O
serão é o momento cultural mais formal entre os ovimbundu. É praticamente um
dogma, só de noite é permitido contar estórias e adivinhas. Diz-se mesmo que
quem o fizer durante a luz do dia corre o risco de lhe nascerem chifres (nada
relacionado com o sentido de traição). Cá por mim, julgo que será uma
estratégia de o entretenimento não prejudicar o horário do labor. Alguém então
propõe, por exemplo:
"Alupolo!"
(minha adivinha!)
"Wiye!" (Venha!)
"Nditãi kesinya, ndinyanyomõlã alensu." (Encontro-me na outra margem a abanar lenços.)
"Ina yukwene, nda enda epenle, ku koyole." (Se a mãe de outrem está em carência de vestuário, não te rias dela)
"Wiye!" (Venha!)
"Nditãi kesinya, ndinyanyomõlã alensu." (Encontro-me na outra margem a abanar lenços.)
"Ina yukwene, nda enda epenle, ku koyole." (Se a mãe de outrem está em carência de vestuário, não te rias dela)
E a
roda do diálogo gira com tudo o que de metafísico se reveste, vista a tendência
de serem os mesmos contos e fábulas cantados, adágios e adivinhas, mas que,
entretanto, não perdem o poder de suscitar o mesmo respeito, medo, fantasia e
vontade de voltar a ouvir.
Bom
domingo a todos, que o meu começou já com a panela de arroz doce queimada ao
lume, enquanto escrevia esse bocado aqui.
Ovilamo!
(cumprimentos)
Gociante
Patissa, Benguela 14.09.2014
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