terça-feira, 5 de março de 2019

(arquivo) Diário | MAS JÁ FOSTE AO QUARTO DELE. OU NÃO?

(I)
“Mas, filha! Esse vosso namoro afinal é como, tanto tempo que até já passou – estou a contar mesmo bem – do total dos anos que andou cá o colono português?”
“Assim mais é o quê?! A mãe também chateia muito…”
“Chateia? Mas isso mesmo é homem, que nunca só dá pelo menos a cara nas pessoas que trouxeram ao mundo a miúda que constantemente faz com ele…?!”
“MÃE!, faxavori, pára só, ya? Estou a ver já aonde estás a ir com a conversa…”
“Estou cansada, filha! Você dorme com o inimigo. Porque é essa a palavra. Ah porque fomos no KFC; ah, ah porque jantamos no Angry Lion. Ó filha, já viste como entre você e o frango não há diferença? É só comer… não se pergunta mais os pais…”
“Não exagera só mãe. Ele vai cumprir com a tradição. Há-de chegar o dia…”
“Esse dia então é quando?! Mas já foste ao quarto dele. Ou não?”
“Claro que já, né, mãe?!”
“E quem construiu a casa?”
“Mas para quê que vou saber isso… se não sou pedreira?”
“Estás a ver as nossas filhas?!… É só ku-duro nesta cabeça… Lá ninguém te valoriza, senão te contavam a história da família.”

(II)
“Mãe! Não viste a visita?! É assim que se atende?! Depois fala que não apresento…”
“Este assim é quem? É outro que veio cobrar a dívida do cabelo brasileiro que a alma d’outro mundo que o teu quase-namorado promete assumir mas nunca chega a pagar?”
“MÃE! Ca-la-a-boca! Por favor, não me faças entrar no chão…”
“Será que falei demais, né?…”
“É ele…”
“Ele mais quem, então?”
“O meu boy. Finalmente estás de cara-à-cara com ele! Boy significa namorado.”
“Ah, entendi. Namorado que só ocupa não toma decisão de casar então é boi, né? Eu diria, até, boi malandro, mas pronto já...”

(III)
“Muito prazer, mãezinha.”
“Tens tido demais, até. Imagino. E como se chama o filho?”
“Nascimento da Cunha…”
“Ah, quer dizer que o jovem é que está a estragar o país, né?…”
“Como?”
“Comendo lá ou não, filho, Angola ficou marreca de tanto levar a cunha na cabeça…”
“Hahahah. Adoro o sentido de humor da mãe…”
“E o filho Falecimento trabalha?”
“Nascimento!”
“Ah, desculpa. Nascimento, Falecimento, tudo passa no viver. Trabalha aonde?”
“Na ENDE e colaboro com a RNT… Sou despachador-chefe. Ligamos e desligamos as linhas de luz consoante solicitação de corte para restrições de racionalização…”
“Afinal é o pai que fez queimar a minha arca do negócio de gelado de múkwa?”
“Não é por aí, mãezinha…”
“ACABOU! JOVEM! EM NOME DO POVO ANGOLANO, SAI AGORA MESMO DA MINHA CASA, OK?!”

www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Lobito, 5 Outubro 2017
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