Afinal não morreu. A contestação do Movimento Tolerância Linguística (MTL) ao livro "Ensaboado & Enxaguado - Língua Portuguesa & Etiqueta", do jurista e professor José Carlos de Almeida, lançado em 2010, evolui agora para um apelo aos empresários visando patrocinar a edição de um outro livro da autoria do referido movimento. Para o efeito, uma conta bancária foi disponibilizada para arrecadar donativos.
Em nota publicada pelo Club-k, o MTL argumenta que o livro na forja, "Enxaguando a língua ensaboada - Lições de gramática e linguística portuguesa(s)", para além de servir como corrector gramatical e sociolinguístico, "surge como um instrumento defensor e promotor, embora não tenha uma gramática externalizada, do Português Angolano, língua materna de muitos, aquele português falado por uma boa parte de angolanos, letrados ou não, em situações formais ou não."
O assunto arrasta-se há mais de dois anos, tendo inclusive movimentado uma manifestação pelas artérias da cidade de Luanda no dia 16 de Julho de 2016. Mas já naquela altura, a "causa" do MTL, um grupo de estudiosos da língua, de estudantes e de professores de língua portuguesa, era vista com certo cepticismo por parte de quem não conseguia divisar até que ponto o ângulo de intervenção (um livro sem cariz institucional) é representativo, relevante e pertinente, num país com tantos problemas estruturantes no campo da pesquisa e do ensino. Houve quem lhes acusasse de invejosos e imaturos, e que estariam involuntariamente a promover o livro com a "feroz" contestação do mesmo.
Auto-intitulado escritor, José Almeida (que não é formado em linguística, pelo que presta um serviço de "curioso") pode ter-se excedido no tom normativo e punitivo com que tricota as linhas do "Ensaboado e Enxaguado", para além do defeito de não alistar a bibliografia consultada, como bem mandam as regras da honestidade intelectual. Ainda assim, está no seu direito de se exprimir quanto ao que julga saber, no caso vertente usando o formato do livro. Da mediatização de eventuais "dislates", dando-lhes peso de "português correcto", os próprios órgãos de comunicação social (principalmente a rádio e a TV que fazem dele um modelo de referência) levam parte da culpa, por omissão do crivo que seria a figura do editor de cultura.
Outras vozes academicamente autorizadas já esgrimiram os seus argumentos nas páginas do jornal O País, aqui a destacar o jornalista, docente, escritor e crítico literário António Quino, para quem o autor de Ensaboado & Enxaguado, ao tentar impôr uma norma estática e que ignora a contribuição das línguas e linguagens locais, a par da deturpação do significado de alguns verbos que o livro diz não existirem (quando na verdade estão correctos), revela desconhecer aspectos básicos da sociolínguística e da pragmática.
Na matéria estampada ontem pelo club-k, o internauta Rodrigo Assis faz uma chamada de atenção aos contestatários: "A ideia é boa, mas seria melhor se estudasse[m] as línguas nativas, até porque a língua portuguesa está bem servida e com vasta comunidade, enquanto que o nosso kimbundu, umbundu, fiote, ngangela, tchokwe entre outras precisam de mais atenção para que se evite a extinção."
Ainda era só isso. Obrigado. Gociante Patissa | Benguela, 16.05.2018 |www.angodebates.blogspot.com e www.ombebwa.blogspot.com
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