António Jamba, 20 anos, morador
do bairro do Kasseque, na cidade de Benguela, ocupa as suas manhãs de pincel à
mão, transformando vazios em imagens, entre silêncios e orientações pontuais que
recebe no antigo edifício da Companhia Açucareira, à Praia Morena. Tem sido
assim há oito meses.
Jamba
é dos mais dedicados e enche de alegria os professores, talvez por estar
consciente do seu estatuto especial. “Mora longe e não tem capacidade
financeira de pagar a propina mensal, que são 2 mil kwanzas”, revelou o
coordenador do projecto, José António Júnior, ou simplesmente Ducho. Jamba é o terceiro bolseiro. “Não vamos cobrar
todo o mundo. Cobrar por cobrar não nos vai enriquecer”, sublinhou Ducho, que
vê o altruísmo como investimento: “Sabemos que, quando um dia se tornarem
grandes artistas, vão-se lembrar da escola e dos mestres”.
Jamba soube da escola por intermédio de um primo. “O meu pai, quando viu que eu era bom a desenho, procurou informações para melhorar os meus conhecimentos”, disse. Questionado quanto a eventuais dificuldades, uma vez sair do desenho livre para um universo com parâmetros, respondeu: “Como aluno, tudo é difícil, mas com a ajuda dos professores, pouco a pouco vai”.
Entre os formadores, está a luandense Maria Armando, que assina pelas iniciais “MA” e prefere ser tratada por assistente de formação, ligada ao Núcleo de Jovens Pintores há dez anos. “Aprendi aqui a desenhar e a pintar. Tive oportunidade de ter três mestres, o Ducho, o Abias e o Jó Delgas”, contou. O seu envolvimento com as artes vem de herança familiar: “Nasci num meio de cultura, carnaval e dança tradicional”. MA, muito apaixonada pelo que faz, ressaltou algumas dificuldades comuns na lida com os pintores do futuro. “Às vezes encontramos adolescentes que querem fazer tudo de uma só vez e acham que já sabem o suficiente”, partilhou.
A
frequentar a 11ª classe do curso de informática no Instituto Médio Industrial,
Helzinha José, 15 anos, sonha ser arquitecta. A pintura é algo que pretende
continuar a aprender e praticar até não poder mais. Moradora do bairro do
Kasseque, lamenta a complexidade que é lidar com a distância, já que acaba
tendo duas escolas por dia. Desistir está, de qualquer modo, fora de hipótese,
e justifica: “Eu queria estar num sítio onde pudesse desenvolver as minhas
capacidades”.
Aluna
da 5ª classe, Jorgina Tomás, 10 anos, frequenta a escolinha desde Julho último.
Mora no bairro Miramar, um dos emergentes a sul de Benguela, e sonha ser
jornalista de televisão e actriz. Ela sabe que o caminho até lá é aprender
sempre. “Já aprendi a desenhar as vistas, a tigela, o prato fundo, fazer
pinguim. Com ela mais três irmãos frequentam o atelier.
Depois de tentar, sem grande
gozo, nas escolas de futebol do Estrela clube 1º de Maio e do Nacional de
Benguela, José Bento viria a achar o que julga ser sua verdadeira paixão,
tornando-se membro do Núcleo em 2007. Também formado no Instituto Médio
Industrial de Benguela é hoje um dos orientadores. “Como apareceu oportunidade
de dar aulas, uma vez que fui seleccionado entre os mais destacados, estou há
dois anos a transmitir conhecimentos. É gratificante. A convivência com os
alunos faz com que, em casa, a pessoa tenha saudades das tintas e traços”,
garantiu.
Criada em 1995, a Escolinha de Artes, Traços e Cores é um projecto do Núcleo de Jovens Pintores, formado em 1990 por um colectivo de autodidactas. O mesmo já foi consagrado com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, edição 2009.
Criada em 1995, a Escolinha de Artes, Traços e Cores é um projecto do Núcleo de Jovens Pintores, formado em 1990 por um colectivo de autodidactas. O mesmo já foi consagrado com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, edição 2009.
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