Com acções isoladas
não se promovem hábitos de leitura. Olá! Começo a reflexão breve de hoje nesta
rubrica de forma apriorista a respeito do tão propalado desiderato de
massificar os hábitos de leitura. O que não falta são boas intenções, felizmente,
só que estas acções, para darem frutos, precisam de um olhar holístico. Por exemplo,
é frequente, para quem está neste mundo da escrita, receber convites para
participar em feiras e/ou oferecer exemplares para tais eventos ou campanhas de
doação de livros. São gestos levados a cabo por organizações, algumas
informais, outras vinculadas a instituições de ensino, geralmente em datas
comemorativas. A lógica parece ser a seguinte: se a pessoa escreve, logo tem
exemplares em casa. Ora, tendo exemplares e carecendo de ser lida, a pessoa
ganha doando os seus livros. E em parte até faz sentido. Só mesmo em parte, uma
ínfima parte. A questão é que o livro funciona um pouco como ocorre - perdoem-me
a analogia - naqueles casos em que o homem se queixa de a sua parceira não aceitar/gostar
de usar o preservativo nas relações sexuais. Só que depois, vendo bem, a gente
questiona se alguma vez o uso da camisinha foi tema de conversa e a resposta é
negativa. Ora, então não deveria o artigo ser objecto de conversa permanente? Com
o livro é mesma coisa. Se não se fala do livro constantemente, da sua
importância e de como instiga a reflexão ou o humor, de nada adianta impingi-lo
“à queima-roupa”. Não é por ser dado de presente que se torna mais atractivo. Os
hábitos de leitura passam também e fundamentalmente pela promoção da leitura
como lazer. O caricato é que muitas destas organizações “solidárias” que
solicitam aos autores/escritores livros de oferta não têm, em boa verdade, relação
de amizade com o livro nem com a dimensão lúdica do mesmo. E como quase nunca se
sentem motivadas a marcar presença em sessões de lançamento e autógrafos, oportunidades
públicas e soberanas de manifestar algum apoio moral e aproximação ao autor, também
não se percebe que há uma vertente económica no processo de edição do livro.
Não se leva em conta que a despesa é do editor, que não conta com incentivos nem
do Estado nem do sector empresarial (na ausência da lei do mecenato); que e o escritor
só ganha menos de 20% da venda por livro, tendo de pagar do próprio bolso cada exemplar
que ofereça ou as deslocações para presenciar feiras. Resumindo: a oferta não
devia ser induzida. Ainda era só isso. Obrigado.
Daniel Gociante
Patissa | Catumbela, 30.03.2019 | www.angodebates.blogspot.com
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São os sinais do tempo, com estas novas tecnologias, não me parece que os jovens optem pela leitura de um livro.
Eu cá vou lendo.
Abraço.
Realmente, caro Manuel Luís.
Forte abraço
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