quarta-feira, 16 de maio de 2018

Ao vivo hoje com entradas grátis em Benguela | NDAKA YO WIÑI ABANDONOU CARREIRAS NOS PETRÓLEOS E NA BANCA PARA SER MÚSICO

Ndaka Yo Wiñi ensaiando com grupos folclóricos
do Bocoio e Dombe Grande.
Os músicos Ndaka Yo Wiñi, Madalena Kassapi e Katiliana Kapindiça, vindos de Luanda, são cabeças de cartaz da primeira noite de espectáculo no «Acácias-Fest 2018», nesta quarta-feira (16/05), pelas 21 horas, numa iniciativa da cervejeira Cuca alusiva aos 401 anos da cidade de Benguela. O palco está montado no Museu Nacional de Arqueologia.

Ndaka Yo Wiñi, em umbundu A Voz do Povo, 37 anos, natural do Lobito, reside em Luanda. Prevê lançar em Julho o seu primeiro álbum do género Afro jazz, intitulado «Olukwembo». Cultor do estilo folclórico Olundongo, da região sul de Angola, alvo de fusões com diversas sonoridades, ganha notoriedade nos três últimos anos, fruto do seu talento e de sua ousadia. Aliás, ousadia é já um traço saliente da sua identidade artística.
  
Abandonou uma próspera carreira no ramo petrolífero, especialidade de engenharia química, para seguir a vocação da música. Pelas mesmas razões abdicou a carreira de gestor bancário. Nem sempre foi bem compreendido. Ndaka volta a surpreender ao lançar a carreira da anciã Madalena Kassapi, de 67 anos de idade, sua mãe, com quem faz dueto.

Anciã e intérprete Madalena Kapindisa defende
transmissão da língua nacional entre avós  e netos
para evitar mal-entendidos
“Nos petróleos trabalhei de 2002 a 2010. Foram quatro anos de formação em Bangkok, na Tailândia, mais quatro de trabalho em Cabinda”, conta para adiante acrescer que a gestão bancária não era para durar. “Posto em Luanda, comecei a ter dificuldades de sobrevivência. Saía do Gamek até ao espaço Bahia, ou até à Mutamba, só para ganhar um espaço de tocar e mostrar o meu trabalho. Às vezes nem chegava a tocar. Fiz isso várias vezes, até que um dia recebi uma chamada em resposta à solicitação de emprego que havia feito. Fui ali porque precisava de dinheiro para investir na música. O objectivo era ir à banca para fazer crédito e sair. Comprei equipamento de banda e comecei a treinar.”

Alguns vídeos postos a circular nas redes sociais, da actuação de mãe e filho em palcos da capital do país, têem merecido rasgados elogios. Mas convenhamos, normalmente os pais é que lançam os filhos para a carreira musical, o inverso ainda é quase insólito.

“A minha mãe sempre gostou de cantar e dançar. Ela sempre foi muito destacada. Contava-nos muitas estórias, e quase todas eram acompanhadas de uma canção”, revela o músico que vê na iniciativa uma forma de mostrar respeito aos nossos ancestrais.
Katiliana Kapindiça, Ndaka Yo Wiñi e Madalena Kassapi

Já a anciã Madalena, que vai subir ao palco pela terceira vez, diz ter recebido o convite do filho com agrado. Vê na pareceria uma oportunidade de ensinar e aprender, na missão que tem de transmitir valores de identidade cultural. “Se não ensinamos as nossas línguas nacionais, temos depois que os netos julgam que estamos a falar mal deles e nós também nos auto-excluímos julgando que nos estão a desprezar. Falta entendimento”, alertou.

Ndaka é mentor da empresa Ombjenje, em umbundu Cabaça, que traz a Benguela a jovem Katiliana Kapindiça, formada em música na Inglaterra. Não é propriamente novo talento. A grande aparição deu-se em Portugal, no concurso Operação Triunfo, em 2004.

“A Katiliana está a despontar de uma maneira suis generis, portanto uma forma de dar prestígio a todo o trabalho que ela tem vindo a desenvolver fora. Eu acho que quando vem cá para Angola uma cantora destas, a questão não é que canta Jazz ou canta em inglês. Temos que abraçar os nossos e ajudar. Ela tem um canto esplêndido”, afiançou.
Texto e fotos: Gociante Patissa | www.angodebates.blogspot.com
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