Quando
me chegou através de um colega de trabalho a notícia, infausta, digamos, do
encerramento da TDA, empresa que representa as marcas Nissan, Renault e
Mahindra, sita no perímetro do Pólo de Desenvolvimento Industrial da Catumbela,
bateu-me uma empatia. E pensei cá comigo: ora, estamos em presença de derrota
por KO do consórcio português Teixeira Duarte (já sei que alguém estará a bater
um murro na mesa por achar que não é bem português, mas de direito angolano,
enfim).
Ainda
indaguei se tinha ideia de onde ir para a aquisição das peças necessárias a
cada cinco mil quilómetros de revisão. Serenamente, como só os mais experientes
sabem fazer para desenganar cidadãos ingénuos, respondeu:
eu já há muito que deixei de poder comprar lá filtros, óleos, essas coisas... logo que assumi efectuar eu mesmo a revisão. Só te vendem se eles fazem, mas não é barato.
eu já há muito que deixei de poder comprar lá filtros, óleos, essas coisas... logo que assumi efectuar eu mesmo a revisão. Só te vendem se eles fazem, mas não é barato.
A
conversa ficou-se pelas reticências e quê e tal. Mas eu estava a salvo,
acreditava mesmo, pois nada que houvesse de comparável em robustez entre uma
pequena TDA e a secular nipónica Toyota. Isso, numa fase em que vez sim, vez
não, vinha levando o carro à representante para revisão, não o vá eu entregar a
um qualquer curioso de uma dessas estações de serviço e me dar cabo do carrito,
um ligeiro do status mais básico que existe e que hoje por hoje, face à
escalada cambial do dólar, até sai por mais do que o dobro do valor da compra a
caminho de três anos de uso e um cuidado que só visto com ovos.
E
não é que a minha desgraça afinal já andava encomendada!… O intervalo não chegou
sequer ao comprimento de uma semana. Através das redes sociais tomava conta do
encerramento da Toyota do Lobito. Um balde de água fria. Nem mesmo o título eufemista
do comunicado conseguia minimizar aquele «encerrado para balanço». É balanço de
quê, que só fica bem em Janeiro de 2017, quando todos os janeiros foram de
portas abertas e volte sempre?!
A
leitura que se faz é que a crise financeira que se arrasta há cerca de três anos,
cujos efeitos alguns de nós pressagiávamos de curta monta, atendendo ao ano
eleitoral e desavisado que é ir para um quadro eleitoral em contexto de
instabilidade e incertezas, a crise, meus senhores, está mesmo brutal. E nestes
casos, a fronteira entre quem é o carrasco e quem é a vítima nem sempre é
tangível.
Vejamos
o exemplo da Toyota e da TDA. Qualquer cidadão, por mais que como nós seja um
desastre na ciência dos números, perceberá quão insustentável se torna o
negócio no ramo automóvel (e reposição), pois não há produção interna nem
tampouco cambiais para as importações até de um simples desperdício para limpar
o pó. Visto por este prisma, saem-se como vítimas da situação.
Mas
ali depois entra o trabalhador, que até vários prémios de desempenho granjeou,
o que agigantou a expectativa de um vínculo laboral a longo prazo, crédito
bancário é com ele, mulher e filhos é com ele. E de repente… uma indeminização
de cinco salários inteiros por cada ano de serviço, mais cinco metades do
salário por cada um dos restantes cinco anos. O trabalhador verá o ex-patrão
como carrasco ou estará com ele solidarizado no clube das vítimas, não havendo
para já um endereço concreto para uma daquelas afrontas olhos nos olhos com a
senhora dona crise?
Na condição de cliente, ocorre-me a parábola
umbundu “tuveta mu nganga, pwãi tuveta vo mu civimbi”, o que corresponderia a
uma circunstância justiceira de termos de esbofetear o feiticeiro, sem deixar
de esbofetear o defunto. Por muito prejuízo que o negócio eventualmente desse,
nada justifica que as concessionárias TDA e Toyota encerrassem as portas sem um
mísero comunicado público de antecipação, até por uma questão de respeito para
com os seus clientes que, num passado ainda recente, acreditaram na cantiga de
serem a razão da sua existência. Até porque quer num caso quer noutro, há
processos inacabados, como a emissão de termos de compra e venda, os livretes e
tudo o que geralmente atola na excessiva burocracia junto da Direcção Nacional
de Viação e Trânsito.
E assim, abandonados
pelas representantes, só nos resta pensar em camelos. Devem resistir mais.
Gociante
Patissa. Benguela, 4 Fev 2017
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário