No
passado mês de Novembro, o escritor angolano Gociante Patissa abriu uma oficina
literária que visava ajudar a limar potenciais talentos no mundo da escrita.
Apesar de ter nascido em Benguela, província onde reside o escritor e mentor do
projecto, através do seu blog, a iniciativa foi abraçada e dela participaram
não só ‘‘mecânicos’’ da cidade de Ombaka, mas também de outras
províncias como Luanda e Huila.
A
oficina, a terceira organizada pelo escritor, permitiu limar potenciais
talentos revelados através de contos, crónica e poemas, sendo este último o
género mais explorado. A oficina, sendo uma
oportunidade de capacitação e lapidação de talentos,
foi marcada por uma ausência arrepiante de mulheres. Para atraí-las a
participar, o coordenador da oficina ofereceu até uma sessão fotográfica
gratuita, mas o silêncio tumular ainda assim bramiu alto. Outra ausência que
não passou-me despercebida e contrasta com a existência de movimentos
literários com expressão na nossa urbe, é a de muitos jovens que se identificam
e têm ligação com os referidos movimentos. Entre o medo e a disciplina
partidária que proíbe participações em actividades semelhantes fora do seu
âmbito, prefiro crer que tenha vencido a primeira hipótese.
Tenho
certeza quase absoluta que se Patissa tivesse convocado jovens para uma drena
básica, uma chupeta básica, uma farra básica e mais sei lá o quê, a adesão
seria quase insuportável por si. Uma revelação clara da consciência pobre e
infeliz que temos sobre cultura. Limitamo-nos ao básico. Tudo básico e baixo.
Invertemos tudo. Lá se foram os tempos em que aquilo que alimenta o espírito, a
imaginação, a inteligência era o fundamento da existência. Hoje é fundamental
aquilo alimenta só o corpo. Talvez por isso tenhamos corpos sarados a transpirarem
catinga como: «Tenhem, divede, etc». Já
não mete vergonha, chegar-se ao nono ano sem saber ler e escrever, sem saber
fazer uma redação, sem saber fazer uma interpretação. Já não entristece
terminar o ano civil sem ler um único livro. Lá se foi o tempo em que os
concursos de poesia e de cultura geral entre os jovens e adolescentes eram
realmente cheios de significado.
Agora
vocês percebem por que motivo o Patissa, na sua benevolência, tenta ajudar e
até oferece um bónus, mas tem uma adesão precisando de mais abraço!? Vocês
percebem por que motivo um escritor aqui na banda precisa quase de ir a uma
vigília religiosa ou mesmo ir banhar-se nos quimbandas para vender seus livros
e cantor de futilidades, alienador de mentes ou organizador de eventos de
vagabundagem terem sempre incontáveis discípulos atrás de si?
É
preciso resgatar a nossa consciência de conceber a cultura.
Sem
outro assunto de momento, encerra a oficina da qual se lavrou a presente acta-crónica
que destapou até certo ponto a nossa alergia com as letra e os talentos não tão
lentos e que será felizmente assinada por aqueles que dela participaram e
infelizmente não assinada pelos que dela não participaram.
Rodino Sapateiro
SOBRE O AUTOR
Rodino Satelo Ngumbe, natural do Lobito. Professor, licenciado pela UKB, faculdade de Ciências da Educação. Exercita-se, há já alguns anos, escrevendo sobretudo crónicas e poemas.
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Assinado:
Madureira Kessongo Kanambi
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