Que desenvolvimento parasita é este que
parece ser a sina do litoral da província de Benguela, com os espaços públicos
à mercê da privatização para particulares, ao que se diz, nem sempre distantes
das simpatias do palácio da praia Morena, entra governador, sai governador?! A
praça primeiro de Maio, no Lobito, lugar tão simbólico e ponto de encontro
entre a cidade velha e a zona alta, pelo desporto e pela cultura, acabou
abocanhada a favor dos sul-africanos da Shoprite. É um legado infeliz da era
Dumilde Rangel. A antiga Escola/Lar da Uneca, construída por cubanos ali na
Kambanda, acabou privatizada a favor de portugueses (e não só), no que hoje é o
Colégio Benguela, precisamente numa cidade em que o défice de escolas primárias
é notório e mesmo no centro vemos alunos estudando ao relento (a escola ao lado
da Angola Telecom é um exemplo). Eis um legado de triste memória da era Armando
da Cruz Neto. Nos dias que correm, da praia do Pequeno Brasil, extensão da
praia Morena, já só sobram memórias, tal é a tendência voraz do seu
talhonamento, um espaço que sobreviveu aos quinhentos anos de ocupação colonial
portuguesa mas que sucumbiria nas ambições e narrativa de desenvolvimento da
era Isaac dos Anjos. Um dia foi o Morena Beach, por quem dá a cara o empresário
Anselmo Mateus, embora haja também quem atribua a sua titularidade ao músico
Matias Damásio, que esteve envolvido no projecto por via da sua empresa Arca
Velha, na condição de financiadora. Ao lado lhe cresceu um infantário que
atende pelo nome de Avó Inha (quando o assunto é citar o nome da proprietária
do empreendimento, ao contrário do restaurante Morena Beach, aí já é com
pinças). O que para alguns é questionável do ponto de vista da coerência é a
determinação, a essa altura do campeonato, em travar a construção de um ginásio
no mesmo corredor, quando não se conseguiu (ou não se quis) "combater” as
duas infraestruturas de betão que lhe são vizinhas. Exceptuando o espaço que
deu lugar ao estaleiro de construção de estruturas para o sector petrolífero pertencente
à Sonamet (este, sim, de um impacto enorme no desenvolvimento e nas receitas),
parece inevitável nos perguntarmos: que raio de desenvolvimento é este que não
reverte a favor do estado a transformação de espaços públicos? Que
desenvolvimento parasita é este que do comércio não passa? Que desenvolvimento
parasita é este que os (intencionalmente) bons projectos não conseguem ganhar
corpo desbravando zonas "virgens" e surgem como que à socapa (porque
não há conhecimento público do tipo auscultação) para ocupar espaços onde já há
água, asfalto e luz? Quando é que começaremos a responsabilizar as pessoas por
erros de gestão na administração pública desde que se achem indícios de se ter
beliscado a ética e a probidade? Ainda era só isso. Obrigado
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 14.02.2018
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