quarta-feira, 25 de julho de 2018

Opinião | Aos organizadores de eventos de entrega de prémios “às pressas e - nalguns casos - às mesmas pessoas”


Desabafo do escritor Joe D'Almeida, in Facebook, 25.07.2018

Angola não é definitivamente Luanda. Por mais que se diminua, aqui e acolá, a redutora visão geográfica de vossa insistência. O país é vasto e tem um sem número de referências palpáveis a dignificarem diariamente as suas comunidades. 

Há, igualmente, por mais que selectivamente invisíveis aos vossos olhos e ouvidos, programas e actividades de entidades singulares e colectivas de indubitável importância para o crescimento cultural e cívico dos cidadãos deste país, agora reduzido apenas a galas, tapetes vermelhos e compadrio.


Em Benguela, por exemplo, um conhecido escritor e jornalista há anos que tem feito um trabalho excelente na divulgação e expansão do Umbundo, oral e escrito, além de presentear-nos com um dos melhores blogues a nível nacional e um programa de rádio de excepcional qualidade. O seu nome? Gociante Patissa.

No Namibe, para gáudio da juventude local, há uma jovem destinada a grandes feitos na literatura nacional. Escreve genialmente, corrige textos, auxilia outros alunos na elaboração de teses, estuda afincadamente a literatura nacional e tem em José Eduardo Agualusa a sua fonte de inspiração. Ela chama-se Leopoldina Fekayamale Fekayamale.

Falando em Luanda, já que para muitos é este o nome da República, acaso esta gente que vai oferecendo prémios a esmo tem seguido o programa Conversa à Sombra da Mulemba de Raimundo Salvador? Eis aqui algo para reflectir; a banalidade não é o forte deste programa, aliás, o conceito deste programa reduz a zero os padrões de banalidade exigidos por certa classe elitista.

Acaso esta gente tem seguido o trabalho magnífico das associações Ondjango Feminista e Handeka?

Os feitos dos cidadãos Agualusa e Waldemar Bastos, além-mar, não podem continuar a ser descurados.

Há professores a leccionarem debaixo de árvores em várias localidades de Angola. Angola tem dois representantes na National Geographic.

Angola tem um professor-doutor a leccionar numa das melhores universidades do Reino Unido, não será isto um feito magnífico para o país e digno de reconhecimento público?
O maior promotor cultural da comunidade lusófona em Toronto, Canadá, é Angolano. Seu nome? Francisco Pegado.

Urge sair da zona de conforto e expandir, o quanto antes, a geografia em vossa posse.

Por obséquio
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