sábado, 9 de março de 2019

Carnaval de Benguela | QUAL SERIA A MISSÃO DO CARNAVAL DE HOJE?


Gociante Patissa (*)


Escrevo estas linhas a pedido do Folha-8 pouco após a divulgação dos resultados do desfile provincial 2019, que volta à sua forma tradicional quatro anos depois, pondo fim à municipalização “imposta” durante o consulado do governador Isaac dos Anjos, na base da qual sete dos dez municípios competiam no interior.

Só muda o tempo verbal. O dono do pódio é uma constante: Bravos da Victória, do município da Catumbela. Quando se falasse do Carnaval, na província de Benguela, vinha sendo assim até ao ano 2015, quando o grupo suspendeu a sua participação nos desfiles, por entender que não havia concorrente à altura na categoria municipal. Os Bravos da Victória chegaram a desfilar (sem concorrer) na Nova Marginal da Praia do Bispo no Carnaval de Luanda em 2018.

O prémio maior na classe adulta vai para quem? Adivinhem! Bravos da Victória, com 542 Votos, ficando na segunda posição, o Bloco Amarelo com 500 votos (vencedor da edição municipal 2015), que se estreou há alguns anos como bloco de animação. Em terceiro lugar ficou o município do Cubal com os 442 Votos arrebatados pelo grupo Irene Cohen (vencedor da edição provincial 2015). Na classe infantil, sagrou-se vencedor o município do Bocoio, com 442 Votos, seguindo do Lobito, com 378 Votos e mais uma vez o Cubal no pódio por intermédio do Grupo Dr. António Agostinho Neto, com 362 Votos.

Com lugar cativo no pódio, os Bravos da Victória reeditam a hegemonia do grupo da Hanha do Norte, com a diferença de aquele ter sido um fiel tradutor etnográfico do seu meio. A questão hoje a colocar é cristalização dos padrões, já sem falar das músicas de disco e o playback, com figuras simbólicas como Reis e Rainhas desgarrados da nossa idiossincrasia. O que pretende o carnaval de hoje e qual a sua missão no que respeita às representações sociais e culturais do povo que o dança? São questões que quem testemunhou as décadas de 80/90 do século 20 continua a colocar-se. De sorte que temos de esperar a edição seguinte do carnaval para ver as danças que não encontram vez nas manifestações do dia-a-dia, como sejam o casamento, o nascimento, o óbito e a circuncisão.

(*) Escritor. Residente em Benguela. FOLHA-8, pág. 36 |Luanda, 09 de Março de 2019
Fonte da foto: Capoco News
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