segunda-feira, 31 de março de 2014
Nem sonhar podemos
Ao passar pelo mostruário de uma representante, gostei à primeira vista
de um pequeno jeep - nessa impotência só mesmo do longe gostar, como costumamos
amistar estrelas de cinema. Ao preço afixado no pára-brisas, o qual já me seria
um milagre pagar, a moça que atende - aqui a destacar a beleza na aparência e
na boa disposição - convida-me ao desengano. Com a nova tabela aduaneira, sobe
mais oito mil dólares (tão somente o triplo do preço pelo que pretendo vender o
meu Ford figo). Ora, desta feita, passa inclusive a ser impossível ao menos
o carrito aparecer-me no sonho hahahaha
domingo, 30 de março de 2014
Não restam dúvidas quanto à decisão de vender o meu carro, o dinheiro servirá para desalfandegar a frota de "rent-a-camel", empatada pela entrada em vigor da nova pauta aduaneira. Como empreendedor, ainda ofusco o ranking do empresário que trouxe Ferrari a Benguela, já que os meus veículos, para além de possantes, são de carne e osso hahaha (fotos de Israel, Fev. 2013)
Vou precisar de um manual sobre "como disparatar em condições", dado que os bichos não têm uma voz boa para buzina
Nos momentos "mortos" no serviço, soube bem retomar a música portuguesa, com a abundante poesia na voz e letra
ILUMINA-ME (Pedro Abrunhosa)
Gosto de ti como quem gosta do sábado,
Gosto de ti como quem abraça o fogo,
Gosto de ti como quem vence o espaço,
Como quem abre o regaço,
Como quem salta o vazio,
Um barco aporta no rio,
Um homem morre no esforço,
Sete colinas no dorso
E uma cidade p'ra mim.
Gosto de ti como quem gosta do sábado,
Gosto de ti como quem abraça o fogo,
Gosto de ti como quem vence o espaço,
Como quem abre o regaço,
Como quem salta o vazio,
Um barco aporta no rio,
Um homem morre no esforço,
Sete colinas no dorso
E uma cidade p'ra mim.
sábado, 29 de março de 2014
Excerto
Repórter Canal SPTV: Acha que a juventude
angolana, nestes dias, tem sabido recuperar os valores perdidos da tradição
musical de Angola?
Júlio Gil: Acho que não! Somos poucos. Pode fazer uma pesquisa, mas somos poucos.
Repórter Canal SPTV: Porquê?
Júlio Gil: Acho que não! Somos poucos. Pode fazer uma pesquisa, mas somos poucos.
Repórter Canal SPTV: Porquê?
Júlio Gil: Acho que
há uma tendência para o entusiasmo que "está a bater". Então, nós não
primamos por isso; nós primamos pela raiz, e vamos evoluindo.
(À margem da trova "Bibi", de Kyaku Kyadaff. Vídeo disponível no Youtube sob o título "Amor na música nacional")
(À margem da trova "Bibi", de Kyaku Kyadaff. Vídeo disponível no Youtube sob o título "Amor na música nacional")
sexta-feira, 28 de março de 2014
"Venda de óleo de mupeque vira fonte de rendimento", diz título do Jornal de Angola. Mas para mim, a notícia seria: venda de óleo mumpeke não gera rendimento suficiente. É que a venda do referido óleo é tão antiga como o exótico desfile dos vakuvale (mukubais) nos centros urbanos, não constituindo como tal novidade alguma. Por outro lado, ultimamente cresce a tendência de se pedir esmola, no que se depreende que as vendas já não produzem grande coisa. Falo com conhecimento de causa de Benguela, Luanda e Namibe.
Rostos ao vento, assim é a Praia Morena
a modelo é a Dezilda, amiga minha profissional de televisão. Benguela, 27.03.2014 (f11; ISO 100; 1/60, 11 da manhã)
O caminho para o serviço foi assim ao volante, ouvindo música portuguesa com abundante poesia na letra e na voz
PODE O CÉU SER TÃO LONGE” (Pedro Abrunhosa)
Vesti a luz do teu nome
E chamei-te pela noite,
Entraste no meu sono
Como o luar entra na fonte.
Trazes estórias e proezas
Dizes que tens tanto pr'a me dar,
Deixas sombras, incertezas,
E partes sem nunca me levar.
quinta-feira, 27 de março de 2014
E porque hoje é Dia Mundial do TEATRO (partilho uma estrofe/refrão do poema/canção que dá título ao meu livro de estreia)
"Queria ser cantor
para o meu pranto na trova disfarçar
queria ser actor
para fingir que é arcaico amar".
Gociante Patissa, in “Consulado do Vazio”. 2008. KAT, Benguela
para o meu pranto na trova disfarçar
queria ser actor
para fingir que é arcaico amar".
Gociante Patissa, in “Consulado do Vazio”. 2008. KAT, Benguela
quarta-feira, 26 de março de 2014
terça-feira, 25 de março de 2014
TUDO É ALGUMA COISA
Diante da felicidade
da prosperidade
longas filas.
da prosperidade
longas filas.
Nos bairros nus
tantos corpos nus por vestir
crianças perdidas por salvar
palavras obscuras por apagar
do Livro do Mundo –
se o ler, perco a minha vista.
tantos corpos nus por vestir
crianças perdidas por salvar
palavras obscuras por apagar
do Livro do Mundo –
se o ler, perco a minha vista.
Tudo está nas pedras do caminho.
Tudo é alguma coisa.
Em torno dessa alguma coisa
eu escondo a minha pele
transformo-me em nada.
eu escondo a minha pele
transformo-me em nada.
Mergulhado numa água por branquear.
segunda-feira, 24 de março de 2014
domingo, 23 de março de 2014
O LEITOR. Diz que do Consulado do Vazio, o melhor é TRÍADE DA PEDRA DO TEMPO E DA OBRA
Na madrugada
acelera-se a
pulsação
no movimento irreversível do tempo
os fantasmas da responsabilidade cantam
ecoam as lembranças
é a despedida do repouso
De dia
o suor espalha-se
pelos poros afora
na orquestra de quem trabalha
estradas rasgam-se na curva dos
seios
na nudez do arco-íris
a vida é infindável caminhada
De noite
o corpo exausto cobra
pelo descanso
os olhos carregados enganam as almas
que adormecem masturbadas
Ontem foi partida
hoje é caminhada
e o amanhã uma promessa
ainda
Gociante Patissa, in «Consulado
do Vazio» (KAT-Consultoria e empreendimentos, LDA, Benguela, Maio 2008)
kudurista MENDES BRADA, autor de Tchove Tchove
Com a participação especial de de Bila Bila
(dos primeiros kuduristas de Benguela - no caso, do Bocoio - a se notabilizarem
em Luanda), "Tchove Tchve" é o ícone da expressão Umbundu
"Cove cove, camãnle civala" (o que é teu é teu, lidar com coisa
alheia é complexo). Mendes Brada, com cujo nome artístico não concordo muito,
foi morador do bairro de Santa-Cruz, irmão de Kali, de quem fui colega no PUNIV
do Lobito. Se dependesse só do carisma, MB, que tem também passagem pelo
serviço de táxi como motorista, teria a sua carreira sólida por muito mais
tempo. Eesteve ontem a animar o recital de poesia do Movimento Lev'Arte Benguela, não escapando por isso ao meu clique. Força, ex-vizinho!
O MEU CARRO QUER SER SEU, E A BOM PREÇO (em caso de interesse, mande e-mail, se faz favor)
Amigos
A minha preferida de todas as fotos que fiz no recital de poesia em homenagem à mulher, organizado pelo Movimento Lev'Arte Benguela. não editada, excepto a marca d'água. f/ 5.6, ISO 400, 1/40.
Competir com o saxofone
Era tido como um competidor compulsivo, um
defeito fora de todas as medidas de sóbria convivência que se possam imaginar,
do qual todavia se orgulhava, não se coibindo de o publicitar. No restaurante,
se para exemplo servir, já depois das dez da noite, de qualquer modo com uma
hora de atraso, entra o saxofonista em cena. Ao espírito do "cover"
de Djavan, que bem oleava olhares furtivos a beldades com marido ao lado, o competidor, como dito,
compulsivo, como se titular de uma grande descoberta se reivindicasse, anuncia
de boca cheia, aqui cheia mesmo de bife por mastigar, anuncia, de olhar firme
aos olhos da sua parceira: não sei cantar, mas sei beijar. E começa a sessão.
Vai o saxofonista na segunda música apenas, e lá o está o competidor a
descrever, em pé, o sexto beijo.
sábado, 22 de março de 2014
À mesa de bar
"Eu respeito aquele madiê."
"O fulano, né?"
"Ya, meu mano. O gajo fala línguas."
"Do tempo que viveu na Europa, né?"
"Ya. Não é que o fulano foi desmentir num cliente que aquele bizno não custava o preço que pagou... O wi tentou fatigar o negócio do outro, mostrou já a loja..."
"Caramba! E a diferença era grande?"
"Tipo que sim. Mas o madiê filipou. Disse mesmo: ó sacana, tu estudaste o quê? Tu não passas da 8ª. E para já, essas merdas que andas a vender, você não passa de empregado do fulano. Um dia fui nos teus clientes dar bandeira da comissão? Tu nunca vais viver bem como eu vivo!"
"E se falam?"
"Ya, o homem não é de guardar rancor".
"O fulano, né?"
"Ya, meu mano. O gajo fala línguas."
"Do tempo que viveu na Europa, né?"
"Ya. Não é que o fulano foi desmentir num cliente que aquele bizno não custava o preço que pagou... O wi tentou fatigar o negócio do outro, mostrou já a loja..."
"Caramba! E a diferença era grande?"
"Tipo que sim. Mas o madiê filipou. Disse mesmo: ó sacana, tu estudaste o quê? Tu não passas da 8ª. E para já, essas merdas que andas a vender, você não passa de empregado do fulano. Um dia fui nos teus clientes dar bandeira da comissão? Tu nunca vais viver bem como eu vivo!"
"E se falam?"
"Ya, o homem não é de guardar rancor".
"U halimi upewa ovipungu, u hatumbi onongombe upewa omalungangundi /omphembe"- (adágio Nyaneka-Nkhumbi)
"U
halimi upewa ovipungu, u hatumbi onongombe upewa omalungangundi/omphembe"- (adágio
Nyaneka-Nkhumbi) -Tradução: a quem não cultiva
deve-se oferecer sobejos de mantimentos, a quem não gosta de criar bois deve-se
oferecer restos de leite azedo.
"Ukombe vonjo ka li esala, mwenle yimbo wolyavela" (aforismo Umbundu)
"Ukombe
vonjo ka li esala, mwenle yimbo wolyavela" (aforismo Umbundu) - O hóspede
não come o ovo, foi-lhe cedido pelo anfitrião.
Enquadramento:
ao julgarmos o recém-chegado, há que apurar as responsabilidades do anfitrião.
sexta-feira, 21 de março de 2014
Muito agradecido pela sua visita
De acordo com o contador do meu blogue (leitura
de hoje, às 20h50), o número de páginas visitadas, só nos últimos 7 dias, é de
1.506 (mil e quinhentas e seis). Estamos no ar desde 2006, com destaque para
textos literários, desabafos do quotidiano, fotografia, entre outros, tendo
Angola acima de qualquer intenção político-partidária. Muito obrigado pela sua
visita!
Agenda
Estou a pensar em ir "invadir" o recital de poesia do Movimento Lev'Arte, na qualidade de "fotógrafo", para cobrir o evento. Está para sábado às 17 horas, na Mediateca de Benguela. Assim aproveito ensaiar um equipamento que comprei na Namíbia (flash, monopé, etc.), naquilo que foi a mais recente aventura por estrada.
Excerto
“O choro foi grande, mas interrompeu-se algumas vezes para comerem. Entretanto,
às seis da tarde, ao cantar do galo e às seis da manhã redobrava. Havia uma
velha que avisava as outras para chorarem.” – Alfredo Troni, in “Nga Mutúri”,
pág. 30. União dos Escritores Angolanos, 2013. Colecção
11 Clássicos da Literatura Angolana, 1ª edição. Luanda
RETRATO DO PINTOR SOLITÁRIO À BEIRA-MAR SONHADO
Era filósofo.
A barba hirsuta, glauca.
Nem Setembro nas mãos.
Ou flor bela nos lábios.
O Amor - uma invenção;
Ausentes sentidos sábios.
Do mar o som perdido
Das nuvens o capricho ledo
Da natureza esquecido.
Apenas
a agreste, impossível,
abstracta ao Sol destes Verões
e estranha, a barba glauca!
Era pintor e solitário
Filosófo da beira-mar
Oh! Maldito pesadelo!
A barba hirsuta, glauca.
Nem Setembro nas mãos.
Ou flor bela nos lábios.
O Amor - uma invenção;
Ausentes sentidos sábios.
Do mar o som perdido
Das nuvens o capricho ledo
Da natureza esquecido.
Apenas
a agreste, impossível,
abstracta ao Sol destes Verões
e estranha, a barba glauca!
Era pintor e solitário
Filosófo da beira-mar
Oh! Maldito pesadelo!
António Jacinto, poema datado de 14.6.68, in "Sobreviver em Tarrafal de Santiago", pág. 91. União dos Escritores Angolanos, 2013. Colecção 11 Clássicos da Literatura Angolana, 1ª edição. Luanda
"Ekunde ku alile ka lyukufeli vimo"
"Ekunde ku alile ka lyukufeli vimo" (adágio Umbundu) - Não te causa indigestão o feijão frade que não comeste.
Enquadramento: se não cometeste o erro, não tens que ter peso de consciência ou temer consequências.
quinta-feira, 20 de março de 2014
"Ku nununle, ku ende uteke; kuna waile okayevala" (aforismo Umbundu)
"Ku nununle, ku ende uteke; kuna waile okayevala" (aforismo Umbundu) - não andes pela noite nem pela ponta dos dedos do pé; notícias de onde foste sempre virão.
Enquadramento: é inútil escamotear a verdade; mais tarde ou mais cedo, ela vem à tona.Metáforas de um velho indignado para o genro violento
"Kocila ño oko ka twendi, pwãi oñoma kulo yiyevala" (Umbundu)
Literalmente: Só à arena é que não vamos, mas o ritmo do batuque chega até nós.
Literalmente: Só à arena é que não vamos, mas o ritmo do batuque chega até nós.
Enquadramento: Apesar de não termos o hábito de frequentar o vosso lar, estamos inteirados dos teus excessos.
quarta-feira, 19 de março de 2014
terça-feira, 18 de março de 2014
segunda-feira, 17 de março de 2014
Ondulações inóspitas
Nos olhos cativos de insónia
Sorrindo nessa hora
A voz e o choro de uma tempestade
Este pranto de
véspera feroz
Deixa vinho nos
corpos
Vulneráveis da
tradição
Eu, a
noite e a insónia
Fomos
forçados a navegar
… A
noite deixou de ser virgem
David Capelenguela Capelenguela, in "Vozes Ambguas", 2004. Editorial Nzila, Luanda, Angola
A chuva
Utilidade pública
Até onde sei, está ainda aberta a recepção de candidaturas para a bolsa literária do projecto LER ANGOLA, iniciativa do governo, na base do qual 11 obras de novos autores serão seleccionadas para publicação, cabendo a cada felizardo um subsídio de 250 mil kwanzas. Está aí mais uma oportunidade de arriscar, para quem se dedica ao exercício da escrita criativa (poesia, crónicas, contos, novela, romance). Arriscar é sempre melhor do que manter o discurso de coitado, de excluído e essa permanente posição de julgar que quem consegue publicar ou ser reconhecido foi eventualmente "levado ao colo".Nós aqui só temos um lema: «O nosso trabalho é trabalhar»!
domingo, 16 de março de 2014
Poesia que nos chega do Kunene
Reconciliação
Veio de dia
E na noite saiu.
Cecília Ndanhakukua, in 'Insónias Líricas', pág 22. Editorial Nzila, 2002. Luanda
Veio de dia
E na noite saiu.
Cecília Ndanhakukua, in 'Insónias Líricas', pág 22. Editorial Nzila, 2002. Luanda
Minha nota: O título tem uma imagem intensa com promessa de felicidade, o verso final choca o leitor com a imagem de desilusão (contraste). Quer dizer, a reconciliação, no lugar de curar, foi apenas um efémero encontro de reabrir feridas. O amor é, por vezes, assim.A reconciliação acabou sendo... uma "recaída".
Citação
"Porque, ao nosso entender, a crítica é apenas o prazer de compreender os espíritos e não de os ensinar" (David Capelenguela Capelenguela, trecho do prefácio ao livro 'Insónias Líricas', da autoria de Cecília Ndanhakukua. Editorial Nzila, 2002. Luanda)
sábado, 15 de março de 2014
Por estas e por outras razões, tenho o grato orgulho de ter sentado na carteira para aperfeiçoar o meu inglês (sobretudo a pronúncia) na Nancy's English School, onde completei o 6º estágio, ainda no ano de 2005
Sim, para quem estiver em Benguela e se importa (pode) investir nos conhecimentos, aconselho uma visita ao centro da minha amiga Nancy A. Gottlieb, ali pelo jardim do Consulado Português.
quinta-feira, 13 de março de 2014
Diário
Acho uma tristeza quando académicos se envolvem em debates (como agora no Janela Aberta, TPA) tendo como ponto de partida afirmações estereotipadas como "a juventude angolana é patriota", ou o seu oposto "a juventude angolana não é patriota". Caramba, que balizas ou premissas se usam para estudar "juventude angolana"? Sociólogos, historiadores e tantos mais epítetos prestam-se a discutir generalizações?
Literatura nacional debatida em Roma
Texto e foto-Jornal de Angola (13/03/14): Um
Colóquio Internacional denominado “Literatura Angolana Hoje” realiza-se de 23 a
25 deste mês, na capital italiana, numa iniciativa conjunta da União dos
Escritores Angolanos (UEA) e a Universitá Degli Studi Roma Tre.
O colóquio internacional propõe ser uma ocasião de debate entre figuras do meio cultural angolano e o mundo académico italiano que, desde sempre, se tem dedicado com muito interesse ao estudo da literatura e da cultura angolana.
Entre os participantes no colóquio, destacam-se as presenças do Embaixador de Angola em Itália, Florêncio Mariano da Conceição de Almeida, o secretário-geral da UEA, Carmo Neto, o escritor José Luís Mendonça e o docente universitário de Literatura António Quino.
O colóquio internacional propõe ser uma ocasião de debate entre figuras do meio cultural angolano e o mundo académico italiano que, desde sempre, se tem dedicado com muito interesse ao estudo da literatura e da cultura angolana.
Entre os participantes no colóquio, destacam-se as presenças do Embaixador de Angola em Itália, Florêncio Mariano da Conceição de Almeida, o secretário-geral da UEA, Carmo Neto, o escritor José Luís Mendonça e o docente universitário de Literatura António Quino.
quarta-feira, 12 de março de 2014
Diário
Chegado o dia, levo um documento a uma certa
repartição para o devido averbamento. Instantes depois, na eficiência que
caracteriza a instituição, surge a chamada, baseada na leitura do documento.
"Manuel Patissa!" Com uma vontade de gritar "era pai do meu pai,
dele já só restam ossos, caramba!", dirijo-me ao guichet para receber o
papel. Como se já não bastasse ser-se Daniel (de que por acaso não gosto), vou
pulando de vez em quando para Manuel. O pior é que faz algum sentido, uma vez
que Daniel surgiu para "poupar" o nobre nome de Manuel, o patriarca,
que era meu xará, com todo o simbolismo cultural que disso advém. Mas como é
que eles já sabem, terá sido pela CIA/Obama? hahahaha
terça-feira, 11 de março de 2014
Quem os vai proteger dos excessos do cliente?
"Protector", "efectivo",
"operativo", "maior", "segurança",
"ango-segu", "guarda", a lista de títulos destes
pára-militares do sector privado é interminável. São bastante populares. A sua
tarefa é que não é, contudo, das mais bem definidas. Muitos deles ex-militares
desmobilizados, outros tantos nem por isso. Saem de casa para o trabalho, que é
suposto oferecer guarnição, geralmente a imóveis, sejam residências ou
instituições. São pagos (geralmente muito abaixo do que mereceriam) para
assegurar a integridade física do posto em que são colocados, não se isentando
de ressarcir o que se der por desaparecido durante o turno. O que se assiste,
porém, na maioria dos casos, com maior incidência para residências, é que são
eles que cuidam de ligar o gerador quando a energia geral falha, retiram do
carro a botija de gás, o saco de carvão, hortaliças e demais compras quando o
patrão chega, abrem e fecham o portão 24 horas por dia. Afinal é para serem
guardas ou empregados domésticos? Por um lado, os excessos do cliente que os vê
como pau para toda e qualquer obra enquanto, por outro lado, enfrentam as
parcas condições de trabalho, onde os turnos são prolongados por mais de um
dia, de vez em quando, em função do défice de recursos humanos. Como diria o
outro, o trabalho (quando não dignifica) também danifica o homem. Faria sentido
pensar-se em algum tipo de sindicato ou associação sócio-profissional? Bom dia!
segunda-feira, 10 de março de 2014
À mesa de bar
"Não me valorizavam, mas no dia do casamento, 'a noiva não entra na igreja sem o pai'. E eu saí da igreja - e estava melhor vestido do que o noivo até -, peguei ela na mão e entrei com ela na igreja. Depois disso, na cerimónia, o pai já não era eu, era um irmão de não sei lá quem. Isso doeu, marcou muito..."
O LAGO E O OCEANO, conto do brasileiro Vinicius Bandera
Há pessoas que vivem
prazerosamente com o que têm ao alcance das mãos. Outras querem justamente o
que está para além de si. Ele se enquadrava neste segundo grupo. A cidadezinha
em que morava, com toda sua tranquilidade, não o encantava mais, aborrecia-o
sobremaneira em seu cotidiano modorrento. Queria a cidade grande, a capital,
com seus progressos, seus dias diferentes e sempre voltados para o futuro. Ele
almejava o que estava bem longe à sua frente, a ponto de ser preciso muita
pressa para conseguir alcançar em tempo hábil. A sua cidade era por demais
vagarosa, acorrentada a um passado tão distante quanto o futuro que ele
desejava. Não podia mais ali permanecer.
As garotas de sua
cidade, não que não fossem bonitas, pois várias o eram, mas tinham como defeito
irreparável o fato de não serem da cidade grande. Eram simples demais, mesmo
quando se esforçavam por não sê-lo, como em ocasiões dominicais em que usavam
vestidos copiados de mulheres das cidades grandes, cujas imagens chegavam
trazidas por revistas. No entanto, o que é é e o que não é não é; to be or
not to be, that the question.
As garotas da
cidadezinha, por mais que imitassem, não eram as garotas da cidade grande. Ele
sabia disso, o que o amargurava. Elas também deviam saber, o que as deixava
contentes, pois assim tinham um referencial de prestígio para seguir. E a vida,
além de ser ou não-ser, é também imitação. Imitar é viver de ilusão, e quanta
gente assim vive. Iludir-se é quase tão bom ou até melhor do que viver. Ele não
queria a ilusão, queria viver. Era tão radical quanto Hamlet; ser para ele era
viver, não-ser era a ilusão atormentadora. Ele buscava o ser, daí que sua terra
natal estava lhe fazendo um grande mal, embora ela lhe fosse tão boa, como ele
próprio iria reconhecer anos depois de labutar na cidade grande, onde teria
muito mais não-viver do que viver.
Ali, como no inferno
de Dante, a esperança parecia-lhe não ter nenhum valor. Fazia-se mister tomar o
rumo da capital. Mas como fazê-lo? Sem dinheiro, sem profissão, sem experiência
de vida... O medo de ir era comparável à desesperança em ficar.
Diário
De volta ao trabalho de tradutor/revisor. Letras, concordância, contextos e prazos. Chato e cansativo, ao contrário do que parece, mas é a sensação de mais um desafio vencido que prevalece. Depois, já muito depois, o kumbú. hahaha Mbora lá!
Sugestão de parceria
Ouvi esta manhã o spot promocional da Rádio
Benguela sobre as inscrições em curso para o concurso "Benguela, Gentes de
Música". E pensei cá com os meus botões: Eu tenho duas composições
musicais inéditas, que por acaso não são assim tão más, uma em trova/soul e
outra que tanto daria para um kizomba ou para semba, mas... não tenho voz de ir
por aí além a cantar. Neste caso, se alguém tiver talento em interpretar mas
lhe faltarem temas de sua autoria, eu bem que podia ceder o que tenho. Bastava
uma viola para demonstrar os acordes, a melodia. Pense nisso hahaha
domingo, 9 de março de 2014
Surrealismos à moda Óscar Pistorious
Acompanhando à inevitável distância o
julgamento de Oscar "Pistolas", o atleta sul africano que se livrou
da namorada com uns 4 tirinhos, justo num dia 14 de Fevereiro... mesmo até para
cimentar, com a força dos milhões que tem, a tese de ter confundido a namorada
com um assaltante quando ela usava o WC a meio da noite, só falta a defesa
provar que cientificamente mulher vira homem, sempre que em contacto com uma
sanita. Ora, assim sendo, liberdade para o atirador, que por acaso possuía arma
ilegal, declare-se culpada a falecida. Francamente!
Nós e o problema com as horas
Estava para 13h de hoje o início da celebração da
vitória do grupo carnavalesco Bravos da Victoria, da Catumbela, somando com a
presente um total de 26 títulos em 36 edições. O representante da administração
municipal, que falou ontem à Rádio Mais, foi suficientemente mobilizador,
anunciando desfile, moções institucionais e várias surpresas. Daí eu pensar em
ocupar a minha tarde de domingo a fotografar tal evento. A marginal estaria,
imaginava-se, apinhada de gente e emoções. Entretanto, quem por lá passou,
mesmo depois das 14h, não viu uma única mosca fantasiada. Muita boca, pouca
pontualidade, pior combinação não podia haver!
sábado, 8 de março de 2014
Diário
Quando, numa relação laboral, um importante gestor de uma
linha de acção pede alguns meses de salário antecipado, sob a alegação de
resolver necessidade familiar, e o pedido é satisfeito pelo líder, que por sua
vez vem a ser confrontado com a ausência total do colaborador, quer em termos
de presença no escritório, quer em termos de atender o telefone ou prestar
contas/relatórios, facilmente se chega ao facto: a instituição terá sido burlada e a liderança caído por
ingenuidade. Triste é cruzar com o artista, 6 anos depois, e perceber que
este vive dificuldades provavelmente piores do que antes, com o agravante de
lhe faltar coragem para olhar firme para os carros que passam, entregue ao sol
e suor da paragem de táxi, olhos ao chão, qual suíno. Moral da história: se
for para sair, melhor sair com dignidade.
sexta-feira, 7 de março de 2014
Ponto de situação
Finalmente em Benguela, fechando o ciclo de mais
uma aventura por estrada. Desta vez, a partida deu-se na manhã de 2ª feira em
direcção ao sul. Lubango foi a primeira paragem, com oportunidade de observar e
fotografar animais da nossa selva. Dali seguiu-se para Oshakati, Namíbia,
obviamente ao volante até Santa-Clara (Ondjiva, Kunene), onde viria a passar
ontem, de regresso e já com mais vagar, memoráveis momentos na companhia do
confrade Capelenguela. Daqui a pouco partilho fotos e a entrevistas que concedi
à Rádio Kunene. Até já
domingo, 2 de março de 2014
Absurdos e contratos de adesão atrás da porta, coisas que o cliente só vê depois pagar.
está lá, velhinho como o próprio quarto. É um lugar que me decepcionou ha uma semana e meia, tanta fama para tão poucas condições/conforto. Mas como não havia saúde para procurar mais longe, passei lá a noite