quarta-feira, 25 de março de 2015

Diário | Ainda o infrutífero combate à poluição sonora nos transportes públicos

Pára o táxi, os habituais mini-autocarros azúis-e-brancos da marca Toyota e que atendem pela alcunha de quadradinhos. 07h30 da manhã, o cidadão vai mesmo à tangente no horário para o serviço.
"Quanto é?"
"Cento e cinquenta."

O carro arranca da paragem da Lupral, para de seguida frear, antes mesmo de atingir a terceira velocidade. Dois jovens estudantes juntam-se à corrida. Devem andar pelos 22 anos, se tanto, a considerada geração de futuros quadros da nova Angola. O destino é a universidade Jean Piaget, anunciam eles como forma de ver reduzida a cobrança para 2/3 udo valor. O cobrador condescende tacitamente ao abrir a porta traseira. Eles acomodam-se, talvez apressados demais para um breve "bom dia." Nada a discutir, pois, está visto, o estudo a níveis avançados tem destas coisas de dispensar lógicas e praxes aparentemente pequenas. E, se o leitor quiser olhar de maneira mais generalizada, verá que é graças a muito estudo que os engenheiros, fiscais de obra e demais chegam à dispensar a existência de drenos para escoar as águas, preocupação que é demasiado básica para o nível universitário. Continuando com os dois estudantes. Traziam os auscultadores calçados, ao volume acima do máximo, com a indigesta generosidade de colocar os demais a ouvirem a música do motorista e a dos jovens. Seria tolerável. Seria. Acontece que os jovens não se contentavam em só ouvir, libertavam-se em playback (devidamente desafinados, diga-se). De repente, temos três fontes de som. O cidadão vira-se para o jovem  que cantava uma música romântica brasileira, sentado atrás de si, para o interromper:
"Estás a cantar muito alto."

O jovem, muito provavelmente surpreso por tal interferência, só franziu a testa em reacção e mais não cantou. O protesto veio do seu companheiro, que também cantava uma outra música:
"Mas o outro só está a se divertir."
E continuou a cantar, embora reduzindo o volume das suas cordas vocais, até chegar ao seu destino.

Os demais passageiros, como é normal, permaneceram indiferentes. Podiam muito bem sair em defesa dos barulhentos, legitimado que cada vez mais está isso de abusarmos da nossa liberdade para alienar a de outrem.

Gociante Patissa, aeroporto da Katombela, 25.03.15
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