quarta-feira, 4 de julho de 2018

“Em Angola não há jornalismo investigativo”, garante Gustavo Costa


O jornalista Gustavo Costa (GC) disse que, em termos globais, não existe jornalismo investigativo em Angola. Há uma acção pontual do Rafael Marques e, às vezes, numa reportagem da televisão, mas de uma maneira geral não faz parte da nossa cultura esse tipo de jornalismo.

Fonte: O País (Maria Teixeira), 04.07.2018 | Foto: Jornal Cultura (Paulino Damião)

O jornalista fez essa afirmação, ontem, durante o workshop sobre “Comunicação: Quarto Poder”, no “Exec talk” promovido pela Academia BAI, em Luanda. Do seu ponto de vista, em Angola não há jornalismo investigativo e esse é um desafio que se coloca ao pessoal da comunicação social, pelo que requer também algum investimento e dinheiro.

“É preciso ter dinheiro para se fazer um jornalismo investigativo e também saber quem apoia o jornalista. Neste aspecto, vivemos sentimentos muito difíceis, primeiro porque os jornais vivem à base da publicidade e, segundo, tem a ver com o investimento em conhecimento”, explicou.

Esclareceu que, neste particular, o quadro é absolutamente lastimoso porque o nível de muitos jornalistas angolanos deixa muito a desejar, por existirem “profissionais que não sabem escrever e ler. É muito difícil ser jornalista”. Nesse contexto, GC considera que o jornalismo de investigação em Angola é ainda uma miragem e há necessidade de se pensar primeiro num ABC de jornalismo para depois se passar para o de investigação.

Ainda sobre o tema, GC disse que quando ingressou na profissão, começou fazendo parte de “um jornalismo que já estava encarcerado num quarto e esse quarto era o poder”. Esse encarceramento prolongou-se até 1975, altura em que havia, em Luanda, quatro jornais. Já ao longo da independência não tiveram um quarto poder, tiveram um quarto do poder. Para GC, a imprensa era um quarto do poder por ser um instrumento que estava ao serviço dos poderes, sem qualquer massa crítica que a diferenciasse do próprio poder. “Podemos talvez hoje estar a viver uma fase de transição em que os poderes eram reconhecidos e não podem sobreviver todos eles sem contra poderes”, explicou.

Disse ainda que um desses contra poderes é justamente a imprensa, mas não é o único, sendo que existem mais três: o poder judicial, o legislativo e a sociedade civil. “Portanto, falar em quarto poder aqui em Angola temos que nos sujeitar a um novo contexto”.

O académico Filipe Zau, também parte da plenária, referiu que se regista na sociedade angolana uma maior preocupação com a certificação do que com a competência.

“Certificação parece que resolve todos os problemas e depois na prática do saber fazer não aparece. Hoje em dia o ensino superior vale muito pouco em termos de competência. As pessoas vão fazendo mais e mais formações e parece que vão fugindo”, disse.

Zau disse ainda que os três poderes existem como orgânica de funcionamento e o quarto poder está, muitas vezes, situado na iniciativa própria de cada individuo e não necessariamente num órgão, num Ministério próprio ou num conjunto de coisas.

Nota de rodapé
Gustavo Costa venceu, antigo director do Novo Jornal e actual correspondente de alguns jornais europeus, venceu em 2010 o Prémio Nacional de Jornalismo, na categoria de imprensa tendo, equivalente a 35 mil USD e a 19ª edição do Prémio Maboque de Jornalismo, no ano de 2012, arrebatando cem mil USD.
Share:

0 Deixe o seu comentário:

A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

Publicações arquivadas