Vejo crescerem na última década indicadores preocupantes de um novo perfil de actores sociais: (1) A prática de um activismo oco em bagagem intelectual, assente no puro entusiasmo, na auto-promoção, na teoria da conspiração e no monopólio da verdade absoluta, substituindo a reflexão pela polémica crónica (não poucas vezes imatura e avessa à elevação de se retratar quando se falha ou se falta com a verdade em uma determinada intervenção). Vai caindo em desuso aquela consciência cidadã e pedagógica de expor a mensagem com a devida coerência discursiva e a correcção ortográfica/gramatical, brindando-nos as redes sociais com o poder conferido a todo o cidadão de ser automaticamente emissor/editor. Não faltam comunicadores sem o hábito sequer de (re)ler os seus próprios textos, já para não tocar no quesito "lógica". Parece haver uma espécie de torneio de quem desleixa mais. Só de pensar que no passado os professores chegavam a dar palmadas por erro na ortografia... (2) Por outro lado, despontam estudantes e fazedores de opinião passivos, que agradecem cada informação recebida, do género quem queixar primeiro é que tem rezão (no lugar do instinto de pesquisar a veracidade num google, por exemplo, sendo por isso alvos fáceis e retalhistas de piadas e falsas notícias vendidas como informação séria, já que em muitos casos também o leitor não passa do título da matéria). E perante um problema a debater, a escolha emotiva do lado a defender antecede a construção do argumento. E há quem creia que um palestrante charmoso, bem maquilhado, é a chave para tudo, até para clarificar o óbvio, o provérbio, o aforismo. Enfim...
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