O
jornalista Gustavo Costa (GC) disse que, em termos globais, não existe
jornalismo investigativo em Angola. Há uma acção pontual do Rafael Marques e,
às vezes, numa reportagem da televisão, mas de uma maneira geral não faz parte
da nossa cultura esse tipo de jornalismo.
O jornalista fez
essa afirmação, ontem, durante o workshop sobre “Comunicação: Quarto Poder”, no
“Exec talk” promovido pela Academia BAI, em Luanda. Do seu ponto de vista, em
Angola não há jornalismo investigativo e esse é um desafio que se coloca ao
pessoal da comunicação social, pelo que requer também algum investimento e
dinheiro.
“É preciso ter
dinheiro para se fazer um jornalismo investigativo e também saber quem apoia o
jornalista. Neste aspecto, vivemos sentimentos muito difíceis, primeiro porque
os jornais vivem à base da publicidade e, segundo, tem a ver com o investimento
em conhecimento”, explicou.
Esclareceu que,
neste particular, o quadro é absolutamente lastimoso porque o nível de muitos jornalistas
angolanos deixa muito a desejar, por existirem “profissionais que não sabem
escrever e ler. É muito difícil ser jornalista”. Nesse contexto, GC considera que o jornalismo de investigação em
Angola é ainda uma miragem e há necessidade de se pensar primeiro num ABC de
jornalismo para depois se passar para o de investigação.
Ainda sobre o
tema, GC disse que quando ingressou na
profissão, começou fazendo parte de “um jornalismo que já estava encarcerado
num quarto e esse quarto era o poder”. Esse encarceramento prolongou-se até 1975,
altura em que havia, em Luanda, quatro jornais. Já ao longo da independência
não tiveram um quarto poder, tiveram um quarto do poder. Para GC, a imprensa era um quarto do poder por ser um instrumento
que estava ao serviço dos poderes, sem qualquer massa crítica que a
diferenciasse do próprio poder. “Podemos talvez hoje estar a viver uma fase de
transição em que os poderes eram reconhecidos e não podem sobreviver todos eles
sem contra poderes”, explicou.
Disse ainda que um
desses contra poderes é justamente a imprensa, mas não é o único, sendo que existem
mais três: o poder judicial, o legislativo e a sociedade civil. “Portanto,
falar em quarto poder aqui em Angola temos que nos sujeitar a um novo contexto”.
O académico Filipe
Zau, também parte da plenária, referiu que se regista na sociedade angolana uma
maior preocupação com a certificação do que com a competência.
“Certificação
parece que resolve todos os problemas e depois na prática do saber fazer não
aparece. Hoje em dia o ensino superior vale muito pouco em termos de competência.
As pessoas vão fazendo mais e mais formações e parece que vão fugindo”, disse.
Zau disse ainda
que os três poderes existem como orgânica de funcionamento e o quarto poder
está, muitas vezes, situado na iniciativa própria de cada individuo e não
necessariamente num órgão, num Ministério próprio ou num conjunto de coisas.
Nota de rodapé
Gustavo Costa venceu, antigo director do Novo Jornal e
actual correspondente de alguns jornais europeus, venceu em 2010 o Prémio
Nacional de Jornalismo, na categoria de imprensa tendo, equivalente a 35 mil USD
e a 19ª edição do Prémio Maboque de Jornalismo, no ano de 2012, arrebatando cem
mil USD.
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