“Aló, compadre. Não se ouve só assim bem. Será que estás na baixa? É como?”
“(…)”
“As crianças estão bem ainda, graças a Deus. Assistem bonecos, se peidam, saem e voltam sujas da brincadeira na lama da chuva, vão na escola, é porque saúde ainda está lá…”
“(…)”
“Ah, ligaste, né, compadre? Ya, estive ainda aqui no trabalho a ouvir as enfermeiras…”
“(…)”
“Estão a falar de noite na maternidade não houve luz, aquilo as grávidas é lhes levar para parir no Banco de Urgência. Parece é onde tem um kagerador pequeno. Aqui mesmo no Central, compadre…”
“(…)”
“Se já comecei a trabalhar? Ah, até, não, meu compadre. Tenho mesmo aquele kanegócio só de ginguba torrada. Às vezes, quando nos legumes não passo, vendo frutas. Quando o dinheiro morre lá, volto mais na ginguba. É assim mesmo, para não chegar em casa e as crianças estão a olhar a mãe com as mãos a abanar…”
“(…)”
“Se agora estou a vender aonde? Aqui mesmo no portão do hospital. Tem sempre esses que trazem doente e ficam com fome, então ginguba tem saída… A minha forma de roubar é mesmo esta, compadre… É trabalhar para os filhos amanhã minimamente ser alguém na vida, não ser mais como nós…”
“(…)”
“Um momento ainda, compadre, bebé está a chorar. Não sei se é calor, mas esses dias também está só assim uma coisa… Ainda parece logo em casa vou-lhe dar um supositório… não quer xuxa, água também não aceita. Esses bebés de hoje se comportam tipo já são hipertensos, né?, compadre.”
“(…)”
“Como? Estou armada estes dias?”
“(…)”
“Ah, é verdade. O compadre também mudou muito. Aquilo que fizeste, compadre, não gostei nem só um pouco. Me deixou muito zangada. A pessoa não pode esconder, compadre.”
“(…)”
“Não atendo telefone porquê?”
“(…)”
“Só estou a falar por mensagem, né?”
“(…)”
“Ah, estou a guardar as palavras quando nos encontrarmos cara a cara. Assim se adiantar já no telefone, senão a raiva vai-me acabar, compadre.”
“(…)”
“Falo coisa que dói, né? Mas é a verdade, compadre. A verdade dói, né?”
“(…)”
“Nessa vida já fomos moles. Vi que moleza não resolve, compadre…”
“(…)”
“Olha dizem que a verdade dói, mas também cura…”
“(…)”
“Mas é assim, ó compadre. Vou desligar. Tem cliente. Um dia vamos falar pessoalmente aquele assunto, ya? Porque no telefone, senão assim, a minha raiva vai-me acabar. Numas horas, ya?
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 27.03.2018
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