“Está, sim, ouvinte, bom dia…”
“Aló…”
“Estamos a ouvi-la. Pode falar…”
“Estamos a ouvi-la. Pode falar…”
“Ene! Não se ouve nada – esses
telefones d’agora afinal estão como, oh minha vida, que a pessoa liga para a
rádio, gasta saldo, e não se ouve nada?!…”
“Aló! Mas nós estamos a ouvi-la
bem. Pode prosseguir…”
“Aló… aló”
“Bem, assim fica realmente muito
difícil. Vamos pedir ao nosso operador de som, o Manuel da Silva, para mexer
nos botões, a ver se de uma vez por todas podemos colher a intervenção da nossa
ouvinte. São oito da manhã e quarenta e cinco minutos, este é o seu espaço
Ecclesia 24 Horas, magazine informativo e agenda social de Benguela e
arredores, em fase experimental. Estamos situados na Rua do Bispado. Vamos ao
ar às segundas, quartas e sextas-feiras, das oito às dez da manhã em directo. A
coordenação geral é do padre Domingos Kakepa Graciano, a nossa equipa é ainda
formada por Horácio Dos Reis, Pedro Tchindele, António Mateus e Engrácia
Gonçalves. Agora, sim, parece que é possível. Aló, ouvinte, bom dia…”
“Bom dia. É o senhor jornalista
mano Manel?”
“Sim, Zé Manel. Pode expor. Qual
é a sua situação?”
“Mano Manel, é assim. Aqui em
casa, problema é só mesmo o pai das crianças. Está demais…”
“O que é que se passa de concreto, senhora? Qual é, já agora, o seu nome?”
“O que é que se passa de concreto, senhora? Qual é, já agora, o seu nome?”
“Laurieta. Laurieta Matilde.”
“De onde é que nos fala?”
“Do telefone. Vou falar rápido
porque o saldo é pouco e aqui também, no mercado da fruta, toda a hora é
atender cliente. Mas é assim, mano Manel. Você, como jornalista, vê só o que
podes fazer por nós, porque o jeito que o pai das crianças ultimamente come,
não vamos chegar em Novembro… Nem vamos ver o primeiro comício da independência
total de João Lourenço…”
“É complicado…”
“Eu sei. Aí fiz o quê? Fui
obrigada a lhe dar garfo, pelo menos só para ver se a comida cai e dá tempo de
comermos na velocidade dele, nada. Vou fazer como com dois filhos?…”
“Mas se ele come muito, não é
sinal de boa saúde? Ajude-nos a perceber…”
“É assim. Aqui em casa sempre
comemos com a mão, é nosso hábito, não sei se estás a ver, ó jornalista mano
Manel. Mas então não chegou num ponto que ele começou a comer como liambeiro,
apetite tipo pessoa que fumou liamba, cada monte que ele manda para a boca,
você até assusta?!”
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Gociante Patissa | Aeroporto Internacional da Catumbela, 27.07.2018 (ficção)
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