Isso foi naquele tempo em que os rapazes se
declaravam, plagiando esta ou aquela letra de música romântica, e aguardavam longos
dias pelo sim da rapariga, ou então pela gravidez que não era sua. Longe de
imaginar que anos depois, hoje digo, viria a ser tudo mais fácil, pois há “músicas”
com requerimento incalculável na rasteira bandeira cultural chamada mentalidade
do ku-duro: para tocar nas mamas, para windeck, para espreitar por baixo do
vestido, enfim.
Naquela época, o ajudante de carpinteiro vivia entusiasmo
redobrado, um pouco por ter achado dicionário lá no serviço, velho, velho, como
o amor, e que tinha a cor da madeira; outro pouco do entusiasmo devia-se à
intensidade dos sentimentos, ou no mínimo ansiedade, num quase namoro. Porém,
quando chegasse perto da rapariga, as palavras fugiam.
“Você me procura, mas não fala quase nada”,
disse-lhe, entre o carinho e o protesto, a menina.
“Bem, minha bem-quista, é que quando te vejo, sinto… eh, no peito…
algumas espingardas”.
A rapariga sorriu um pouco, para soar simpática. Era bem capaz de nunca
ter ouvido falar em espingardas (já que a guerra em Angola foi feita
com armas e armamento de verdade, não espingardazinhas).
Despediram-se com promessa de um breve encontro. Isso, digo eu, se as
espingardas não explodissem no peito do rapaz. É que se uma já mataria,
imaginemos várias explodindo no peito de alguém. Definitivamente, no amor é
como na guerra.
Gociante Patissa 07.01.13 (crónica em construção)
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