Fotos a circular as redes sociais, de Edyano Dias |
Os acontecimentos no Lobito têm mobilizado o país inteiro
"e arredores". O contrário não seria de esperar. A solidariedade de
todos os cantos é reconfortante.
Eu morei dos 9 aos 30 anos de idade no bairro Santa Cruz,
o mais assolado, onde se encontram a residir irmãos meus. E apesar de não terem
sido directamente afectados, ainda não tive suficiente força anímica de visitar
a zona do Akongo, do histórico estádio do Buraco,
do clube Académica do Lobito, vizinho do Bairro da Luz. Não costumo ser bom em
conter lágrimas, eu bem sei, pelo que outras vias terei para dar o meu calor.
40 anos depois, as cheias
voltam para ceifar centenas de residências e perto de 70 almas. Todas as forças
vivas que se empenharam e ainda se empenham em acudir a situação dos nossos
compatriotas são de louvar.
A imprensa vem fazendo a sua
parte. Bem ou mal, mas vem fazendo, conforme os seus interesses e a sempre
subjectiva linha editorial. E quem como eu (por opção, não usa das parabólicas
excepto fora de casa, e como tal) só consuma "produtos" da TPA, não
pode deixar de sugerir uma abordagem "sustentável" do assunto, ao
mesmo tempo que se realça (e estou de acordo) a recolha de donativos.
Vale, se calhar, considerar o
paradigma do sector da aviação (para onde a luta pela sobrevivência me lançou
há oito anos). Neste ramo, catástrofes, tragédias, calamidades, desastres
servem também para fomentar debates, reflexões técnicas sobre o ocorrido, mas
focando na identificação de medidas para prevenir próximos infortúnios. E neste
campo, a TPA, televisão pública com sinal aberto e 24 horas diárias de emissão,
prestaria um serviço ainda mais consistente com a promoção de um espaço de
reflexão metodológica (debate ou outro formato que convém), juntando os mais
idóneos fazedores de opinião que o país tiver.
As várias horas de emissão em
campanha assistencialista são úteis, dada a circunstância de emergência, mas
têm de ser reforçadas com a noção de sustentabilidade, já a pensar no dia
seguinte, pois as fontes de apoio têm prazos. E menos construtivo ainda é ouvir
a leviandade que atribui culpas às populações sinistradas, quando bem sabemos
que as construções, em zonas de risco ou não, não acontecem sem a licença
emitida pelas administrações.
Compreendo a necessidade oficial
de conter qualquer tendência de alarmar e semear o pânico, mas a omissão também não
ajuda. Onde foi que falhamos? Seria a tragédia evitável? Que factores impediram
as águas de seguir para os antigos talhões da antiga Açucareira 1.º de Maio?
Para quando a requalificação das cidades do litoral de Benguela, do ponto de
vista dos sistemas de drenagem? Como deverão agir os cidadãos de zonas com
características similares em tempo chuvoso? Estas e outras questões ajudariam muito provavelmente na cultura geral dos cidadãos.
Gociante Patissa, Benguela 15.03.15
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