Saudou-me, com modos. Correspondi, algo aliviado do stress que era interinar a posição do chefe em dia agitado. O vosso avião já partiu de Luanda? Pergunta-me a jovem de aparentemente vinte e poucos anos, que lindamente se encaixava no estereótipo de beleza feminina de Benguela que certos sectores propagam: morena, corpo equilibrado, entre o cheio e o magro, altura razoável, lábios sensuais, trajo sóbrio. Parte daqui a pouco, respondo. Avisa-me quando partir, porque venho nesse avião, acrescenta ela, para a minha perplexidade, pois até aí sabia que a física não permitia um mesmo corpo estar em dois lugares ao mesmo tempo. Diga? Respondo, apanhado desprevenido. Ela sorri à minha previsível reacção, ao seu jeito de mulher docemente malandra. É isso mesmo, venho nesse avião. Louca não parecia estar. Está bem, anuí. Quando obtive a confirmação, passei-lhe a palavra, e ela agradeceu. Moço, agora preciso da tua ajuda. Preciso ficar num sítio, protegida. Levei-a à minha sala de trabalho, onde a acomodei. Ela pega no telefone e diz: mãe? Olha, mãe, estou agora a embarcar em Luanda, o voo leva uma hora. Faz as contas, me apanhas no aeroporto. Fim da chamada. Telefone desligado. Tarde de domingo. Teria saído de viagem na sexta-feira. Agora vira-se para mim, com o mesmo sorriso calculista, e diz: não ligues.
Gociante Patissa, 16.01.2013
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Quantas vezes nos intrujam .ao tlf... Qntas vezes o viajante esta fechado no quarto .ao lado?
Com muita pena para as futuras gerações que verão na imoralidade uma herança cultural, Canhanga
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