A cidade prepara-se para escurecer, mesmo até para coincidir com o efeito da noite. É tépido o que ainda resta de sol na rua que vai do hospital central à rotunda do Kalunga. A contemplar o cabo submarino estão duas mulheres, uma beirando os 40 anos, outra aparentando mais. A vedação do quintal só permite ver-lhes o busto. Contemplativas, ares de paz. O que lhes vai na alma é património alheio. O respeito pelo silêncio desaconselha a anónima saudação. Chega a essa leitura o cidadão que faz uma breve paragem, de modo a descartar-se do saco de lixo no porta-bagagem, não estivessem dois contentores disponíveis. O interior do carro guarda o perfume do que foi banana, agora já cascas somente. As duas almas, encarnando de improviso o estereótipo classicista, soltam inconveniências: “Saem lá bem longe, bem longe, para meter lixo no nosso contentor?!” O automobilista não entende o que é “sair de longe”, muito menos a alegada posse quando se trata de um serviço suportado pela municipalidade. Vai daí ignorar o protesto. Não valia a pena discutir miudezas com mentalidades medievais. Faz o que tem que fazer e deixa-as exteriorizar seus dizeres fedendo pior que o lixo no contentor. Amanhã é domingo, e não se afasta a hipótese de cruzar com elas à porta de um desses emblemáticos templos. Benguela tem disso também, é claro.
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