“Dá licença, irmão?”
“A paz do senhor, irmão! Chega mesmo
aqui na sombra do onjango. Sabes já que nesta fase de calor, dentro de casa é
um forno, só dá mesmo para dormir, não é isso?”
“Pois é, irmão. Ainda mais com tecto
falso, aquece de que maneira.”
“Vai alguma bebida? Uma cisângwa, uma
gasosa, uma água?”
“Cisângwa está bom. Depois a nossa
cunhada sabe mesmo preparar com ombundi, a pessoa até fica tipo é criança que
volta da escola no colo da mãe dela heheheh.”
“Mas e como é a saúde?”
“Vai bem, graças a Deus. Ainda nada
temos para fazer acusações. E do vosso lado?”
“Vamos na graça do Senhor. Se dependesse
dos homens, não sei o que seria nesse mundo de conflitos e doenças. Mas vem só
mesmo visitar ou tem uma palavrinha?”
“Bem, as duas coisas…”
“Estou a ficar preocupado, o irmão
parece sério. Há algum problema?”
“Problema, problema, não. É assim irmão.
Em meu nome, em nome da minha esposa e dos meus filhos, queremos transmitir a
nossa gratidão pelo apoio. E assim sendo, decidimos devolver o terreno que o
irmão nos ofereceu naquele tempo…”
“Como assim?! Há alguma mágoa ou
ressentimento, irmão?”
“Bem…”
“Assim já é problema das nossas
mulheres, não é? Eu sabia!!! Mas as mulheres são porquê assim, oh meu Deus?!”
“Assim como? Está a falar de quê,
irmão?”
“Que na hora de namorar são bonitas e
boas conselheiras, mas bastou só se instalarem no lar estragam as boas relações
encontradas com trocas de palavras?”
“Calma, irmão! Pede ainda desculpas à cunhada,
pelo mau juízo que lhe fizeste. Filha alheia. Não disse nada nem estragou
nada.”
“Mas então como é que o irmão, assim
mesmo do nada, vem devolver o terreno que oferecemos?! Isso nunca se viu,
vai-me desculpar, irmão, mas não vai dizer que foi uma decisão assim de pé para
a mão. Põe-te ainda no meu lugar, faz favor…”
“Tens razão. Uma decisão de pé p’ra mão
não foi. O irmão nos acolheu com a oferta do terreno para construirmos e
iniciarmos a nossa vida, certo?”
“Afirmativo…”
“O irmão recorda aquele concurso interno
na empresa para mudar de categoria e passar a auferir um salário mais condigno,
que fiz testes e só faltava assinar o contrato?”
“Sim, lembro…”
“Pois, irmão. Aquilo ficou anulado, a
empresa entrou em banca rota…”
“Oh, meu irmão, que triste…”
“Lembra daquele processo de crédito
bancário, que deu entrada há quase cinco anos? Ficou sem efeito, houve
desfalque no banco e aboliram os créditos.”
“Que provação, irmão!…”
“Está a ver a bolsa do INAGBE que
aliviaria as propinas das crianças? Não avançou…”
“A pessoa até só não chora porque parece
que o tal vaso das lágrimas está seco…”
“Por isso pensamos assim: o irmão nos
deu o terreno para construir. Passados quatro anos, nada fizemos nem temos
esperanças de conseguir meios. O mais sábio é devolver, pode ser que tenha
outra ideia para dar um fim melhor…”
“Mas não podiam pelo menos vender e
ajeitar a vida com o dinheiro?”
“Mas, irmão! Isto seria gozar com o seu
bom coração. Não o recebemos para vender…”
“Mas, me fala só uma coisa, irmão. Vocês
são mesmo deste mundo?!”
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Gociante Patissa, 22 Janeiro 2018
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