim, é nosso desiderato
defini-los na visão de alguns estudiosos de linguística, a começar:
1. Termo
Dubois
et al. (1973:586), na baila da Sintaxe, dizem que termo é a palavra que, em
algumas frases, assume uma função determinada. Quando se quiser fazer uma
descrição duma determinada forma, o mesmo emprega-se, nalgumas vezes, como
sinónimo de unidade lexical, palavra, pois o termo implica uma forma definida
pelas relações do elemento com outros da mesma estrutura.
2. Neologismo
De
acordo com Dubois et al. (2006:431), chama-se neologismo «toda unidade de
criação recente ou aquela importada há pouco de uma língua diferente, ou todo
sentido novo de uma palavra já antiga». Xavier e Mateus (apud Chicuna,
2014:51), assemelhando-se à ideia de Dubois et al., fortalecem a ideia de que
toda a criação recente de uma unidade lexical numa determinada língua, ou a
nova interpretação de uma palavra já existente na língua é definida como
neologismo. Os mesmos autores explanam que por neologismo entende-se também
como a unidade lexical que, oriunda duma língua estrangeira, é adoptada por
outra língua.
2.1. Tipos de neologismos
Para
Caiado (s/d), existem quatro tipos de neologismos, a citar: neologismo
fonológico; morfológico, sintáctico e o semântico.
2. Sema
Para
o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua
Portuguesa (versão 2.0a, 2007), denomina-se sema a cada unidade mínima de
significação, que, combinada com outras, define o significado de morfemas e
palavras, pode também ser o traço semântico ou componente semântico.
3. Extensão e
Intensão
João Fernando André (foto: Neovibe) |
Em semântica,
na visão das estudiosas Lopes e Rio-Torto (2007:23), a «Extensão» está ligada
às classes de referentes ou denotados de uma unidade lexical, e a «Intensão»
está ligada às propriedades semânticas de uma unidade lexical (vulgo
“palavra”).
Explanados
os conceitos relevantes para se compreender os termos «Batuque» e «Batuqueiro»,
na nossa visão, com a ajuda dos linguistas supracitados, passamos a defini-los,
na obra em estudo, como Neologismos Semânticos, ou seja, uma palavra já
existente no léxico português que, inserida em “O OCASO DOS PIRILAMPOS”, de
Adriano Mixinge, ganha novas significações de acordo com o contexto de emprego.
Em
seguida, passamos por apresentar quatro exemplos em que o escritor emprega
ambos os termos:
(1)
“Com o batuque passei a ter em minhas mãos todos os
pesadelos.”
(2)
“O batuque é a
fonte de todos os rios do poder.”
(3)
“Somos os novos
batuqueiros.”
(4)
“Eu sou o batuqueiro, (…) o homem de todas as cores.”
Em
(1), o termo “batuque”, ora neologismo semântico, lexicologicamente, terá as
significações de: “poder”, “cargo” e “chefia”. Semanticamente, assim, poderá
ter a extensão e a intensão de [+abstrato]; [+pertença dos políticos];
[+confiança] e [+poder executivo].
Já
em (2), a unidade léxica “batuque” equivalerá a “dinheiro” e “recursos naturais”.
Desta feita, em semântica, terá as propriedades ou traços semânticos de
[+concreto]; [+da terra]; [+recursos minerais]; [+petróleo] e [+diamantes].
No
caso de (3), o significante “batuqueiros”, associado ao adjectivo ou
qualificativo “novos”, será o plural de “(novo) batuqueiro”, neologismo
semântico e sintáctico, que será compreendido, na égide da lexicologia, como
“novo(s)-rico(s)” e “novo(s) representante(s) do poder executivo”. De acordo
com a semântica, este neónimo possuirá os traços de [+concreto]; [+dinâmico],
[+do ser humano].
E
no contexto de (4) – o item lexical será um sinónimo de “deus”, “chefe”, “soba”
e “representante”. À luz da semântica, será detentor dos traços de: [+/-
concreto]; [+/-dinâmico], [+divino].
Em
forma de conclusão, podemos dizer que o escritor utiliza ambos os termos para
representar ou designar o poder e aquele(s) que o possui(em) em Angola.
Outrossim, pelas várias representações mentais que os indivíduos leitores da
referida obra possuem, no que tange ao conceito de “batuque” e “batuqueiro(s)”,
poderão chegar à prototipicidade e contextualidade (semântica) e a neologia
(lexical), dando novos significados às referidas unidades léxicas, como:
batuque: n. poder, n. (nome) dinheiro, n. domínio, e batuqueiro: n.m (nome masculino)
bandido, n. m. ladrão e n.m. gatuno.
*Professor,
ensaísta, crítico literário e escritor
Cartaz original: Embaixada da República de Angola em Portugal
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