Porque
razão vemos tanto jovem principiante a se dar a conhecer como sendo o poeta
disso ou daquilo, antes de dizer o próprio nome? Como nunca cheguei a fazer
parte de movimento literário algum e como tal sem experiência em tais
“auto-catalogações”, procuro entender a razão por detrás da tendência reinante
cá no país, no que respeita a títulos e epítetos no campo da escrita. Longe de
mim ter algo contra os títulos, qualificações ou o que o valha, lá onde sejam plantados como corolário de uma estrada consistente.
É diferente, por exemplo, do que testemunhamos nos novos talentos na escrita.
Olho à volta e não encontro na minha estante de livros nenhum grande/bom
escritor que se chame "poeta" disso ou daquilo. Temos um Fernando Pessoa, um
Agostinho Neto, um Jorge Amado, um Shakespeare, assim mesmo, só nomes, nada
desse avanço impessoal de cargos. Faz-me sempre mossa quando alguém se
apresenta sob o título de escritor ou poeta antes do nome próprio, o que pode
dever-se apenas, admito, à reluctância em aceitar o título como alcunha.
Recordo bem da agressividade de um colega meu da 7.ª classe, há por aí 20 anos,
por eu me recusar a trata-lo por "doutor", alcunha por si adoptada por
influência de um personagem de novela brasileira. Até o amigo Fridolim
Kamolakamwe, que é o mais mediático da minha geração, apresenta-se com o nome
próprio, deixando o título de poeta na boca do público que como tal o
reconhece. Com as antecipadas desculpas a quem se sentir eventualmente lesado,
o esforço que dedicamos em assumir o título devíamos investi-lo em solidificar
a cultura geral, o campo léxico, a coabitação com bons exemplos, ou seja, “a
consistência devia sempre ser melhor do que a aparência”.
Gociante Patissa,
Aeroporto Internacional da Katombela, 08.12.14
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