segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Entrevista ao artista plástico Ducho: “O trabalho é o que nos distingue” (Reportagem Jornal Cultura, 28 de Outubro a 10 de Novembro de 2013- texto e foto: Gociante Patissa).

Ducho (José António Júnior) falou ao Jornal Cultura nas vestes de coordenador e co-fundador do Núcleo de Jovens Pintores de Benguela, aberto em 1995, chegando a ganhar em 2009 o Prémio Nacional de Cultura e Artes na categoria de Artes Plásticas.

Membro da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP), tem uma relação com o pincel que data de 1988, destacando-se na sua carreira a restauração da pintura do italiano Valentim, na Lupral; bem como a exposição por ocasião da inauguração das novas instalações do Mincult em 1993. Em 1994 participou da exposição dos artistas benguelenses em Portugal, organizada pelas Acácias Rubras em Sintra, exposta no Palácio de Valências, pousada da Juventude e Monumento. Foi ainda o segundo classificado do concurso Prualb Arte de 1997.

JC: Como surgiu a ideia da Escolinha de Artes?
Ducho: A ideia não foi nossa, a procura é que fez com que abríssemos a escolinha. Como em Benguela não há escola de artes plásticas como tal, e sendo um núcleo de artistas auto-didactas, tentamos passar às crianças e aos jovens o que temos vindo a aprender, três vezes por semana, uns de manhã e outros de tarde. Temos muita adesão e notamos que há muitas crianças com este dom. De Janeiro a Novembro, todos os dias entram crianças, trazidas e recolhidas pelos pais. Vamos acima de 50 inscrições.

JC: De onde vem o material?
Ducho: Utilizamos material local. A tela é mesmo de pano-cru ou outro tipo de pano que permita ser adaptado. Os próprios alunos fazem a armação, esticam a tela. Compramos a tinta aos portugueses e libaneses. Temos preocupação em usar guache porque não tem cheiro e é lavável, não representa risco à inalação pelos mais novos.

JC: Qual é a finalidade, tendo em conta os custos do material gastável na formação?
Ducho: A finalidade é mesmo expor e vender. O preço vai de 50 a 100 USD. Geralmente vendem o desenho que fazem a carvão, feito nas aulas práticas.

JC: Quais são as vossas principais dificuldades?
Ducho: São muitas. Materiais, condição de sala de aulas. Estamos aqui mas as instalações não são nossas. São do Ministério da Cultura, sob tutela do Museu.

JC: Haverá algum formando que vos sirva de orgulho enquanto resultado?



Ducho: O Isidro Sanene! O Isidro passou por nossas mãos. Começou como aluno, chegou a ser professor e hoje a gente sabe onde chegou.

JC: O que representa a morte de Délio Batista para as artes?
Ducho: Representa uma grande perda, porque Délio Batista, além de ser um grande mestre, era também um grande conselheiro, estava sempre disponível a dar o seu contributo para o desenvolvimento das artes. Délio foi isso! Não podemos esquecer que ele foi o primeiro representante da UNAP em Benguela.

JC: Que apoios precisam?
Ducho: Não falo já em dinheiro, mas pelo menos em material: pincéis, papel, tintas, principalmente as tintas acrílicas, que não são tóxicas para se poder trabalhar com os jovens, de modo a transmitirmos cabalmente os nossos conhecimentos.

JC: Que patrocínios recebem da UNAP?
Ducho: Recebemos em tempos, enquanto escolinha, algum material, como cartolinas, lápis, aguarelas, enfim, aquele material básico.

JC: E da Direcção Provincial da Cultura?
Ducho: Institucionalmente, temos o apoio do sector da Cultura. Precisamos que as demais instituições mais nos apoiem, sobretudo as da sociedade civil.

JC: Por quanto tempo mais você pensa continuar à frente da escola?
Ducho: (Risos) Mesmo largando isso hoje, tenho a certeza que o projecto vai continuar, porque há grande adesão e motivação de pais e crianças que procuram pela aprendizagem.

JC: Concilia a pintura com um outro emprego?
Ducho: Não.

JC: Qual é o segredo de se viver só mesmo da arte?
Ducho: O trabalho. Porque o trabalho é o que nos distingue. Tu, depois de ter uma certa experiência no trabalho, vais conseguir cativar o mercado e, já sabes, vêem os lucros. É aqui que a gente vai-se esforçando, pintando sempre.

JC: Que avaliação faz do estado das artes plásticas em Benguela?
Ducho: É boa avaliação, porque já temos uma sede da UNAP, que funciona aqui mesmo. Ainda temos artistas que estavam no anonimato e que já estão a aparecer e inscrever-se. É pena que não temos ainda artistas de outros municípios, tirando os de Benguela, Catumbela e Lobito. O apelo que temos passado é de forma a alertar sobre a existência da agremiação e união na classe.
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