No dia em que a cidade de Benguela completou 401 anos desde a sua
fundação pelo português Cerveira Pereira a 17 de Maio de 1617, Luís Kandjimbu,
um proeminente cosmopolita filho da terra e radicado em Luanda, depois de uns
anos dedicados à diplomacia na Europa, fez questão de regressar para apresentar
e autografar o seu livro de crónicas intitulado "Acasos e Melomanias
Urbanas", que mescla cenas reais e cenas ficcionadas.
É a mais recente obra do autor, publicada sob chancela da
Acácias Editora, coleccção Troncos da Literatura. As crónicas narram vivências nostálgicas,
tendo a boemia como pano de fundo e colocam duas artes em diálogo, sendo a
literatura e a música popular urbana angolana nas décadas de 70 e 80 do século
20.
No dizer do próprio Kandjimbu, “o livro é um testemunho
interessante sobre música popular urbana angolana. Ou melhor, sobre música
popular urbana angolana vista por um benguelense. O diálogo entre a música e a
literatura nem sempre é bem visto, e então livro em para mostrar que podem entrar
em um diálogo perfeito.”
A obra tem o condão de intrigar o leitor logo no contacto com a
capa ao sugerir autoria póstuma de um misterioso Noël Vilyaneke. Este teria deixado
testamento para que saísse em nome de Kandjimbu, amigo que no entanto não
chegou a conhecer. Heterónimo?
A sessão teve lugar no espaço de exposição da artista plástica
Carla Peairo, no Museu de Arqueologia, antigo armazém de escravos, onde decorre
o Acácias-Fest. Estiveram presentes contemporâneos do autor, estudantes, jornalistas,
comunidade académica, amantes da cultura e cultores de letras, com realce para
Amélia Dalomba e Paula Russa, ambas membros da União dos Escritores Angolanos.
Logo de seguida, Kandjimbu, executante de viola, juntou-se à
Banda 70 e tomaram deassalto o palco. Da referida banda fazem parte Raúl
Tulingas, percussionista, e o guitarrista Boto Trindade, autor do clássico
instrumental “Benguela Libertada”, uma das figuras homenageadas nas crónicas do
livro "Acasos e Melomanias Urbanas".
Antigo apresentador do programa “Leituras”, da Televisão Pública
de Angola, e Vice-ministro da Cultura, Luís Kandjimbo nasceu em Benguela em 1960. Poeta e crítico
literário, é membro da União dos Escritores Angolanos (UEA) e da Associação
para o Estudo das Literaturas Africanas de Paris (APELA). Publicou
“Apuros de Vigília" (ensaio e crítica), "Apologia de Kalitangi" (ensaio
e crítica), “A Estrada da Secura” (poesia, Menção Honrosa do Prémio Sonangol de
Literatura), “O Noctívago e Outras Estórias de um benguelense” (contos),
“De Vagares a Vestígios” (Poesia), “Ideogramas de Ngangi” (ensaio), “Ensaio
para Inversão do Olhar da Literatura Angolana à Literatura Portuguesa”.
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