Benguela - O
escritor angolano Gociante Patissa criticou, nesta terça-feira, na cidade de
Benguela, o modelo de "mediatização" empreendido por alguns jovens
que querem entrar no mundo literário, sem ter em conta que o ofício exige
prática constante, auto-superação e amadurecimento.
Angop,
Benguela, 23 Abril de 2019
Gociante
Patissa, que falava à Angop, a propósito do Dia Mundial do Livro que hoje (23
de Abril) se assinala, afirmou que, ao invés de olharem para o trabalho de
escrita como um ofício que exige profissionalismo, alguns jovens quando pensam
em escrever sonham apenas com a mediatização, descurando o conteúdo das suas
obras.
“Desta
forma o novo escritor não estará interessado no crescimento profissional, mas
sim na produção de um dado livro, o que não é profissionalmente salutar”,
disse, frisando que se deve olhar para escrita como um trabalho mais sério,
rigoroso, mais abrangente do que o simples lançamento e comemoração da obra,
pois carece de seriedade e profissionalismo.
O
escritor opinou que, apesar da actual conjuntura menos boa, está esperançado,
aliás a província de Benguela faz parte do todo nacional que tem uma
especificidade própria, fruto da realidade económica que Angola vive.
Apesar
disso, indicou que a província de Benguela tem visibilidade própria que lhe
coloca logo a seguir a província de Luanda, em termos de movimento literário,
bastando olhar para o “frenesim” que se regista na região em termos de venda de
livros, principalmente nos finais de semana prolongados.
Por
outro lado, acrescentou, Benguela já teve uma editora, a “KAT” (falida) e,
hoje, a Acácia, uma editora de Luanda, escolheu Benguela como sua segunda
praça, o que tem estado a minimizar a situação, principalmente para obras dos
mais velhos já consagrados, apesar dos custos.
Em
relação aos mais novos escritores, reconheceu haver localmente pelo menos dez
jovens com um futuro promissor, porque apresentam uma veia literária muito
profunda.
“Há uns tantos por aí, que com um pouco mais de trabalho e
acompanhamento vão enriquecer o mosaico literário da província, de certeza
absoluta”, vaticinou o escritor já consagrado e com obras no mercado nacional e
internacional.
Insistiu na necessidade de maior organização no sector
literário. “Por aqui, o autor escreve, arranja dinheiro, uma editora e ele
mesmo promove e distribui a sua obra para ser comercializada, um modelo que não
funciona em qualquer parte do mundo”, frisou.
Segundo Gociante Patissa, pretende-se que Benguela beneficie de
políticas de Estado que incentivem a produção literária e a redução do custo do
livro, de modo a torná-lo mais atraente.
Sobre os direitos de autor, afirmou que funcionam apenas do
ponto de vista de legislação, mas que a sua implementação prática não se
verifica.
Lembrou a sua participação no projecto dos “11 Clássicos”, uma
iniciativa dos órgãos de apoio do gabinete do então Presidente da República,
José Eduardo dos Santos, do qual havia recebido uma soma de Akz 250.000,00 e
nada mais se lembra dos benefícios de qualquer direito autoral.
A
propósito, disse que em Angola não sabe se é possível um escritor viver da
venda das suas obras.
O autor Daniel Gociante Patissa nasceu na comuna do Monte-Belo,
município do Bocoio, província de Benguela, em Dezembro de 1978. Tem
licenciatura em Linguística, especialidade de Inglês, pelo Instituto Superior
de Ciências da Educação da Universidade Katyavala Bwila (ex-Agostinho Neto).
É membro
efectivo da União dos Escritores Angolanos. Foi o laureado do Prémio Provincial
de Benguela de Cultura e Artes 2012, na categoria de Investigação em Ciências
Sociais e Humanas “pelo seu
contributo
na divulgação da língua local umbundu, na perspectiva das tradições orais,
através do conto e novas tecnologias de informação e comunicação”.
Já
editou publicou seis livros, dos quais, Consulado do Vazio (poesia), A Última
Ouvinte (contos), Não Tem Pernas o Tempo (novela), Guardanapo de Papel
(poesia), e Fátussengóla, O Homem do Rádio que Espalhava Dúvidas (contos) e O
Homem que Plantava Aves (contos).
O Dia
Mundial do Livro e do Direito de Autor (também chamado de Dia Mundial do Livro)
é comemorado todos os anos no dia 23 de Abril, desde 1996, numa iniciativa da
UNESCO para promover o hábito da leitura, a publicação de livros e a protecção
dos direitos autorais.
A data
foi escolhida porque a 23 de Abril de 1616 morreram Miguel de Cervantes,
William Shakespeare e Garcilaso de la Vega. Para além disto, nesta data, em
outros anos, também nasceram ou morreram outros escritores importantes como
Maurice Druon, Vladimir Nabokov, Josep Pla e Manuel Mejía Vallejo.
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