Carlos Ferreira
"Cassé", que presidiu ao júri da edição deste ano do concurso Sagrada
Esperança, manifestou ao jornal Cultura a sua satisfação pela qualidade das
obras concorrentes (texto e foto de Isaquiel Cori).
Jornal Cultura -
A qualidade geral das obras apresentadas a concurso indiciam que o estádio actual
da literatura angolana é bom, ou pelo menos auspicioso?
Carlos Ferreira -
No geral, e contrariando o que os jurados reclamaram dos trabalhos concorrentes
ao Prémio António Jacinto, apareceu um número muito razoável (entre 50,
digamos, 15...) de escritos de qualidade literária efectiva.
JC - As
obras cuja publicação o júri recomendou serão antes submetidas a um processo de
correcção ou sairão a público tal como estão?
CF- A
recomendação para publicação é exactamente isso. Uma recomendação, que nem
sequer está prevista no regulamento. Simplesmente por se tratarem de obras que
nos parecem superiores à média do que tem chegado ao público, decidimos
aconselhar a sua publicação.
JC - A
recomendação tão extensiva para publicação de obras concorrentes além de
condescendente não poderá igualmente significar um incentivo à mediocridade?
CF- Não
houve rigorosamente nenhuma condescendência quanto aos aconselhamentos. Só o
fizemos e, de forma igualmente unânime, por haver qualidade efectiva. O facto
de terem sido escolhidas também por unanimidade dão a dimensão exacta da
exigência que o júri colocou na sua selecção.
JC - A
decisão do concurso foi consensual ou resultou de muito debate?
CF - A
decisão do júri, foi, não só unânime, como não levou mais do que dez minutos. E
isso
porque, para obedecer aos itens principais do regulamento,
a obra vencedora deixava todas as
outras a larga distância, do ponto de vista da inovação,
da modernidade, do imaginário e em simultâneo por ter um carácter tão nacional
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A edição deste ano do Prémio Sagrada Esperança foi atribuída ao
escritor Adriano Mixinge (Luanda, 1968), que concorreu com o romance "O
Ocaso dos Pirilampos". Ao anunciar o resultado do concurso, a escritora
Amélia Dalomba, secretária do corpo de jurados, referiu que a obra vencedora, vertida
em prosa poética, "conjuga vários estilos, entre a crónica, por natureza irónica,
e o ensaio, recorrendo ao simbolismo, outra componente essencial da
literatura".
Além disso, o júri considerou que a obra "está integrada num
contexto universal, abarca Preocupações hoje quotidianas de qualquer cidadão
comum – a destruição ambiental, a falta do exercício pleno da cidadania, a
desumanização, a sobreposição do lado material ao espiritual, num apelo à consciência
colectiva".
O júri propôs a publicação de outras obras remetidas a concurso,
nomeadamente, “Estórias para bem ouvir leitura para todos”, de Fragata de
Morais, “Fátussengóla - O Homem do rádio que espalhava dúvidas”, de Gociante Patissa,
e “Actores de Teatro – A vida dos grupos angolanos”, de Francisco Luís João
Gaspar.
Mesmo tendo achado que "não obedeceram a alguns parâmetros
determinados pelo regulamento", o júri propôs igualmente a publicação dos originais
“A pele de Zito Maimba”, de Ana Paula de Jesus Gomes, “Sou quem sou”, de
Ariclenes Tiago, “Sou aquilo que me deixo ser”, de Marcos Castro e Silva, “A
sul do sol”, de Francisco Montanha Rebello, e “Filhos do Musseque”, de Aberto
Botelho.
Adriano Mixinge, historiador e crítico de arte por ora emprestado à
diplomacia (é adido cultural na Embaixada de Angola em Espanha), é um autor bastante
conhecido. Publicou os livros "Tanda", romance, Edições Chá de
Caxinde, Luanda, 2006; e “Made in Angola: arte contemporânea, artistas e debates”,
ensaios, Editions L`Harmattan, Paris, 2009.
In «Jornal Cultura», nº 40, pág.
430 de Setembro a 13 de Outubro de 2013, Presidente do júri da edição deste ano do Prémio Sagrada Esperança
como universal.
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