"O politicamente correcto é uma doença" (de um manifestante americano)
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
Humor | Dr. Tjipilika a "dicar" uma boazuda que ia passar
"Ilustre
fêmea estou estupefacto com a tua silhueta voluptuosa, hoje é prenúncio de
fim-de-semana, desta sorte, gostaria de obter a tua aquiescência no sentido de
dar provimento ao meu desígnio de preludiar consigo o itinerário que irá
desembocar na materialização do acto fisiológico bilateral e heterossexual que,
se consumado, materializa a continuidade da espécie humana."
E a moça, admirada, "É como?". O kota continuou:
"Todavia, advirto que, em virtude de não seres a minha cônjuge, irei preservar a minha glande para não alocar a substância condensada que contêm os microrganismos responsáveis pela fecundação e consequentemente pela gestação, no teu órgão genital com aparência sui generis... diga-me por obséquio, qual é a sua réplica?"
A moça fugiu. "Ainda vai só me violar..."
(Recebido sem identificação de autor) www.angodebates.blogspot.com
E a moça, admirada, "É como?". O kota continuou:
"Todavia, advirto que, em virtude de não seres a minha cônjuge, irei preservar a minha glande para não alocar a substância condensada que contêm os microrganismos responsáveis pela fecundação e consequentemente pela gestação, no teu órgão genital com aparência sui generis... diga-me por obséquio, qual é a sua réplica?"
A moça fugiu. "Ainda vai só me violar..."
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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
ACIDENTE FERROVIÁRIO EM BENGUELA
Comboio dos caminhos de Ferro de Benguela descarrilou há coisa de uma hora de hoje na Damba Maria, a quinhentos metros da estação com o mesmo nome, junto ao estaleiro dos chineses, município da Catumbela. Não se fala em vítimas humanas. Neste momento regista-se o movimento de passageiros, na sua generalidade senhoras e idosas cujo quotidiano está ligado ao cultivo de subsistência no perímetro agrícola da antiga açucareira. Algum estado de choque é visível, mas ao menos sem danos piores. No local, estão pelo menos três carruagens/vagões danificados.
Gociante Patissa
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Gociante Patissa
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domingo, 29 de janeiro de 2017
Divagações | DESPARASITAÇÃO ANTI-FEICI INTERROMPIDA
Na sequência do edital publicado nas últimas 24
horas por sua excelência eu, dando conta de um período de ausência cá do bairro
feicibukiano por desactivação da conta, voltamos à baila para anunciar o seguinte:
Ponto um e único: corria muito bem a
"desparasitação" anti redes sociais que o meu lado cidadão idealizou,
mas por razões de força-maior teve de ser interrompida pouco depois de completar 24 horas.
Tudo, por imperativos e compromissos (redundância propositada) de outro lado
também meu, o literário, pelo que reabrimos as portas como retornados mas,
nunca abrindo mão do direito à revolta passiva, também só teremos uma presença
a meio-gás. Ainda era só isso. Obrigado
Gabinete de sua excelência eu em Benguela, hoje.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
Divagações | Antecipando dúvidas
Está
praticamente tomada a decisão de uma retirada do convívio facebukiano por um
tempo não calculado a partir de uma data também ainda não definida (falta achar
o feriado que mais coincida com o gesto). A saída de sua excelência eu da rede
social, está garantido, não produzirá para já outros prejuízos que consigam ir
além do facto de sua excelência você vir cá ao mural e me encontrar que não
estou. Acto contínuo, mas como isso ultimamente é uma sociedade em que até para tossir ou deixar de tossir o
cidadão precisa de lavrar um edital, aproveita sua excelência eu para
esclarecer ao mundo, à SADC, ao mercado paralelo, à CPLP, aos peixes no mar, no
rio, no lago, à Região dos Grandes Lagos, aos Ministérios, à Mossad, à CIA,
comunidade castrense angolana, mercado de capitais, bolsa de valores, sindicato
dos kupapatas, Ligas femininas, enfim, becos e sanzalas o seguinte:
a) Não é nenhuma promessa
religiosa nem tampouco é alguma medida contra doenças contagiosas, entre elas a
poluição da contra-informação pré-eleitoralista
b) Não aderi a nenhum partido
político (pelo que está fora de questão a hipótese de se tratar de cumprimento
da disciplina partidária)
c) Não estou a fugir às dívidas
(quem achar que lhe devo que atire a primeira letra)
d) Não fui flagrado em conflito
de interesses afectivos
e) Não é directiva de agente
editorial, que por acaso não tenho
f) Não é por etc., ou vírgula, ou
ponto.
g) Não é a primeira vez que me
retiro e o manual de astrologia diz que em princípio não há nenhum risco de
depressão derivada do isolamento e das saudades, até porque o sol abrasador cá
da banda não dá margem para amuos. Portanto, não é por aí.
E porque também se diz que quem ameaçar ir quer ficar, é
provável que não haja uma segunda via deste edital. Cumpra-se! Gabinete de sua
excelência eu, hoje. Ainda era só isso. Obrigado. hahah
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Humor | O chinês
Chinês é detido por vender um terreno de 20/20 metros a 5 pessoas. Já na esquadra o investigador dirige a palavra ao chinês dizendo:
-Você é bandido, como é que vende um terreno a 5 pessoas?
-Eu não bandido - Respondeu o chinês - eu falá tudo amigo, terreno glande, fazê plédio. Um amigo vivê 1° andar, outro vivê 2° andar, outro 3°andar, outro 4°andar e outro 5° andar, tudo amigo fica casa. Ainda fazê loja baixo plédio. Como fala eu bandido?! Eu ajudá angolano.
(Recebido sem identificação de autor)😂😂
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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
Opinião | Rádio Ecclesia, à procura de si própria, "recicla" quadros e programas dispensados
Foi com agradável surpresa que dei conta dum "desesperado" pacote de mudanças mais ou menos radicais levadas a cabo pelo novo director, padre Maurício Camuto, num recuo que se propõe devolver aos ouvintes a "confiança" que, para muitos, já só restava no slogan, posta que vinha sendo de parte, segundo acusações reiteradas, a acutilância em temas social e politicamente mais estruturantes, para só focar a sua emissão na vertente de evangelização.
Para ser mais directo, sintonizei esta manhã a emissora católica de Angola online, a Rádio Ecclesia, que emite a partir de Luanda. É um projecto ao qual o autor destas linhas esteve ligado em 2004, quando iminente se fazia o arranque por Benguela, tendo aderido ao projecto por via de um casting de redactor-repórter-noticiarista e figurado entre os quatro finalistas seleccionados ao cabo de três meses de estágio intensivo.
Como que decidido a se penitenciar pelo produto servido durante os dois mandatos do director cessante, o também padre Kintino Kandandji que, como devemos andar recordados, teve de ser (auto)afastado a meio a polémicas envolvendo a União Europeia (acusada de tentar influenciar a linha editorial e conspirar contra o governo angolano), a nova direcção não só "repescou" quadros até então dispensados, como também decidiu repôr na grelha programas "deletados" por Kandandji, apesar dos seus tão aludidos níveis de audiência.
No "Discurso Directo" de hoje, programa com formato de entrevista de perfil e com incidência no exercício da cidadania, foi realmente agradável ouvir um entrevistador de volta à casa em que enriqueceu a folha de serviço.
Walter Cristóvão, moderador, repórter e ao que consta chefe de produção, teve como convidado o jornalista e docente Ismael Mateus, uma das figuras incontornáveis do espaço público angolano, onde é dos mais frontais e influentes fazedores de opinião. Sim, senhora! Foi um bom serviço público. Para que não restem dúvidas, um spot da estação dá conta da inclusão de novos produtos na programação mas também, para gáudio de ouvintes cativos, de outros, quer de entretenimento, quer de opinião e cidadania activa.
Com mais de meio-século de história, a emissora católica cultiva o velho sonho da sua expansão para demais províncias do território nacional, tendo instalado estúdios e emissores há treze anos, sonho entretanto inviabilizado por falta de autorização do ministério de tutela. Conformada com a barreira legal que limitava as rádios comerciais FM a um raio inferior a 80 km quadrados, a igreja chegou a desistir do conceito de emissão nacional e os estúdios passaram a ter estatuto de rádios diocesanas.
Mas apesar de as crispações entre a igreja e o governo serem coisas do passado e a aproximação diplomática ser evidente, quando o assunto é a abertura das rádios já prontas em Benguela, Kwanza-Sul, Kunene, Huambo, Cabinda e Zaire, o que de tangível para já existe são mesmo só a entrada do processo de solicitação de licença de emissão e os ciclos de esperança.
A pergunta de retórica que a um leigo como nós ocorre é: a que se deve então este recuo de conceito de serviço público do projecto Ecclesia, se a Rádio não mudou de proprietários, portanto foi a mesma Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) que apoiou os "cortes" editoriais de Kandandji?
Gociante Patissa, Benguela, 25 Jan 2017
terça-feira, 24 de janeiro de 2017
Citação
"Até fez um bom investimento e tem um equipamento em condições. Só que já não está a aprimorar o fotógrafo, está-se a especializar é noutra coisa: no lightroom."
(Conversa de bar)
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(Conversa de bar)
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Divagações | LETRA DO MEU KU-DURO QUE ACABEI DE "COMPOSITAR"
Ó chuva, dona chuva! Devolve-me ao menos o pregão das vendedoras de hortaliças. Ó chuva, já chega! Devolve-me o canto das zungueiras. Tenho peixe a congelar, restos de cebola. E dinheiro no bolso. Uma rua alagada, um silêncio sem graça.
Ainda era só isso. Obrigado hahaha
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
Diário | PARA QUE SERVE A NOITE ENTÃO, AINDA TE LEMBRAS?!
(I)
“Mas, ó marido! Eu já ando muito farta deste teu amor aos pedacinhos!…”
“Isso são modos de se exprimir, ó bebé?”
“Você me desculpe, mas ninguém entra num casamento para merecer isto!…”
“Mas a que propósito vem este desabafo?”
“Me fala só: ainda te lembras da última vez que te deixaste achar na cama à hora do galo cantar?”
“Até me sinto mal. Por que é que não falaste mais cedo? Será que te faço faltar amor?”
“Hum…”
“Meu bem, ainda há pouco fizemos amor…”
“Mas a que custo, homem?! Tivemos de mandar as crianças irem brincar na rua, com o risco de atropelamento…”
“Mas foi bom, não foi? Diz que sim, querida, eu adoro ver-te no pico dos teus prazeres…”
“É sempre assim. É que eu não percebo, sinceramente, esta vida de amor aos pedaços. Caramba! Para que serve a noite então, ainda te lembras?!”
“Querida, são ossos do ofício. Não é fácil ser jornalista neste país onde as fontes se fecham mais rápido do que o instintivo pestanejar. Então é pela noite, já desligado dos medos do escritório, que se conseguem furos. No bar, na discoteca, na praia, enfim…”
“E na putaria também, não é isso, meu amor?…”
“Por tudo o que é mais sagrado!, eu sou fiel. Fiel a ti e fiel à profissão. Apenas jornalista… E jornalista é vinte e quatro horas por dia, querida. Peço compreensão, por favor…”
(II)
“Aló, mulher, preciso de ti, estou a morrer!!! Áááiii! Fala só com o teu pai, faz favor…”
“Aló, marido. Não se ouve bem. O é que se passa? O mundo acaba hoje ou quê?!”
“Fui assaltado no escuro – ááiii, dói muito! – Levei uma faca do peito! Preciso de dinheiro urgente para ser atendido aqui na clínica… – ááiii”
“Mas a esta hora vou acordar o meu pai?! E se ele estiver a marejar no milagroso casulo de quem ao seu lado dia-a-dia acorda?”
“Faz favor só… – ááiii, dói horrivelmente!”
“Liga para a ENSA, querido…”
“Não tenho seguro de saúde, filha. Senão já o saberias…– ááiii - Eu não te escondo nada...”
“Mas não ligas para o teu patrão no jornal então porquê?!”
“Não é possível, eu ganho por cada reportagem. O esfaqueamento foi antes de colher a matéria, e como não há nada a publicar, portanto – ááiii – não tenho direito à avença…”
“Ai, afinal só em casa é que és jornalista vinte e quatro horas por dia?!”
Gociante Patissa. Aeroporto Internacional da Catumbela, 23 Jan 2017
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Crónica | As partidas do Eliseu
A pior das partidas que nos pode alguém
chegado pregar é, certamente, partir.
Eliseu Mondi Pedro Figueiredo confunde-se com a língua inglesa, à qual viria a
dedicar duas décadas de auto-didactismo, chegando a dar aulas no terceiro nível
dos Bambus na Katombela, onde residia, e mais tarde no católico Instituto de
Ciências Religiosas de Angola (ICRA), no bairro da Caponte, Lobito, onde veio a
residir. O extrovertido, criativo e brincalhão Mr. Elisha (por si próprio
pronunciado /elitsha/) abraçou o inglês por influência do irmão mais velho, dos
poucos tradutores benguelenses no contexto de emergência, resultante do
fracasso eleitoral de 1992, a época dourada da ONU e demais agências
internacionais de caridade.
Já na sexta classe, dava o Eliseu nas vistas pelo vício das contagens em voz alta, qual récita a Shakespeare, pelos corredores da escola Comandante Dangereux, na Katombela. E pregava bwé de partidas aos colegas, eles que mal sabiam o que era o verbo «To Be». Mesmo já quando o conheci na sétima classe, onde começava o ensino de inglês antes de surgir essa coisa chamada reforma educativa, foi com o inevitável receio de lidar com ele, pois era reinante o espírito de competição entre os falantes. A empatia foi à primeira vista!
Já na sexta classe, dava o Eliseu nas vistas pelo vício das contagens em voz alta, qual récita a Shakespeare, pelos corredores da escola Comandante Dangereux, na Katombela. E pregava bwé de partidas aos colegas, eles que mal sabiam o que era o verbo «To Be». Mesmo já quando o conheci na sétima classe, onde começava o ensino de inglês antes de surgir essa coisa chamada reforma educativa, foi com o inevitável receio de lidar com ele, pois era reinante o espírito de competição entre os falantes. A empatia foi à primeira vista!
De carteira acabamos sendo colegas até
ao primeiro ano do ensino médio, optando pelo curso de ciências sociais no
Centro Pré -Universitário (PUNIV) do Lobito. O Eliseu pregaria outra partida a
professores e alunos com uma suposta habilidade em conjugar o «To Be» na língua
Umbundu, quando na verdade dizia o verbo defecar. E ria-se à brava, para o meu
desgosto.
Estamos em 1996 e eu, que gozava já de
certa notoriedade mediática por colaborar num programa infanto-juvenil da
Televisão Pública de Angola, não via como continuar os estudos.
Como se não bastasse andar de ténis com
a sola gasta ao ponto de o polegar beijar o chão, impunha-me o professor Barros
um ultimato; não tolerava o bloco de facturas para os apontamentos do seu
sagrado português. Só podia ser indisciplina, acreditava ele. Por seu turno, o
professor Kupuiya, com quem me havia incompatibilizado pela imaturidade com que
o corrigia em plena aula, decidira ser pai; isentou-me de pagar as folhas de
prova de inglês. Como compensação, eu partilhava com ele jornais e livritos que
me chegavam por correspondência. Mas… e as outras provas? Eram dez disciplinas,
e o Eliseu teve a providencial ideia de custear boa parte delas. Financiava de
vez em quando um lanche na cantina da professora Belinha. Ofertou-me também uma
camisola lilás com a qual fui a tempo de fazer bonito na TV.
Bem, depois de o agradecer no meu livro
de estreia, Consulado do Vazio, entendi metê-lo na primeira versão deste livro
de crónicas, enquanto personagem de uma cena da vida real num texto que está lá
mais para diante, que ele iria a tempo de ler se o salto entre o fim da escrita
e a colheita em papel fosse menos elástico. Muito longe de imaginar que tivesse
tão cedo de traçar esta outra crónica panegírica.
Julgava-se no direito de arranjar um
emprego que prestigiasse a minha vocação e aptidão. Há dois meses, falou-me da
oportunidade numa promissora multinacional japonesa no Huambo como tradutor e
assessor de comunicação. Fiquei à espera de mais dados. E o Eliseu foi hoje a
enterrar, derrotado por um estado de saúde que há muito titubeava. Ninguém faz
ideia dos últimos suspiros do homem. Espero que tenham sido sob um sonho com
diálogos em inglês. Seja como for, Eliseu, não te perdoo essa partida de
partires!
Lobito, 9 Junho 2014
Gociante Patissa. In «O Apito Que Não Se
Ouviu», 2015. Pág. 56-57. União dos Escritores Angolanos. 1.ª Edição. Luanda,
Angola . 2015 Colecção: «Sete Egos»
___________
(*) livro de crónicas disponível na
Livraria Sucam e na Tabacaria Grilo, em Benguela, ou na sede da União dos
Escritores Angolanos, em Luanda, sita no Largo das Escolas. Mil Kwanzas o
exemplar
(arquivo) Divagações | Sonhos do meu sobrinho de oito anos
Questionado pela mãe sobre o que quer ser quando for grande, Alex não gaguejou: "Presidente!" Para quê?, continuava a mãe: "Para mandar. Se quero comer arroz, ou beber água fresca ou sumo, essas coisas assim..." Neste caso, inquiria outra vez a mãe, quem vai pensar no que fazer pelo país? "Isso é trabalho do governo!"
Ainda era só isso. Obrigado. Boa segunda-feira a todos.domingo, 22 de janeiro de 2017
(arquivo) Citação
Assim como o camponês aprende a trabalhar a terra, o poeta aprende a trabalhar com a palavra, aprende a não dizer demais e a não dizer de menos, aprende a sugerir. A poesia não deve fazer mais que sugerir; ela é um compromisso entre a palavra e o silêncio, não o silêncio de quem não tem nada para dizer, mas o silêncio que é o sumo de muita coisa. Então o poeta traduz. Ele é uma boca, e deve ser a boca daqueles que não têm boca (BARBEITOS, Arlindo. Angola, angolê, angolema. Luanda: Maianga, 2004, p.8.)
sábado, 21 de janeiro de 2017
Crónica | Há piores
Queimo horas à mesa vazia. A leste o ondulado
árido do bairro que se reinventa dentro e à volta do cemitério. A oeste a brisa
rente do mar que bebe do rio. Vão passando muitos carros. De gente nem por isso
menos. Uns mergulham na sopa, outros no caldo. Os mais assertivos vão de cabeça
num copo de cerveja, ou de fino, conforme a agenda, tão fresco é o líquido
transformado na encosta do rio a poucos quilómetros do balcão. A mim cabe a
vergonha de quem, nada mais lhe restando para gastar, também não pode abandonar
a esplanada. O carro tarda no seu banho, e por cá o pagamento electrónico é
rechaçado a azul. Estimados clientes, avisamos que o multicaixa está fora de
serviço. O anúncio data de há já três dias, pelo que outro motivo se infere que
não a avaria. E as horas pedem por empréstimo ao caracol a cadência do passo.
Duas tentativas de leitura não resultam, a mente vagueia na interminável
vontade de caprichar nos contos em fase já adiantada do processo de edição do
outro lado do atlântico, ao mesmo tempo se contendo para aguardar pelo miolo. O
bar, pela sua própria graça, é uma vitrina sociológica, bastando apenas apurar
o sentido de oportunidade no olhar e ver. E não se precisam esforços. Ao lado
estão dois senhores, um de barba feita, outro estereotipando Jesus Cristo. Vão
na décima cerveja, aqui em aritmética solidária, nas contas do garçom. Eles
acham que não. E no impasse dá-se o corte à vibrante conversa sobre um seu
amigo e conterrâneo (fica-se com a sensação de anfitrião também dos novatos,
quiçá de algum esquema no tráfico de naturalização), que por Benguela teria
montado morada há já oito anos. Jaz fez cá filhos e tudo!, gaba um dos
convivas. Junta-se ao recinto um senhor em idade de reforma. E à boa maneira
angolana, havendo disponíveis várias mesas, ocupa a sua na liberdade que a
solidão opcional lhe confere. Cabelo à escovinha, camisa de mangas compridas de
tecido tipicamente africano. Movimentos cautelosos, olhos atrás de óculos de
massa. Poucas palavras, até aí nada além de um bom dia. Sabe precisamente para
o que vem. Um prato de caldo de peixe. Pão também. Cerveja por que não? Os dois
prosseguem no tema com a mesma descontracção. Agora já é sobre a situação
económica e as limitações e falta de perspectivas e estabilidade, não tanto
para os expatriados, mas principalmente para os nativos, sublinham, altruístas,
eles. Até que o velho afina a garganta e... Mas os que viajam por este mundo a
fora dizem que há países em situação pior, contrapõe, sem exprimir emoção
decifrável o kota. A dupla de convivas, visivelmente surpreendida, gagueja. É,
quer dizer, bem... Há países piores, desenrasca-se o primeiro. Pois, mas em
África é quase tudo assim, acrescenta o segundo. O mais velho faz uma pausa na
colherada à boca. Os convivas pedem a conta e deixam o bar. Não sei porquê, mas
ficou a impressão de se não terem despedido nem já um clichê do tipo
continuação de bom fim-de-semana, caro amigo. Instintivamente, o velho
reformado segue-os com os olhos enquanto a viatura manobra e desaparece. Deve
ter reparado que a carrinha todo o terreno estava caracterizada.
Gociante Patissa. Bombas de combustível do Lwongo, Catumbela, 21 Jan 2017
Gociante Patissa. Bombas de combustível do Lwongo, Catumbela, 21 Jan 2017
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
Just a question
Li há pouco num jornal nigeriano que o
presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, pediu assim pelo menos mais quatro horas só
já, faxavori, para arrumar as bikwatas do palácio, vencido o ultimato de sair
"a bem ou a granadas" até ao meio-dia de hoje, que lhe tinha sido
dada pela CEDEAO. Alguém confirma?
PS: Mas antão a nossa democracia em África não é específica? O outro está mbora a curtir a democracia que os ancestrais dele lhe aconselharam: quem tentar te tirar do poder vai ver só!.. hehehe
Alô, Cabo Verde!!! | Livraria SABORES E LIVROS tem à venda o livro "FÁTUSSENGÓLA, O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS" - o segundo de contos do autor angolano GOCIANTE PATISSA (2064)
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dos textos mais belos que já li do poeta agora conhecido como Mbangula Katúmua
UM POEMA NADA SABE
Não será num poema que direi
Se te amo ou simplesmente te quero
Se és real ou simplesmente algo que inventei
Para sustentar o sonho ou aliviar o desespero
Acredite pois, um poema seria impróprio
Talvez minimalista, lacónico e vulgar
Se te fiz real é porque mereces um império
Um mar aberto onde possas navegar
E não um pedaço de papel
Branco e ingénuo
Que nada sabe
O amor tem espaços contíguos
Como os mares o limpo sal
Depois que o sol os abre
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Divagações | Nota Fúnebre
O céu está a fechar. Uma parte da graça de Benguela, não tarda, vai falecer. Vem chuva a caminho. Ainda era só isso. Obrigado
PS: a energia eléctrica, como sempre bem informada nestas coisas, saiu agorinha com a respiração presa, não fosse dar nas vistas em pleno recuo estratégico
PS: a energia eléctrica, como sempre bem informada nestas coisas, saiu agorinha com a respiração presa, não fosse dar nas vistas em pleno recuo estratégico
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
Angola representada na " Biblioteca Mundial" na Roménia - Jornal Angolano de Arte e Letras
Patissa |
Os escritores angolanos
Gociante Patissa e Luciano Canhanga representam Angola e África na
antologia poética organizada pela revista cultural da Roménia Horizont Contemporary Literay que conta com colaboradores dos cinco
continentes e que se expressam nas mais diversas línguas.
Canhanga |
Por seu turno, Luciano
Canhanga, Soberano de nome artístico, vem sendo traduzido e publicado em
Português, Inglês e Romeno desde 2010 pela mesma revista e weblog
(http||contemporaryhorizon.blogspot.com), participando na última edição de 2016
com o poema "Satircóph".
Patissa é natural e
residente em Benguela, ao passo que Canhanga nasceu no Libolo e reside em Luanda.
________________
PORQUE EXISTIMOS
São doridas por hábito as
linhas que lembram o amor. Não é justo, amor, como se a flecha quebrada, a flor
que secou, o pombo correio que perdeu a rota, sei lá, fossem o tudo. Teimo em
cantar vigorosa poesia até sobre crateras eternas que parimos. Que seja curto
ou longo, agora não importa. Maresia é que não. Para todos os efeitos,
existimos.
OMO ETU TWAKALELE
Vasyata
okutamba kevalo atayo vaivalwisa ocisola. Ka cikatave, a cisola cange, seti mbi
usongo wateka, onelehõ yakukuta, o pomba kapitiya yanelenlã vonjila, vakwê,
ovyo ño lika. Nditongeka lokwimba ovihaso vyapama ndaño kovikungu vyenda ñõ hu
twakoka. Nda cisõnvi, nda cimbumbulu, kaliye cikale mwenle ndoto. Enyumãlõ syo.
Cinene ño okuti, eteke limwe twakalele.
Gociante Patissa. In «Almas
de Porcelana», 2016.
Penalux.
São Paulo. Brasil. Pág.55
____________________________________
SATIRCÓPIH
Manhã
cedo, iam domingueiros à igreja
(joelho
dobrado)
Onde diziam: ser todos
irmãos
Minutos depois, faziam-se à
embala
(caçadeira ao ombro)
Onde rusgavam preto-objecto
em vossas mãos
Assim construístes vossas
nações
À custa de sangue e suor
alheios
Dizeis hoje:
"pretos-sem-noções"
Deixai-nos, não mutilem
nossos anseios!
HIPÓCRITAS
(texto de
Canhanga)
__________________________
PREGUIÇA DA
CABAÇA
O deserto tem sua pressa
parece que passa
parece que pára
O céu vai sem gotas
há muito
a vegetação
absorta escapa
bebendo dos meus olhos
e o deserto
parece que passa
parece que pára
brincando aos tempos
Mas tinha já que passar
não sobra muito mais
na cabaça
das lágrimas
OWESI WA MBENJE
Ekalasoko likwete onjanga yalyo
Oku seti lipita
Oku seti litãi
Ilu letosi lakamwe
Osimbu yo yipita
Ovikulã lensanda lyavyo
Visupuka
Lokunywã vovaso vange
Ekalasoko likwete onjanga
yalyo
Oku seti lipita
Oku seti litãi
Vokupapala lolotembo
Pwãi nda yapitile yapa
Ka mwasupile ño vali calwa
Vombenje yaswelenlã
Gociante
Patissa. In «Guardanapo de Papel», 2014.
NósSomos, Lda. Vila Nova de Cerveira, Portugal
Humor | O Maliano
Um maliano gravemente doente de baixa no hospital abre os olhos e vê a família dele toda à volta da cama e pergunta: - Abdul está aonde? - Estou aqui papá! - Zulmira está aonde? - Pai, estou aqui também! - Gulamussene está aonde? - Estou aqui! - Seus burros! Quem ficou no Loja?!
(Recebido sem identificação de autor)
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Jornal Cultura desta semana traz RESUMO LITERÁRIO DA OBRA “A ÚLTIMA OUVINTE”, DE GOCIANTE PATISSA
Texto de João Fernandes André, Kalunga (professor de linguística). in «Cultura
– Jornal Angolano e Artes e Letras», n.º 126, Ano V, pág. 9. Luanda, 17-30 de Janeiro
2017
A Última Ouvinte é em livro composto por sete contos [93 páginas, com
edição da União dos Escritores Angolanos, Luanda, 2010]. Em nosso entender, os
contos têm algumas 'gotas' de crónicas.
"A Última Ouvinte"
É o conto que dá título ao livro, neste conto o narrador pinta a
história de dois jovens, um radialista e uma jovem que de longe mostrava uma
beleza extraordinária, doce voz com que falava sempre que ligasse para a rádio,
no programa do locutor Caçule. E, de acordo com o narrador, "em rádio, o
som é cheiro, luz, a cor, a forma" ... "pela grossura ou magreza da
voz concebe-se a imagem do locutor ( também, nesse diapasão, digamos a de quem
liga\ouvinte)." Caçule apaixonou-se pela Esperança da Graça que, na
verdade, era Marta Domingas, uma mulher que carregava uma paralisia que não lhe
ajudava a fazer muita coisa que gostaria de fazer, mas passava o seu tempo num
quarto, lendo uma pilha de livros. Caçule fez tudo que era possível para
localizar a mesma e, por fim, encontro-a. O conto tem um final meio triste,
porque a amada Marta ou Esperança morre e o radialista Caçule fica maluco
(podemos dizer que eis a razão do título "A Última Ouvinte").
Portanto, este conto nos mostra que nem tudo que parece é.
"Os Dentes Do Soba"
Neste, é possível ver o peso da cultura, Kutala, uma adolescente que
vivera sob os cuidados de missionárias, educada com rigor, amiga-se com o jovem
Mbocoio e torna-se na segunda pessoa mais influente da sanzala. O soba
orientava muitas regras que causavam ciúmes ao Mbocoio, porque aos poucos ele
sentia que estava a perder a sua mulher. Mbocoio, cansado com as regras, foi a
casa do soba e deu-lhe uma porrada até que um dente se partiu ao meio, os
conselheiros do soba, para não fazerem com que o soba perdesse o respeito que a
população tinha por ele, decidiram castigar o Mbocoio (como tocador de sino) e
manter Kutala no seu referido cargo. O dente do soba foi o motivo secreto do
novo ritual e\ou moda da sanzala de Tchiaia, o dito Omeyeko. Portanto, com este
conto entendemos o seguinte: " as leis e modas, às vezes, surgem de
acontecimentos tristes.
"O Temível"
Um conto onde se pode ver como algumas pessoas usam o mal para terem
êxitos, como os bons profissionais amam os seus trabalhos (até esquecem a
reforma), é o caso de dona Judith. Deste conto se pode perceber que o mal volta
sempre para nós, tudo de mal que fazemos aos outros, cedo ou tarde, acontecerá
connosco!
"Os três (não sabemos
se é a editora ou o autor que escreve "tres" no lugar de
"três") braços do rio"
Este conto mostra um pai preocupado com os seus filhos, ensina os filhos a serem bons como o rio. O filho caçula amiga-se com uma bela moça, mas o pai da mesma não lhe dá o seu devido respeito. Deste jeito, o jovem, descobrindo o ídolo do sogro (Mobutu), vai à caça de um leopardo, mas acaba morto, ele e a sua presa. Sabendo disso, a comunidade fica triste, porque era um bom caçador. Organiza-se um evento em honra ao defunto caçador e a pele do leopardo é entregue ao sogro. O sogro passa então a reconhecer a bravura do seu genro.
Este conto mostra um pai preocupado com os seus filhos, ensina os filhos a serem bons como o rio. O filho caçula amiga-se com uma bela moça, mas o pai da mesma não lhe dá o seu devido respeito. Deste jeito, o jovem, descobrindo o ídolo do sogro (Mobutu), vai à caça de um leopardo, mas acaba morto, ele e a sua presa. Sabendo disso, a comunidade fica triste, porque era um bom caçador. Organiza-se um evento em honra ao defunto caçador e a pele do leopardo é entregue ao sogro. O sogro passa então a reconhecer a bravura do seu genro.
"Um Natal Com A Avó"
Este conto espelha a vida das zonas urbanas. Conta o amor dos netos
para com as suas avós e o desejo dos netos de querer estar sempre com as avós,
mas pinta também a vontade das avós que gostam de estar nas zonas rurais,
sentir a calma e estar fora dos engarrafamentos e problemas das cidades.
"A Morte Da Albina" Neste conto, podemos perceber o modo como os
albinos têm sido tratados, estereotipados como bruxos e outros adjetivos não
salutares. Uma jovem albina é morta por um jovem que tinha problemas no seu
relacionamento.
"O Homem-Da-Viola"
Neste conto, temos a história de um jovem talentoso que viaja e
encontra a sua alma gémea, mas a família coloca alguns preceitos para ambos
estarem juntos, visto que a jovem era viúva... (trata-se duma narrativa
aberta).
Marcas da angolanidade
Depois da nossa melíflua leitura, cabe dizer que "A Última
Ouvinte" marca a Literatura angolana pelo modo como seu autor desenrola os
contos e as marcas de angolanidade que nela podemos encontrar. Outrossim,
ficamos admirado com o modo como o autor, que parece um excelente falador do Umbundu,
escreve algumas palavras de línguas bantu com a grafia e fonologia do Português
(ex. Caçula, caçule, quimone ... E outras) e o uso da escrita em Português de
acordo com o novo Acordo Ortográfico ( que alguns Portugueses chamam de
"*Acordêz"). Agora pergunto: Será que o uso do "Acordêz"
nesta bela obra foi feito pelo autor, ou foi feito pelo editor e\ou editora?! E
onde estava a UEA quando publicou a obra, visto que ainda não assinámos
(Angola) o dito Novo Acordo Ortográfico?!
domingo, 15 de janeiro de 2017
Utilidade publica | UM TELEMÓVEL A NÃO COMPRAR
Por experiência própria, tomo a liberdade de partilhar um conselho de graça a quem o quiser tomar por prudência: não comprem o telemóvel unitel da campanha "Anselmo One, Bling". Apesar da vantagem em ter 2 chips, do seu preço aparentemente aliciante (menos de 50 mil kz) e ser do padrão Smart, o infeliz aparelho tem problemas de bateria, que descarrega com muita facilidade ao cabo de alguns meses de uso. Pior do que isso é não haver nas lojas da citada operadora (nem nos irmãos congoleses que geralmente comercializam à porta) sobressalentes. É assim sendo um telemóvel a não comprar. E porque ainda não aprendi a "assobiar com boca alheia", acrescento que este parecer deriva de uma experiência pessoal com dois aparelhos do tipo, não pretendo atribuí-lo a outros utentes. Ainda era só isso. Obrigado.
Daniel Gociante Patissawww.angodebates.blogspot.com
sábado, 14 de janeiro de 2017
Aviso | Mudança de endereço postal
Sua
excelência eu leva ao excelentíssimo conhecimento de cada excelência na sua
lista de amigos (os inimigos não estão alistados, andam assim mesmo a granel,
pelo que não estão identificados)... Continuando. Informa então sua excelência
eu que a partir de ontem, 13 de Janeiro, a caixa postal do escriba Gociante
Patissa passou a ser a N.º 393-Benguela, Angola, pelo que pede que esqueçam
ainda aquela 1041. Nesta senda, e liberto de quaisquer delongas, ficam
expressos excelentíssimos votos de boa digestão e excelente abraço. Ainda era
só isso. Obrigado. Ah, e antes que me esqueça... Cumpra-se! hahaha
Nota de imprensa | Alargado prazo de candidaturas à 2.ª edição do Prémio Literário UCCLA - Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa
As candidaturas à segunda edição do
Prémio Literário UCCLA “Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa” foram
alargadas até ao dia 21 de março de 2017, Dia Mundial da Poesia.
O Prémio Literário UCCLA é uma
iniciativa conjunta da UCCLA, Editora A Bela e o Monstro e Movimento 2014, que
conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, e tem como objetivo estimular
a produção de obras literárias, nos domínios da prosa de ficção (romance,
novela e conto) e da poesia, em língua portuguesa, por novos escritores.
A participação neste prémio deverá ser
feita até às 24 horas do dia 21 de março de 2017. São admitidas candidaturas de
concorrentes que sejam pessoas singulares, de qualquer nacionalidade, fluentes
na língua portuguesa, com idade não inferior a 16 anos. No caso dos menores de
18 anos, a atribuição de prémios ficará sujeita à entrega de declaração de
aceitação pelos respetivos titulares do poder paternal.
Constituição do Júri:
António Carlos Secchin, Brasil
Germano de Almeida, Cabo Verde
Inocência Mata, São Tomé e
Príncipe
Isabel Alçada, Portugal
José Luís Mendonça, Angola
José Pires Laranjeira, Portugal
Biblioteca Nacional de Angola (Luanda)
sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
Nota de imprensa | António Fonseca eleito Secretário-Geral da Academia Angolana de Letras
O escritor António
Fonseca foi ontem, 12/01, eleito Secretário-geral da Academia Angolana de Letras (AAL),
pela Assembleia Geral daquela associação cultural, reunida pela primeira vez,
em Luanda.
A Assembleia
dos académicos decorreu na sede da União dos Escritores Angolanos (UEA)
presidida pelo seu Presidente, Artur Pestana (Pepetela), e ladeado pelo PCA da
AAL, Boaventura Cardoso, bem como José Luís Mendonça, Secretário da Mesa da
Assembleia Geral.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
Crónica | PEDRO
Texto de António Lobo Antunes (escritor
português)
A criança
mais fácil de educar que conheci na vida foi o meu irmão Pedro, porque
dizia sempre que sim.
– Pedro
isto não é hotel
– Sim mãe
– Não
voltas a chegar tarde
– Sim mãe
– O jantar
é às oito e um quarto
– Sim mãe
– E estás à
mesa a essa hora
– Sim mãe
e depois,
claro, não aparecia. Telefonava às dez da noite.
– Onde é que tu estás Pedro?
– Do outro
lado da linha
– E vais voltar
imediatamente para casa.
– Sim mãe
e chegava,
claro, às horas que lhe apetecia, tranquilo, suave, educadíssimo.
terça-feira, 10 de janeiro de 2017
Crónica | Uma ligação muito bem perdida
E o senhor, o
que quer beber? Água, se faz favor!, abri-me como quem andasse no deserto. Quer
outro copo, certo? Sorri à perspicácia da assistente, portuguesa com muitos
ainda por somar até chegar aos trinta. Também aqui dentro o ar é muito seco,
acrescenta ela com aquela empatia de converter instantes em momentos
memoráveis. O contacto é breve e ela segue pelo corredor, empurrando o carrinho
dos víveres.
Tenho livros
para ler no iPad mais o filme sobre Mandela e o desporto contra a segregação
racial. Vendo a assistente de volta, peço um minuto: preciso da vossa ajuda.
Tenho ligação para Luanda, e estamos a sair daqui com duas horas de atraso.
Íamos a bordo da TAP para Lisboa, vindos de Frankfurt, Alemanha, aonde me
desloquei entre 16 e 23 de Outubro de 2016, a convite do Goethe-Institut, para
integrar o grupo de 22 países internacionais visitantes à Feira Internacional
do Livro de Frankfurt.
Vou avisar o comandante,
assegura ela, quando estivermos em aproximação, reportamos da sua condição. Em
princípio, o vôo para Luanda terá de esperar. Voltei a agradecer pelo socorro.
Isto hoje anda tudo assim. Houve uma situação no aeroporto de Lisboa, de manhã,
que afectou toda a programação, referiu ela. Mas que situação seria? Isto já é
a pergunta que tive de asfixiar, da incorrigível curiosidade de jornalista
fracassado, não é? Mas, enfim, revesti-me da minha faceta de profissional de
aviação e deduzi que a simpática rapariga não evocaria mais do que as célebres
razões de ordem operacional. Só mais tarde soube que se tratou da greve de
controladores e dos taxistas.
Chegados ao
terminal de transferências, o inesperado. O avião para Luanda tinha já partido.
Sou o quarto na fila das irregularidades. Duas moças com destino à Madeira, sem
no entanto ter onde se acoitar, quando só às cinco da manhã sai o primeiro
autocarro. Um brasileiro rumo à Espanha. Confusão é o oxigénio que se respira.
Três agentes da GNR não escapam aos impropérios, por alegada inércia. E lá
surge um João, funcionário da TAP, célere e algo refilão. A minha vez faz-se
vez, e lá o funcionário preenche um VOUCHER para hospedagem e alimentação num
tal de VIP Executive Lisboa. O endereço dá-se verbalmente, eu faço tudo menos
reter. Qualquer taxista sabe onde é, diz ele. Vôo remarcado para o dia seguinte
à mesma hora. Às 23 horas assento o traseiro no assento do táxi. O que se segue
é uma gincana para esquecer.
De VIP
Executive, Lisboa tem uma cadeia de hotéis que nunca mais termina. O taxista,
45 anos, ascendência cabo-verdiana, no princípio é um misto de empatia, sereno
chuvisco e victória desportiva. O meu Benfica ganhou, rapaz! Um a zero, mas o
que importa são os três pontos. Já batemos a umas quatro portas e nada de ser o
hotel parceiro. Uma da manhã. O taxista agora é a própria fúria. Tenta
abandonar-me na rua. Os dez euros que tem a receber do hotel, diz, não
compensam.
Simulo não ter
dinheiro, a ver se o prendo na odisseia. Quem é que me paga o combustível?! Um
gajo até desliga a merda do taxímetro; se a bófia vê um valor alto, ainda
julgam que ando a enganar. Ouve, meu amigo, isso fazem consigo (evitou dizer
preto), porque se fosse diferente… Mantive-me calado e indiferente aos bufos do
homem, recorrendo à técnica da exaustão. Nada nos unia melhor do que o silêncio e a esperança de ver terminado da melhor maneira o pesadelo à TAP. Às duas,
finalmente, achávamos o maldito hotel, ali pelo palácio da justiça. Junto dez
euros aos dez pagos pelo hotel, e de repente o taxista até já tem familiares em
Benguela.
E na manhã
seguinte contacto a advogada Alexandra Sobral, amiga de luxo que a literatura
me brindou, e já tenho cicerone para um dia de turismo por Lisboa e seu
potencial cultural, com a inclusão da outra alma de luxo, a arqueóloga Filomena
Barata. No balanço da odisseia, é caso para dizer que foi uma ligação muito bem
perdida.
Gociante
Patissa. Aeroporto Internacional da Catumbela, 10 Jan 2017