sábado, 28 de fevereiro de 2015
Diário| «Beijem-se, homens, que isso dá prémios»
Diria alguém diante da notícia do galardão do
Prémio Moda Luanda, atribuído ao luso-angolano Pedro Hossi, na categoria
de melhor actor, ele que se viu recentemente envolvido em polémica por beijar
outro homem numa telenovela em curso no canal público (aberto). De verdade ou a fingir,
«beijem-se, homens, que isso dá prémios»
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Diário| Muito mais do que a flexibilidade dos nossos quadris
Uma
revista luandense (citada pelo programa Dia-a-Dia, da TPA, hoje) destaca a
afirmação de mais um caso de internacionalização de talentos angolanos, desta
feita a jovem modelo de 19 anos que atende pelo nome de Amilna, a brilhar nos
tapetes vermelhos de Nova York, que é como se sabe uma importante montra para
quem sonha realizar-se no mundo da moda. Viva!, diria eu, não fosse a já
previsível recorrência. Mas não nos podemos destacar por mais uma outra coisa, algo
diferente digo, ali pelos States (a excepção de um cineasta ligado a Hollywood,
salvo erro)? Os "nossos" irmãos "langas" (República Democrática
do Congo), a quem o nosso populismo tanta troça faz, têm nos EUA professores
universitários, para não falar de Lokua Kanza, a estrela mais cosmopolita da
música africana, que tanto projecta os traços identitários do seu povo na “world
music”. E já agora, esta tão celebrada expansão da kizomba, a nossa dança
sensual, não podia abrir portas para vendermos outras manifestações
intelectuais que não tenham necessariamente a ver com o talento que temos em
abanar os quadris? Se calhar dava para alargar o campo do lobby (que apadrinha
o ku-duro, as novelas e outras coisas mais "rosadas") e exportar a
nossa literatura traduzida para inglês, mesmo até aproveitando a nossa
comunidade estudantil lá, ou não? De repente iríamos a tempo de mostrar “à
África e o mundo” - como diria o velho jargão - que somos muito mais do que aquilo
que a flexibilidade das nossas cinturas revela.
Gociante Patissa, Benguela, 27.02.15
Diário| A mulher preferida do outro
"Doutor,
doutor, bom dia!"
"Bom dia, mano. É como?"
"Gostei de ver há dias publicidade sobre teu livro."
"Ah, na televisão?"
"Ya. Possas, Dr... Não... Por acaso, Dr...! Onde posso encontro os
livros?"
"Na Texto Editores ali do jardim milionário, no Kero e na Tabacaria
Grilo."
"Porque eu, Doutor, praticamente a minha mulher preferida são mesmo os
books!"
Katombela, 27.02.15
Amor não correspondido
Eu gosto da chuva, e ela faz logo isso comigo!
Estando fora de hipótese sair de carro (ligeiro e raquítico), até já penso num
crédito bancário para comprar ou uma canoa ou um helicóptero. Vou já fundar um
partido cujo projecto de governação é erradicar a chuva hahaha
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Este cartaz é uma excepção no que ao uso indevido de propriedade intelectual diz respeito, onde a moda é usar para fins comerciais a foto do músico Kyaku Kyadaff, captada por Gociante Patissa. O que se passa é que foi feita a foto precisamente num evento similar da rádio Benguela, que nos concedeu entrada grátis em reportagem para o Jornal Cultura
Diário| "Menos é mais", uma sugestão ao “Debate Livre” na Tv Zimbo
Dediquei algum tempo, o tempo que a
energia eléctrica geral permitiu, a ver o programa “DEBATE LIVRE” do
"terceiro canal" angolano, a TV Zimbo, que versou sobre a lei do
registo eleitoral pela perspectiva do Direito. Já tinha visto outras sessões,
que são inquestionavelmente meritórias, desde logo pela promoção do
contraditório, com um painel mais representativo do que aquilo a que estamos
acostumados no mosaico mediático. Positiva é ainda a reputação que tem o
moderador do programa e director da estação, Francisco Mendes, tido como
imparcial quase que consensualmente por gente abalizada. O PONTO NEGATIVO, e
aqui há que dizê-lo, recai quanto a mim para o MÉTODO. O formato debate é
aquele que suscita no público consumidor do produto mediático (telespectador/ouvinte)
um grau de expectativas ainda mais activo quanto aos argumentos de razão a
esgrimir. Ora, se temos um painel de por aí cinco convidados, mais o moderador,
e se, a título de exemplo, cada convidado tem dois minutos em cada intervenção,
isto quer dizer que o convidado mais obediente às regras do jogo terá de ficar
nove minutos até abrir novamente a boca, excepto para bocejar. Na minha
experiência de moderador freelance de debates radiofónicos, absorvi que quatro
convidados em estúdio já não são poucos. E estes nove minutos de intervalo só
podem gerar dispersão de atenção e ansiedade. Salvo melhor fundamento
metodológico, é minha opinião que se devia reduzir o número de convidados, o
que não é necessariamente dizer que se deva prejudicar a representatividade no
que respeita a diversas sensibilidades sociais. Aqui, vale o princípio
universal de literatura e não só que diz que “menos é mais”, o que nos daria em
menor número de convidados e maior espaço de intervenção. Como diz o velho
ditado, “quem muito abraça pouco aperta”.
Gociante Patissa, Katombela, 25.02.2015
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Diário| CIDADANIA EM CORROSÃO
O segurança, o mais simpático do ponto de rastreio, olha para o meu cabelo (despenteado e encaracolado, é assim que gosto), camisa desabotoada sobre a t-shirt, calças entre o formal e o casual e atira: já viveste na África do Sul? Ainda não, respondo-lhe meio a sorrir. Ainda não, quer dizer, esperas viver? Ao que completo: se a tua embaixada quiser patrocinar uma bolsa... Poucos minutos depois, vejo-me obrigado a regressar, receando ter-me esquecido de entregar um documento. É rápido e estou de saída. Meu velho!, chama-me o simpático segurança, para o meu susto de quem evita ao máximo problemas consulares. Sim? Deixa então um saldo, velho. Ah, é isso? Não tenho. Não vês como estou a transpirar, por andar a pé? Desta vez puxei ao máximo o meu auto-domínio para não ser como da outra vez a reacção instintiva. É que ontem, sobre o passeio, quando por um triz me ia atropelando um rapaz de motorizada, a minha reacção imediata foi pedir desculpas. Ou seja, um cidadão, a pé, quase atropelado no passeio. Não duvido que o motoqueiro tenha dito, bem ao jeito angolano, não há makas. Só passados os instantes de choque é que me dei conta do contra-senso: alguma coisa vai mal na sociedade, do ponto de vista valorativo, quando temos de pedir desculpas por estarmos certos. E cada um de nós é, volta e meia, carrasco e vítima ao mesmo tempo. A corrosão de valores, um mal que se repete e se não corrige, faz-se passar no subconsciente por regra.
sábado, 21 de fevereiro de 2015
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Diário| Uma perda irreparável
Não morreu ele mas o
jargão aplica-se; pode é ter começado a morrer a área de especialidade que ele
coordenava. Saltou do projecto o jornalista que tinha a estranha mania de
entrevistar os escritores começando pelo interior de seus livros (quando bem
podia estruturar guiões conjunturais com base na capa, na agenda de lançamento
e no nome do autor). Foi ele quem me deu a única oportunidade de ser
entrevistado, não sobre, mas do meu livro, o quinto dos que publiquei. Seja
qual tenha sido a causa, a saída do jornalista que "chupava" livros é
definitivamente uma perda irreparável.
Oratura| NYE OWIÑI WOVIMBUNDU WUSANDA VOMOKO? [Qual é o valor antropológico da faca para os Ovimbundu?]
Vakwetu twendela kumosi, vyovyo ovilamo
vyange. Calinga naito okasimbu tunde apa twalisula lombangulo yevi vyatyama
kolonjila vyesinumwilõ lyelimi kwenda oviholo ale ovihilahila kUmbundu.
Tulisokolwisiko okuti atosi tusyata okupotolola vakwete ono kefetikilo lyovina,
capyãlã enene evi viletiwe kwenda vyayeviva kovaimbo, osimbu okuti vimwe apa
oco mwalupale vipinga ndamunu vitakata.
Catunena cilo elomboloko lyondaka
yitukwiwa yiti «omoko». Olondaka vyalisetahãlã, pwãi lelomboloko lyalitepa: (1)
Volonjo ka citava okuti mukamba ocikwata cokuteta ovina. Oco hã nda mupi ndona
atenlã okutongola osanji, ombisi, okusosolola ositu, ale amelã, oco vyende
vombya? Nda mupi olomesene vikonja olohaku, akongo vayuva ovinyama? Siti tê
lutale walepikiwa, wukwete ukundo, una wutukwiwa siti omoko? (2) Konepa
yakwavo, omoko yalomboloka vo esesamenlõ omunu akwete, ndeci okuti omõlã okwete
omoko yokutatiwa locisola, omoko yokukapiwa kosikola. Ocimahõ culandu ulo catamba
enene komoko ndokulinga ocikwata kwenda esilivilo oyo yikwete ndocisipulwi,
ndeci vocilongwa ciyevala okuti: "nda omõlã olilila omoko yoputo,
ove uyavela [eci yuteta, eye mwenle].[1]
Vonjila yombembwa yatayiwa kolupale wo
Bicesse kunyamo wa 1991, kuna Nguvulu yetu yofeka yo Ngola kwenda aswalali vo
citundo co Unita valitava vokusapela, ndokusyapo uyaki wovita vyafetika ko
1975, twasangamo eliñwalehenlõ lyapata vomãlã voNgola, vana vakala okuti
valitunda, cikale imbo limbo, cikale onavo lo navo. Petosi apa ndeti palinga
ono yekatanga kovihilahila vitunena vohango yetali, okupisila velombolwilo
limwe twakwata vulandu wakulu vovaimbo vocivanja cOmbaka.
Vomenle yimwe ya calumingu, vamwe okuti
vasikinlã konjo yetu vakala lokulipongiya, locimahõ coku kukulihã umwe tiyu
yavo. Vakala vavali amalehem okuti kwayamo tulinga tuti vo 18 vapitamo ale,
vana vacitiwa kwalunda, olosiwe kwenda vatekwiwa lika lepata lya ina yavo.
Volupale wo Lupito, valavokaile okukulihã kota lya isya yavo, kalingi isya yavo
yukulu, ndomo cikasi kesinlã lya va Bantu. Omo lyaco, cakala esambiliyo linene.
Ocitangi cakala ño okuti, kuyu vakasanda, onduko ño yakulihinlwe, onjo syo. Oco
mwenle oco, ekisika lyakala vokusanga ukulu vendo lyowiñi vonembele.
Eci ndavalawulula ndayu okavasindikila,
ndamõlã okuti vakwata olomoko. Pala nye, nda eteke lyepuyuko vocakati? Pwãi
lopo, ondaka yange ka yakwatele ongusu, lokulinga umalehe wavo. Ndeya
okupitinlã petosi lyokuhã, eci umwe pokati kavo alinga heti “ulume ka kambaila
omoko”. Mekonda lye? Ame ndapula, pwãi ndaimba ño volwi. Ndeya okwivaluka ina
yange, una wapopele eteke limwe vo caco oco. Vokulipatãlã lavo, ndeya okuyula.
Twavotoka ungende, polê olomoko vyasyala konjo. Etatahãi olyo okuti lyatongeka.
Esilivilo lipi likwete omoko kowiñi vovimbundu, okuti ka yisalasala?
Okutyukila konepa yevi twamõla kwenda
twakala kimbo lUtwe Wombwa (Monte Belo), ndamõlã yimwe onjanja okuti akulu
vakala lomoko vocikutu. Umwe pokati kavo walepika omoko yokulila komesa,
wakwavo wakwata yina omoko yokuteta opapelo voloseketa. Ame yu ndavotola
etatahãi lyange. Kuyuna onganji ndapula, wasapula okuti ocituwa comoko citunda
kusyahunlu wetu, otembo vaindainda ovongende, lohele yokulingisiwa lovimgumba.
Ha cimwe ko vali cakwavo, ka cilingi ocikele cokuliteywila. Eveke lyeli lisima
okuti akãi ovo ka vakwete ovivela vyavo.
Nda konepa yalume ocivela cokuliteywila oomoko,
akãi vavindila ohumbo vetombi. Ohumbo onguya yateliwa peka, yikwete cisoka
olodiametro vitatu, lupange wokutonga olonjeke, olohumba kwenda olongalo.
Pekambo lyolohumbo, akãi vakwete ofunyete. Ka vitendiwa olonjanja akãi vayula
lutõi pana akuti vasandumwiwã vovongende, luloño wokutikula ohumbo vetombi
lokuyitikitiya ovingumba.
Etosi lyusonehim: Elimi lyUmbundu, ndomo cikasi vukanda ulo, lyatayiwa locipango cokupenga
vonjila yalulikiwa, cinene vali konepa yo «nasalação/ditongos», omo okuti
ovihandeleko vyokutaya, vina tusanga mwakongamenlã volonembele (yale kwenda
yisukila okumenyulwiwã) yasokiyiwa ndokulisetahãlã ndomo velimi lyoputu, muna
okuti vimwe olo «fonema» ka vikasi ko, cina cikoka akuti eci nda cipopiwa
ndeti, tucipopya omu ha mo ko, capyãla vali vokusonehiwã.
Gociante Patissa, comuna do Monte Belo, Bocoio
18.12.2012 – Benguela, 20.02.2015
…………………
Português| Qual é o valor antropológico da faca para os Ovimbundu?
Caros companheiros,
queiram aceitar as minhas saudações. Já vai algum tempinho desde o último
apontamento sobre normas e aspectos culturais da etnia Ovimbundu. Nunca é
demais recordarmos que os temas que abordamos têm como ponto de partida a essência
sócio-cultural, sobretudo por observação e recolha pelo interior, embora alguns
aspectos tendem a desaparecer nos centros
urbanos.
O tema de hoje
reside no significado e valor da palavra homónima «omoko» : (1) Nos lares, é
imprescindível o objecto com que se cortam coisas. Senão, como iria uma dona de
casa transformar a galinha em refeição, o peixe, arranjar carnes, até mesmo
picar verduras? Como confeccionariam os artesãos as sandalhas? Como preparariam
os caçadores os animais abatidos? Não é para isto que serve aquele objecto de
gume e punho, que atende pelo nome de faca? (2) Por outro lado, a palavra «omoko»
tem o significado de direito, prerrogativa social ou jurídica. Uma criança tem
o direito de ser criada com amor, o direito de estudar. O que interessa no presente
exercício é olhar para «omoko» no sentido de faca e o seu valor antropológico,
no que é ilustrativo o provérbio "nda omõlã olilila omoko yoputo,
ove uyavela [eci yuteta, eye mwenle].[2]
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Diário| À espera do Célsio Mambo
Estou a ver na
TPA (10-12) o “nosso" talentoso cantor lírico Célsio Mambo, cuja marca no
outro dia ainda aprendi que é barítono e não tenor, como geralmente é considerado.
E fiquei a me perguntar: ele não podia promover uma música originalmente dele?
Toda da vez que o ouço é com aquela de Andrea Bocelli, “Un nuovo giorno” ou "Conte
Partiro". 14 anos de carreia e mais de 6 mil CDs vendidos, fica-nos a água
na boca no sentido de vê-lo pular da interpretação de temas já clássicos e
vingar mesmo por um qualquer sucesso de sua autoria. Ah, já agora, ele vem
brevemente a Benguela pelas mãos do promotor Adão Filipe, que é também director
da Rádio Benguela.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Cinganji [t∫inga:ndji], figura mítica da etnia Ovimbundu, é um elemento emblemático associado à exaltação cultural, geralmente ligada a rituais de circuncisão e mesmo animação em eventos festivos com relevante simbolismo no meio rural. A sua existência no meio urbano vem sendo acompanhada de dilema, entre a preservação e a profanação. Se, por um lado, é necessário passar a experiência de geração para geração, já por outro, não deixa de ser verdade que alguns tabus determinantes passam a ser expostos, como a proximidade com o público ao ponto de o ocinganji ser tocado, o que era suposto ocorrer apenas sob intermediação.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Diário| Dos sotaques
Gosto dos sotaques nas telenovelas mais
recentes da TPA (na voz de angolanos, africanos), é como estar no Hotel
Alvalade. É como se fechássemos os olhos e (à velocidade de foguetão)
estivéssemos num lugar qualquer de Portugal (não tenho nada contra o país nem a
sua gente, obviamente). Adoro esta forma plástica de articularmos, esse registo
com que nos sentimos reconhecidos elites, essa coisa de sermos sem chão
próprio. Parabéns
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
domingo, 15 de fevereiro de 2015
Áudio: G.PATISSA ENTREVISTADO SOBRE AIRES DE ALMEIDA SANTOS, na Rádio Benguela 12.02.15 (15 min)
O escritor Gociante Patissa concedeu uma
entrevista à Rádio Benguela, a 12.02.15, que visou assinalar mais um
aniversário de Aires de Almeida Santos (n. Bié, 1922-1992), escritor conhecido
pelo poema “Meu Amor da Rua 11”, e antigo preso político na luta de
anti-colonial. Este é o material bruto da conversa conduzida pelo radialista
Miguel Pascoal, que levantou ainda o tema das relações afectivas na véspera de
14 de Fevereiro, o dia de São Valentim.
sábado, 14 de fevereiro de 2015
Áudio: MESA-REDONDA SOBRE O NAMORO NOS DIAS DE HOJE, Rádio Lobito, 13 Fev 2015 (42 min)
Na véspera de mais um dia dedicado a São Valentim, a conversa girou em torno de Virtudes e Defeitos do Namoro nos Dias de Hoje, na Rádio Lobito, a 13.02.15, com Ana sabino e Gociante Patissa, moderação de Ananias Bento Malalo, espaço realizado por Alvaiano Cipriano Mande
Sonhos de rua
No dia de São Valentim
vou apanhar flores
e guardá-las bem perto de mim
debaixo do meu banco de jardim
e tenho a certeza de que logo à noite
a morena miss dos meus sonhos
a sua prenda virá reclamar
sou criança de rua
mas tenho o sonho
na conta do que a sorte me negar
Gociante Patissa, in «Consulado do Vazio». KAT, Benguela, Maio de 2008»
vou apanhar flores
e guardá-las bem perto de mim
debaixo do meu banco de jardim
e tenho a certeza de que logo à noite
a morena miss dos meus sonhos
a sua prenda virá reclamar
sou criança de rua
mas tenho o sonho
na conta do que a sorte me negar
Gociante Patissa, in «Consulado do Vazio»
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
Diário| Um caminho perigoso do fazer artístico angolano, o populismo no lugar do método
Anfitrião: "E este teu
CD [audio-book de auto-ajuda] como é que tem sido recebido pela crítica?"
Convidado: "Olha, eu acho que as pessoas não estão preocupadas com a
crítica, as pessoas querem é o que lhes faz bem." (In «Hora Quente»,
TPA-2, na semana passada)
Ou
seja, voltamos ao velho debate de arte por arte, de reinventar a roda, no
sentido de "que se lixe" o rigor, a estética, a consistência,
conquanto o povo, a maioria, adira ao produto. Lembrei-me de uma citação que em
tempos ouvi um vedeta da nossa música citar, segundo a qual "quando um
artista deixa de ouvir a sua intuição para se dedicar ao que o público pede,
ele passa de artista a comerciante. E o comerciante pode ser honesto ou desonesto."
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
Citação
"Não te vou pressionar, para que tu decidas à vontade o que quiseres. Vou esperar o tempo que for preciso; não tenho pressa de nada mas, por favor, não demores."
(De personagem de série televisiva portuguesa. Neste caso, tem ou não tem pressa? Seja como for, é a poesia, conhecida como a arte do paralelismo e do contraste. Como dizia o título de uma antologia da União Dos Escritores Angolanos, "O amor é sempre agora")
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
Diário| É grosso e é nacional
"Boa tarde, deseja alguma coisa?"
"Sim, boa tarde. O que é que vocês têm de prato do dia?"
[Folheando o bloco de notas e com os olhos fixos no papel] "Temos caril de peixe, arroz de pato e bife da vazia."
"Esse peixe é grosso ou desses pequenos?"
"Hã?... Ainda vou à cozinha para saber." [dois minutos mais tarde] "Ah, caril é de peixe gufina."
"Corvina?"
"Não, gufina."
"Ok. Mas é peixe grosso ou esses mais pequenos?"
"Só me disseram mesmo que é gufina."
"Se é que não te vão ralhar, podes, por favor, saber se é peixe importado ou do nosso mar mesmo?"
"Assim, ainda, vou mais perguntar? Eu não conheço o tipo de peixe."
"Eu também não. Deves imaginar como é complicado pedir peixe sem ter ideia do que é."
"Então, pede só outro prato."
"Olha, acho que consegues usar um pouco mais a tua inteligência. Então, por favor, pergunta se é peixe importado, ou se é do nosso mar mesmo, e se é servido com o quê. Pode ser?"
[uns três minutos mais tarde] "Ah, o peixe é grosso e é nacional. É servido com arroz e salada."
"Pronto, quero mesmo este prato. Obrigado."
Lobito, 100215
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Línguas tradicionais em queda livre em São Tomé e Príncipe
Texto
da Voz da América - Não há dúvidas que o uso das línguas tradicionais de
São Tomé e Príncipe está em queda livre.
Dados do
recenseamento geral da população de 2012 indicam pouco uso do forro, do angolar
e do lunguié, sobretudo na camada juvenil. Periodicamente são organizadas
palestras e conferências para debater a questão, mas na prática há cada vez
menos são-tomenses a falarem as línguas tradicionais do país.
Perante
esta constatação subscrita por todos, o escritor são-tomense Albertino Bragança
considera que é preciso adoptar estratégias sólidas para a promoção das línguas
tradicionais, viradas sobretudo para as novas gerações.
Mais de
95 por cento dos são-tomenses exprimem-se regularmente em português. É a língua
de união num país crioulo, onde as pessoas também se comunicam em outras quatro
línguas, nomeadamente forro, crioulo de Cabo Verde, o segundo mais falado no
país, angolar e lunguié. De acordo
com os dados do último recenseamento geral da população, dos cerca de 173 mil
habitantes do arquipélago apenas 62 mil confirmaram que falam o crioulo forro,
língua tradicional mais dominante na ilha de São Tomé. A faixa etária a partir
dos 40 anos é onde se concentra o maior número de falantes do forro.
O
angolar, língua tradicionalmente ouvida nas comunidades piscatórias, é falado
por cerca de 11 mil pessoas. O povo angolar habita principalmente as zonas
costeiras da ilha de São Tomé. O lunguié, dominante da ilha do Príncip,e tem
cerca de 1700 falantes, numa região com pouco mais de 7 mil habitantes.
O
escritor Albertino Bragança considera que a maior ameaça aos crioulos é o
surgimento da nova variante oral do português, o chamado português de São Tomé
e Príncipe ou seja a tradução literal do forro para o português, que é agora a
língua mais falada no país.
Oratura| DIVAGANDO PELO UNIVERSO DO CANTAR POPULAR UMBUNDU (actualizado)
Diz o senso comum que cantar é, assim como
chorar e rir, manifestação universal. Isola-se no entanto o dançar, já que,
apesar de ser um inesgotável campo de estudos, quase sempre depende do estímulo
da canção/música/ritmo, digo eu. Daí ter eleito apenas a canção pelo ângulo da
sociocultura do grupo etno-linguístico Ovimbundu.
Como já referido em textos anteriores, a
vivência é um recurso valioso onde a bibliografia escasseia. Recorrerei, pois,
a memórias de infância na comuna do Monte Belo, município do Bocoio, em
Benguela, que abandonei aos sete anos devido à guerra civil. Permitam-me vestir
de aura positiva a máxima de que “se pode tirar a pessoa do mato, e não o mato
da pessoa”, porquanto o conceito “mato” representa, no falar das nossas gentes,
o meio rural e toda a sua mística – não necessariamente a selvajaria.
No “mato” ou kimbo, viver é cantar,
havendo a destacar: (a) o campo da mobilização política e combativa, que não
pode ser ignorado para a rigorosa compreensão da nossa história (fosse do lado
do MPLA movimento, do governo, fosse do lado da Unita); (b) a dimensão social e
antropológica – sobretudo no que à divisão de tarefas respeita –, no palco que
é a pedra onde mulheres transformam milho em fuba, na ausência de moageiras
industriais, ajustando golpes com o “upi” (piso) ao compasso de canções,
quantas vezes a satirizar ou a condenar hábitos e acções (do indivíduo ao
colectivo) com base no sistema de valores do meio, mas; (c) é na oralidade
(batucadas, serão no onjango ou à volta da fogueira) que reside o motivo desta
divagação.
Os contos, marcadamente fantásticos e
melancólicos, só podiam ser partilhados de noite, nunca à luz do dia, sob o
risco de crescerem chifres na cabeça do desobediente. Serviria o dogma para evitar
a preguiça? Alguns deles, hoje, eu os assemelharia a filmes de terror. Havia
também os românticos, os heróicos. Não raras vezes, pedíamos que nos repetissem
essa ou aquela estória durante anos. Não vinham a seco, carregavam sempre uma
canção ou mais que isso – já não sei se não era a canção que as carregava.
As canções são de indefectível harmonia
melódica. Quanto à sua estrutura, o verso não é preocupação, pelo menos não
literalmente como o conhecemos. São a mensagem objectiva e a lição subjacente o
mais importante, onde o fragmentado, a parábola e o provérbio coabitam com o
estilo canta-autor. Alguns nomes da música transportaram para
discos a tradição, quer no conteúdo, quer na forma. É certo que a linha é ténue
entre intervenção e tradição oral não engajada. Está aqui em causa o estilo
corrido de narrar. Falemos a seguir de quatro nomes do planalto central (Huambo
e Bié).
Zé Katchiungo, que se notabilizou pela
música de resistência (na Jamba), é exímio contador de estórias e provérbios em
tons bem dançantes, como são exemplos “ucinje
uti wovava” e “ocikoko”. Bessa
Teixeira é mais conhecido pela reedição de cantares populares do que por temas originais.
Justino Handanga é outra pedra-angular, cuja marca é o cruzamento entre a recolha
e o retrato social em prol dos mais desfavorecidos.
Por sua vez, Viñi-Viñi [cuja alcunha significa
“Etc., Etc.], já falecido, narra peripécias de um contratado nas minas de ouro
de Transvaal, à época colonial, bem como a humilhação que é a guerra: “Trititi,
não chores mais/ porque o papá/ não tem pão/ para te dar/ (…) hu kalile vali,
Ota, ndakava” [não chores mais, querido, estou cansado], sendo que “Trititi”, o
nome da criança-personagem, é onomatopeia do ritmo de balas.
Ainda entre os consagrados, realce para Jacinto
Tchipa, Sabino Henda e Flay, este último que tem incorporado em média uma
música da nossa tradição em cada álbum, o que é pouco. Já o Ndaka Yo Wiñi,
radicado em Luanda, bem como o Sukumunlã e o Kupeletela, de Benguela, são cantores
e compositores cuja realização tarda tão-só pela miopia dos holofotes, tão focados
no dançante, efémero e oco electrónico. Temos aqui os mais representativos
continuadores, pelo que seria triste vê-los desistirem.
Os veteranos José Viola, César Cangue e
Joaquim Viola, ligados à Rádio Nacional de Angola, têm lugar cativo na memória
colectiva. “A monlange/ ku lilelile/
nyõhõ walinga ociwaya/ omangu yovowotele/ ka kuli u ka tumãla ko” [meu
filho/ não chores/ a tua mãe tornou-se vadia/ cadeira de hotel/ não há quem lá
não se sente], (Cangue); “Ame ame
Ciyunge/ vatucita kavali/ Ciyunge/ vatutuma
olongombe/ ove ekumbi lyainda” [Eu
sou a Ciyunge/ Somos dois irmãos só/ mandam-nos pastar o gado/ quando já se pôs
o sol], (de Joaquim Viola e reinterpretado pelas Jingas). Junta-se a eles o Fedy,
autor do sucesso “Kalupeteka”, que muito contribuiu para a reconciliação
nacional.
Vozes femininas são esporádicas. Surgiu
Mila Melo com rapsódia nos anos 90. Há duas décadas surgiram Bela Chicola e
Pérola. Patrícia Faria recuperou “Katalina”, do trecho “ka kwelele ongongo ka yilete” [quem nunca se casou não sabe o que
é sofrer]. Kassova, de Benguela, e Edna Mateia, do Huambo, destacaram-se nos
últimos anos enquanto vencedoras do concurso “Variante” em suas províncias. Há
que segurá-las.
"Olohombo
kepya/ kepya/ olomalanga vimbo/ Aci fu/ Aci mbê/ Avoyo/ twendainda
ndeti". Este trecho é de uma dança folclórica em roda de mãos dadas, girando aos
pulos num sentido, logo invertido mediante a lógica da mensagem quando se
disser "twendainda ndeti" [o
normal é irmos assim]. Segundo o Duo Canhoto, compilador da rapsódia "Omboyo" [o comboio], que
ganhou maior visibilidade depois de ganhar de cantora Pérola uma roupagem
comercial, a essência da parábola é: numa comunidade em guerra, os paradigmas
funcionam de maneira inversa, onde, literalmente, os cabritos ficam na lavra, ao
passo que as palancas ficam na aldeia. Trata-se de mais uma manifestação dos
nossos antepassados contra a desordem inerente a lutas e conflitos.
Há entretanto uma canção, também absorvida
em pequeno, que desperta curiosidade pela preocupação que parece residir na
concepção quanto ao ritmo e métrica. Cantada é ainda melhor, mas fiquemos pelo
texto apenas, o único meio possível aqui:
Ondumbu wéh [lá o leão]/ Yalya,
yalya, yamãlã [devorou a tudo e todos]/ Kulo ka yipitilã [aqui,
porém, não chega]/ Ame wéh [eu cá] / Ndaimba
odunge ocilavi [confio no material com que fiz o cerco] / Ondumbu yipita pi? [onde é
que irá passar o leão?]
Termino, portanto, com duas perguntas de
retórica: terá havido influência de algum “missionário” ocidental para a
estética da rima? Pois não nos parece ser casual esta elaboração. Quando foi
que surgiu a fábula desta canção atribuída à lebre?
«LOUCAMENTE APAIXONADO POR TI», poemário da autoria de Roque D’Oliveira, será lançado no dia 13
O
acto de lançamento acontece no próximo dia 13 de Fevereiro, pelas 15 horas, no Salão
do ICRA (Instituto Médio de Ciências Religiosas), sito no Largo das Escolas, imediações
do 1.º de Maio, em Luanda. O livro «Loucamente Apaixonado Por Ti», de 112
páginas, sai sob chancela da JE, editora emergente com sede na capital do país. Roque Pascoal
de Oliveira é Assistente social de profissão, com ensino médio feito no ICRA e licenciatura
em Educação Moral e Cívica pelo Instituto Superior João Paulo Segundo (ISUP),
de Luanda, onde reside. Eis um dos poemas:
UM DIA QUE NÃO SE
REALIZOU
O dia acordou gelo
Senti saudades
das tuas mãos
inquietando-me
À tarde,
talvez haja fogo
Gostava de te levar
a passear
e, quem sabe,
amar-te
À tardinha
se calhar o fogo
deixa-se embeber
pelo mar
Seria bom se
fôssemos a plateia
À noite
já cansados e
satisfeitos
iríamos p’ro banho
pensando como será
no leito
E à madrugada
já contigo muito
inspirada
vou aproveitar tua
excitação
e deixar-te toda
prazerosa
E de manhãzinha
a mesa matinal
saberá à glândulas
salivares!
Roque D’Oliveira,
in «Loucamente Apaixonado Por Ti», 2015, pág. 61. JE Editora, Luanda
sábado, 7 de fevereiro de 2015
Diário| Afinal temos censura?
No que se vai lendo pelos papéis e imprensa digital, a questão (que acabou com pedido de desculpas e recuo dos gigantes, produtora Vs Estação televisiva) já não é o beijo ser mais ou menos gay, mais ou menos lésbico ou mais ou menos heterossexual. O que repugna o lado pro, o que independe de ser um canal público ou privado e de que sociedade se trate, é a tácita prerrogativa dos "ignorantes, atrasados" do contra (adoptando o slogan "TPA somos todos nós") em reclamar a impertinência do trabalho artístico. Afinal, até não há razões para qualquer antagonismo, sendo a censura um "inimigo comum". Ou seja, está ali afinal mais motivo para juntar forças, quem sabe de uma vez por todas as forças influentes de ambos os lados da barricada se juntam e combatem este gigante chamado "censura", que como se sabe não enferma apenas o sector artístico mas também o jornalístico, até onde me lembro. Só podemos sublinhar a tese do lado pro, segundo a qual o trabalho artístico é irredutivelmente soberano, não importa onde, como, quando nem quem. Ora, se a episteme do "artístico" é da subjectividade que é, o que é que nós vai garantir que "arte" é monopólio do lado convencionalmente concebido e seus operadores? Vê-se mesmo quão produtivo é o debate para o amadurecimento do nível de cidadania, não é? Abaixo a censura, estamos juntos!
Gociante Patissa, Benguela 07.02.15
É o próprio rio
Despir-me-ia à brisa
ao nível da sua nudez
azul interior
Ao aroma deste conforto
da afonia do provérbio
tudo é cibernético
também o pudor
Se a ponte estagna
virtude única
é o próprio rio
ou a massemba
ou o tambor.
Gociante Patissa, in «Guardanapo de Papel», 2014, pág. 12. NósSomos, Lda. Luanda, Angola / Vila Nova de Cerveira, Portugal
ao nível da sua nudez
azul interior
Ao aroma deste conforto
da afonia do provérbio
tudo é cibernético
também o pudor
Se a ponte estagna
virtude única
é o próprio rio
ou a massemba
ou o tambor.
Gociante Patissa, in «Guardanapo de Papel», 2014, pág. 12. NósSomos, Lda. Luanda, Angola / Vila Nova de Cerveira, Portugal
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Diário| Também não é por aí, senhor deputado
Numa caixa do Novo Jornal deste fim-de-semana
(06/02/15, pág. 11), salta à vista o posicionamento do deputado e Segundo o
Porta-voz do Partido de Renovação Social (PRS), Joaquim Nafoia, para quem - e
passamos a citar - os rumores de que a polémica do beijo homossexual na estação
pública de televisão estaria a caminho de uma discussão na Assembleia Nacional
são mais um sinal de que o lobby gay quer “transformar o país numa sociedade anormal onde tudo é permitido”. Nafoia, que é apenas mais uma
das incontáveis vozes que se não revêm na meteórica vontade de acelerar os
modernismos da nossa sociedade, chega entretanto a beirar o extremo: “Não precisamos do voto dos homossexuais até porque não são
muitos. Para mim esta é uma questão de psiquiatria. Discuti-la é dar
importância a cidadãos que andam com desvios mentais”, diz ele. Quer dizer,
também não é bem por aí, senhor deputado.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Diário| Um filho indesejado
Ao cabo de nove
emblemáticos meses de peso ao colo, antes mesmo da consumação, de lhes nascer
um filho, na verdade já mães são. Mães das alterações hormonais, físicas e tudo
o resto. Mães do monte de sonhos, de esperanças. Há por vezes aquelas a quem
custa a própria vida o milagre de trazer vidas ao mundo. E as nossas mães, falo
da minha que tão bem conheço, não pariram cobardes, que isto sim, seria uma boa definição de
filho indesejado.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
Citação
"Grandes discursos escondem grandes verdades" (de autor desconhecido, lido algures hoje por este universo cibernético)
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
Diário| A missionária vontade de debater o desproporcional
Debater com o dono de uma rádio, por um
eventual extrapolar do produto que "nos impõe", é inútil, desde logo
por ser desproporcional. Quem vive em Benguela e acompanhou (entre 1995-2008)
as brigas entre o veterano Cabral Sande, da "Pedra no Sapato", e seus
inimigos de estimação aos microfones da Rádio Morena que o diga. Houve ainda o
caso do historiador Armindo Jaime Gomes (ArJaGo), que acabou ostensivamente
enxovalhado no jornal
Kesongo, do veterano Ramiro Aleixo, cujo pecado foi desmontar um texto elogioso
à figura de Cerveira Pereira, da autoria do autodidacta Joaquim Grilo. Para
ArJaGo, num bem fundamentado ensaio académico, Cerveira fazia parte da escória
de Portugal, sendo que os festejos do 17 de Maio (a famigerada data da fundação
da cidade de Benguela) assinalam a victória do invasor colonial sobre os nossos
antepassados. Os benguelenses mantiveram-se inertes. Foi preciso o Pepetela
escrever que "Cerveira Pereira era um filho de puta" (sic), anos mais
tarde, na sua obra "A Sul. O Sombreiro", para os benguelenses se
largarem às gargalhadas e às palmas de concordância. Quem briga, por exemplo,
com um Francisco Rasgado, dono do intermitente jornal Chela Press, sabe bem
para o que vai, é que volta mesmo de lá com a dignidade e a vida privada
depenadas. Enfim... E nestes dias eu vejo muitos compatriotas indignados pela
"glamourização", como diria uma veterana jornalista amiga, do beijo
homossexual na televisão pública através de uma telenovela. Eu cá acho que tais
vozes teriam muito mais com que se ocupar ao invés de andarem a pregar ao vento
a sua discordância, pois a novela é propriedade do proprietário da referida
televisão. Era ver a festa no programa "Dia-a-Dia" com as
comentadoras da rubrica "Trica dos Famosos" pelo BEIJO… Estariam a
preparar a sociedade para algo ainda mais "completo" por vir? Ora, se
o dono entender que sim, que opinião mais ou menos contra é que o vai demover?
O máximo que podem os discordantes conseguir é que o "dono" se faça
de vítima.
Gociante
Patissa, Benguela 2 Fevereiro 2015