quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Crónica | Crónica de um iPad furtado, um ano depois


Numa das aventuras em turismo interno que fiz ao Wambu (Huambo), finais de Agosto de 2015, regressei com desgosto ao notar que me haviam furtado o ipad mini. Não que não consiga viver sem ele, até porque praticamente pouco ajuda nos campos em que mais me dedico (produção de textos e edição de fotografias). O valor do maldito objecto é simbólico, pois ganhei-o de prémio da categoria de poema, no quadro do Festival de Artes de uma empresa de dimensão nacional (e arredores, diria o outro).

A última memória que guardava dele era a do momento em que descarregava as malas, do quintal da hospedaria para o quarto, lá no Wambu, o que me levou a deduzir que o tivesse deixado por esquecimento sobre o tejadilho do carro. Já em Benguela, inevitável foi telefonar para o amigo Chico Pobre, a pessoa que me sugeriu a hospedaria em causa e com cujo pessoal de serviço lida muito bem, na esperança de surgir alguém que o tivesse levado por um destes enganos muito “nossos”. Do ipad nem vê-lo.

Em mim, para dizê-lo francamente, ficou a desconfiança. Alguém, podia ser um hóspede ou um funcionário, ter-se-ia assenhorado do meu ipad. E por acaso podia eu ter feito, como dizemos terra-a-terra, uma grande confusão, mas optei por me conformar. Conformar, conformar, até ver, né? Melhor dizer que preferi "bater a bola baixa". Podia nesta senda desfazer-me do carregador de corrente, inútil que se saíra pelos cantos da minha casa, só que preferi, também quanto a isso, ficar-me pela inércia. Mas como só acontece nos filmes, eis-que na sexta-feira passada recebia eu um telefonema de número desconhecido, o qual, infelizmente, não pude atender, reunido que me encontrava.

Nas trocas de SMS, viria a perceber que se tratava do responsável pela segurança do aeroporto. O do Wambu, certo? Errado! Era do aeroporto da Katombela, que pedia para eu retornar a ligação logo que possível. Por qualquer razão, não o fiz. Na verdade não fazia a menor ideia do que havia de pessoal para tratar. Anteontem, ao cruzarmos no corredor, diz-me ele que precisava que eu verificasse algo. Ou não perdeste um dispositivo? Indagava ele. Sorri, ao jeito de enrolar, enquanto esforçava a memória a compulsar uma eventual nova perda. Continuei a dizer que não me ocorria nada.

Mas qual não foi a minha surpresa, hoje, ao receber de volta o meu ipad, num enredo típico de filmes policiais. Como seria possível? O ipad fora entregue ao pessoal de segurança há coisa de oito meses por um daqueles jovens que fazem intermediações nem sempre aconselháveis entre passageiros aflitos e aviadoras. Ocorreu-me mesmo traçar umas linhas de gratidão pelo gesto, até ser confrontado com a dura realidade.

Sempre cheguei a trazer o ipad do Wambu mas esqueci-me dele foi no balcão de check in. O jovem tê-lo-á recolhido à socapa e levado para casa, possivelmente para o vender, mas volvidos quatro meses viu-se obrigado a desistir do bem. Porquê? Simples. Logo que o perdi, fui ao site da apple e efectuei o bloqueio. Tal operação gerou a seguinte mensagem: “Este ipad foi perdido. Por favor, contacte-me. 0092354…” Bastou ligarem o aparelho para se chegar até ao proprietário. E pronto. Escapamos! Obrigado anyway.
Gociante Patissa. Benguela, 12 Outubro 2016
www.angodebates.blogspot.com
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