quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

(Do arquivo) Crónica: ELA NÃO TINHA O DIREITO DE O PERDOAR


Nota: Ao ouvir das novas revelações do caso Jorge Valério, pensei num texto que partilhei há quatro anos:

Crónica: ELA NÃO TINHA O DIREITO DE O PERDOAR

Perdoar? Talvez não, (era o mais fácil de imaginar) depois do que ele fez. De tal modo que, quando passaram por mim, no princípio deste mês, felizes, aos abraços, ela sorrindo de maneira desarmada, não evitei a dúvida sobre até que ponto se pode “arriscar” na lógica da segunda oportunidade.

Para além da maresia do local, o aeroporto é também um bom barómetro para ver que há pessoas/mulheres a quem a lei devia proibir de sair de casa. Assim não nos passaria pela cabeça a tentação de lhes roubar o sorriso, o corpo, a voz (não é justo que pertençam já a alguém!). Era o caso dela! A rapariga, como que a pressentir que tinha “fã à primeira vista”, agarrava-se ainda mais ao corpo atlético do "dono", esbanjando brisas de felicidade. Viajavam juntos. Que pecado! Faria mais sentido que fosse outra pessoa no lugar, mas era ele mesmo! Irónico. Bonita, inteligente… De que adianta serem belas quando não são nossas?!

O “infeliz”, talvez já acomodado com o que tem, não se envolvia com a mesma electricidade que ela. De vez em quando levava a mão à região dos seios dela – seios de estrela de televisão! Bem, mas sei disfarçar, aliás conheço o meu lugar…

Flashback: encontram-se em casa (ou no carro). Beijos, abraços, o clímax aquece e fazem amor, namorados que são. Só que, desta vez, ele tem em mãos um telemóvel novo, caro e cheio de funções. E, pondo em prática a máxima de que “amar e ter juízo não é possível”, ele decide filmar o acto sexual. Ela, um tanto perdida no calor do momento, ou se calhar nem por isso, sorri de surpresa, nega um bocado, mas “como ele é o dono”, permite. Depois do acto o casal ri-se do que foi capaz de fazer, quando ambos viajavam de excitação. Ela parte para a casa e “está tudo bem!”. Mas só após o namoro terminar é que percebe quão parva chegou a ser ao deixar-se filmar tal como veio ao mundo e logo na hora de obedecer à libido. Mas já é tarde: a imagem circula na Internet e no telefone de quem quiser. Longe de ficção, uma realidade que se repetia.

Com ela aconteceu o mesmo, por volta de 2007, quando andavam na moda os vídeos caseiros de cenas de sexo, regra geral sem o consentimento da rapariga, ou usados como vingança. A moral social foi imediata a condenar. Os tribunais e a polícia não ficaram fora de campo, não obstante terem sido apanhados em contra-mão, pois, no dizer dos entendidos, a moldura penal para crimes do género estava ainda por existir. «À nossa juventude faltam conhecimentos básicos para se viver em sociedade condignamente, e passa necessariamente pela educação», defendia, na ocasião, o padre e docente de ética, João Cassanji Santos.

Veio a erosão do tempo, e tudo “apagou”, processo acelerado talvez pelo desaparecimento dos tais vídeos. Assim julgava eu, até ver, minutos antes de iniciar essa crónica, uma senhora a visualizar no seu telemóvel cenas do tipo. «É gravação… Aí eu não estava a fazer nada, estava a vestir», esclarecia à amiga, com quem rasgava gargalhadas de cumplicidade.

Gociante Patissa, aeroporto da Catumbela, 25 Abril 2009
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