Em dias de sol ardente no litoral, parece ser de meia hora a distância
entre dez da manhã e a hora doze. É nesse hiato que se apresentou, naquele dia,
a agente ao local de serviço, cujo atraso dava-se mesmo a ver pelo rosto suado,
como se o amoníaco do seu próprio organismo lhe quisesse renovar os quarenta e
tal anos que o seu bilhete de identidade indicava. Tinha cara de sono, direi,
que bem condizia com a patente de sargento . Ela entra, saúda, e a maioria
aguarda tacitamente por uma justificação: “Estou avir da Técnica [de Investigação
Criminal]”, diz ela, para a empatia das cerca de dez pessoas na sala. “Qual é o
problema?”, questiona um dos presentes. “Tenho lá um sobrinho. Esses dias, não
temos sono por causa do processo. Está preso com uns amigos”, continua ela,
sempre seguida pelo silêncio de solidariedade dos demais. “Pegaram à força uma
moça do bairro”. Dito isso, os rostos parecem desfazer a empatia inicial, o que
veio a piorar quando a agente trouxe cá fora a voz da sua alma: “Mas a moça também
já não era virgem, é mãe de dois filhos até”… O repúdio foi geral, como quem
diz, não é pelo tipo, é pelo acto.
Gociante Patissa, Lobito 23.01.2013
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