«04H30», a peça do conceituado grupo Miragens
Teatro, vindo de Luanda, está em cartaz nos dias 25 e 26 de Julho na cidade de
Benguela, com a exibição às 20h00 e a mil kwanzas o ingresso. É baseada na tragédia da derrocada do edifício da
então DNIC (Direcção Nacional de Investigação Criminal), ocorrida na madrugada
de 29 de Março de 2008, onde pereceram soterradas mais de dez reclusas
confinadas nas celas da cave.
O
blog Angodebates assistiu à sessão de sábado (25), destacando-se pela positiva a
pontualidade, a iluminação, a acústica, a caracterização e o entrosamento dos
actores. E neste domínio, apuramos que o elenco incluiu seis actores residentes
para estimular a cooperação entre visitantes e anfitriões, sinergia que contou com a
Associação Provincial do Teatro e a Rádio Benguela. Nota negativa vai para a
assistência, que não passou da metade da sala. Espera-se por uma adesão maior
no segundo e último dia.
Esta
presença do Miragens Teatro, grupo fundado há 20 anos, dá o pontapé de saída à
injecção de energias às artes cénicas por Benguela. «Vamos continuar, queremos
um grande espectáculo de teatro no final de cada mês», garante a fonte do
Angodebates, que logo acrescenta: «estamos a pensar no próximo passo trazer o
Horizonte Njinga Bandi.»
A
peça teve a duração aproximada de uma hora de elevada carga emocional, tratando-se
aliás de uma história verídica e de final trágico já esgotada pela imprensa.
Sabe-se apenas que as mulheres, uma inclusive com bebé ao colo, morreram
soterradas, ao fim de vários dias de fracassada tentativa de resgaste. O que
terão dito, pensado ou feito nos momentos de agonia, só elas e a lei da morte
sabem. Nestes casos, a questão de retórica que o espectador, expectante,
colocaria é: o que há de novo para contar?
É ali que, quanto a nós, o aspecto artístico foi bem conseguido, num toque de ficção que instiga a audiência a reflectir sobre temas como a violência doméstica, a morosidade do sistema penal, e algum abuso de poder por parte de agentes da autoridade. A correlação entre o crime e a pobreza é patente no retrato psicossocial das reclusas, não se sabendo se propositada ou não, o que se infere, tanto pelos bairros de que são oriundas, como pelos hábitos alimentares. No final, é inevitável a sensação de narração inconclusiva, ficando várias pontas soltas, a exemplo do polícia que pôs a esposa na cadeia como castigo de fim-de-semana por ciúmes e tenta ao lado dos bombeiros reparar o erro.
Gociante
Patissa (texto e fotos), Benguela 25 Jul. 2015
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