Parafraseando o nosso astro da música
infantil, Pedrito do Bié, eu nasci no “mato”, depois vim viver para a cidade.
Então, tenho a educação do “mato” e tenho a da cidade. Mas, agora assim, quanto
ao ensino fica como?
No “linguajar da vulgo”, como diria um
velho companheiro, “educação” refere-se à transmissão de valores no lar, ao
passo que chamamos “ensino” à instrução recebida no ambiente escolar. Os
académicos, às vezes pedantemente, gostam de impor que num e noutro caso se
trata de “educação”, ou seja, a “formal” e a “não formal”. Eu, que já não gosto
de falar com sebentas à boca, fico mesmo pelo “linguajar da vulgo”.
Então é assim: moro já num anexo arrendado
no quintal de uma família que partilha o muro com uma escola, né? Vai da
primária até 9ª Classe. Fosse fontenário, e teríamos água em fartura. É
escusado dizer que, se fosse gerador eléctrico, era direito fazermos puxada (ou
gato, como se diz). Mas, a vizinhança com a escola só nos traz prejuízos…! Quando
chega o fim-de-semana é normal, mas de segunda à sexta…! Te pago se consegues
sair da cama acima das sete da manhã. Éh pá, é que aqueles miúdos são cá de um
barulho nos corredores da escola!!!
Eles "barulham” de tudo um pouco.
Umas vezes cantam, outras dançam, isso, quando não batem palmas, que estalam
como se viessem de tacos de madeira. E para completar a fotografia, vão umas
estridentes gargalhadas. Uma “mbwanjaria”, que só vista! Mas então, não há
medidas disciplinares?
Ainda há pouco, quando estacionava o carro
no parque, ouvi do outro lado da rua um “FILHO DA P…, Ó TREZEGUÉ!!!”. Era uma
mocinha, a poucos passos da sala, querendo atingir um seu colega. O que se
seguiu foram risadas de gente à volta, e pronto. Estamos aonde, afinal? Claro
está que é uma amostra apenas de milhares de outras escolas por essa Angola.
Posso ser (tão) ingénuo (quanto a minha
idade permite). Mas, enfim, não dá para esquecer a figura do Director
Pedagógico (e dos próprios directores de turma) nas escolas por onde passei. Já
não falo do Director, “autoridade” que só por “milagre” interagia com os
estudantes amigavelmente. E aos que virem nestas linhas apenas “conflito de
gerações” deixo-os à vontade. Como, aliás, realçou um jornalista de Benguela,
não entramos nessa coisa da escrita à espera de unanimidades. O facto é que,
hoje, o comportamento de jovens e adolescentes na escola, generalizando, é
bastante preocupante.
O Ministério da Educação tenciona inserir
no currículo escolar a disciplina de Direitos Humanos. No entender de um colega
nestas lides de sociedade civil, “é muito má ideia”. Receia que se venha a
banalizar a abordagem, tal como aconteceu com a Educação Moral e Cívica. É garantidamente
um fiasco a EMC render-se à lei da “gasosa”, em que o aluno suborna para ter
boa nota. Alternativa seria, defendia o colega, criar e capacitar associações
de estudantes para o exercício da cidadania, e não ficar-se pelos apontamentos
e papaguear.
Um professor de filosofia, quando
andávamos no Puniv em 1996, dizia que a escola era do “Ministério do Ensino”,
da educação é que não! Inferíamos da sua indignação a corrosão de valores, da
qual a escola é simultaneamente a vítima e a promotora. E a tendência é
piorar. Haverá como inverter isso?
Gociante Patissa, Benguela 15 Julho 2010
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Amigo Patissa, tal cmo o dizes, e bem dito, para mim o Ministério é do "Ensino Formal/Instrução". A Edcação, esta que como a irmã ensino andam de mal a pior é o que a família e a sociedade nos passam de forma informal.
Preocupante, de facto.
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