sábado, 31 de março de 2018

Em linha tortas (40)

Depois de algum adiamento, enchi-me de coragem e comprei hoje o livro mais recente do historiador Armindo Jaime Gomes (ArJaGo), na livraria apensa à estação de comboios na Restinga do Lobito. «Ovimbundu Pré-Coloniais - Contribuição ao Estudo sobre os Planálticos de Angola», 352 páginas, 2016, é um ensaio académico/didáctico (não obra literária, como é moda designar tudo o que é livro). Desde já promete, atendendo os antecedentes do autor, que agora empreende encabeçando o Centro Académico Cultural Umbombo, sob a chancela editorial da qual sai a obra. Como consumidor, não posso deixar de lamentar o preço, 4 mil kwanzas, que é assim um tanto puxado. Aliás, uma volta transversal pelo preçário naquela livraria, que não deve andar distante das demais, remete à triste constatação de os livros estarem condenados a ser repelentes, numa sociedade com já tão baixos níveis no hábito de leitura. Concorrem para um tal culturalmente tétrico contexto os altos custos de produção, num mercado cronicamente dependente de importações, com as editoras a não fazerem mais do que intermediar entre o bolso do autor e a gráfica. Definitivamente, enquanto não se reactiva a indústria do papel, ou o Estado subvenciona a produção livreira, atendendo a tudo de crucial que o livro representa no desenvolvimento de uma nação, ou continuaremos a assistir ao encerramento progressivo de livrarias, servindo-nos de consolo talvez o crescimento da indústria cervejeira e a revelação de kuduristas em vagas já bem superiores à de cogumelos em época de chuva. Como nota e rodapé ressalte-se que ArJaGo, também poeta e prémio António Jacinto 1998 (dedicado a estreantes), para além de sócio da editora KAT (de Kajibanga, Armindo e Tuca), é dos poucos académicos que fazem ciência, entendida como produção do saber e não apenas a reprodução dele por via das aulas. Lamenta-se por outro lado a ausência da biografia do autor, pois seria sempre um importante acessório para que o leitor que nunca tenha ouvido falar dele possa aferir a competência e a sua autoridade sobre o tema. Não se sabe se foi fruto de alguma falha ou pura intenção. Dados oficiais disponíveis indicam que nasceu no Kuito, Bié, Angola, no ano de 1962. É licenciado e mestre em ciências de educação no ISCED - Lubango e na Universidade de Évora, variantes História e Administração Escolar, dedicando-se à docência de História de Angola desde 1997, sendo um dos pioneiros no ISCED de Benguela.

www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Lobito, 31.03.2018
Share:

0 Deixe o seu comentário:

A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

Publicações arquivadas