O mudo vai à boleia num camião que leva troncos para a serração. Num dos solavancos, dois troncos entalam uma das pernas do mudo. O mudo grita, como pode. O motorista, condoído, pára ao primeiro sinal vertical de posto de saúde. Os enfermeiros dedicam à perna direita o tempo de massagem que os manuais um dia os ensinaram. Sem inchaço aparente, o camião segue a viagem, agora já num troço de asfalto irrepreensível. Entretanto, lá está outra vez o mudo a gritar. O motorista, outra vez atencioso, pergunta ao mudo o que se passa. O mudo indica a perna direita, a que fora massageada, mas tão logo indica a perna esquerda. Sempre fora a perna esquerda a vítima de entalo, só que o mudo dera para tratamento a direita… para ocultar talvez a gangrena.
Gociante Patissa, 2013
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