Ao contrário do entusiasmo de outros
anos, em que de máquina fotográfica em punho ia captar emoções do desfile
carnavalesco da cidade de Benguela, hoje dediquei o dia ao recolhimento e
reflexão. Várias perguntas povoam a cabeça, sem no entanto encontrar respostas.
E se investíssemos o dinheiro que se gasta no Carnaval para fomentar a pesquisa
das variadíssimas danças "esquecidas" no mosaico etnolinguístico
angolano? Não seria já altura de alargar os olhos
para fora da caixa do semba? Será que o modelo de Luanda funciona e dialoga com
outras formas de viver e manifestar cultura? Ou até que ponto é consistente e
sustentável avaliar as nossas festas populares ao critério (brasileiro) da
existência do Rei, Rainha e coisas e tal? Penso no anonimato da cianda (leste),
cipwete, olundongo, onjando, ukongo (no sul) entre outros, por exemplo. Interessará a rebita ao kwanyama? Será
que não ficam bem tais danças no gosto do turista a quem vendemos o produto
actual em forma de vídeo? O que é que resta de profundo depois que se apagam as
luzes do desfile carnavalesco? Nos anos 80, o Carnaval da Victória, modelo de
Benguela, tinha como atracção o grupo da Hanha do Norte, que apresentava a sua
tradição, salvo erro, não tanto nos moldes da "mesmice". Enfim. Ainda
era só isso. Obrigado.
Gociante Patissa, Benguela, 28.02.2017
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