Imagem de autor desconhecido |
CRÓNICA EM CONSTRUÇÃO: Tinham-se passado alguns anos sem se jogarem a vista em cima. O mais recente beijo estava congelado no tempo em forma de carimbo estampado no bilhete de despedida, no gesto clássico de untar os lábios de batom e seguidamente beijar o papel. Eram dela os lábios, não havia dúvidas, apesar de evidente a diferença. Aquele bilhete tinha qualquer coisa de trágica, o que nem mesmo a natureza floreada e perfumada do papel usado conseguia disfarçar. Vou, devo ir. Até um dia, Luanda é aqui perto, lia-se. Guardo tudo, o que esqueci e o que devo lembrar. No outro dia, nessa mania de amar sob a chuva... lembras? Tem aquele dia ainda, entre a tua casa e a minha, que esticaste o laço da minha última roupa. Aquilo depois rebentou, tive que levar embrulhado na mão, e ainda por cima meu irmaozinho quase me obrigava a mostrar, julgando que fosse rebuçados. Você!... O tipo sorria todas as vezes que seguiram à primeira leitura, rotina em jeito de quebrar o vazio. Um dia, está ele finalmente em Luanda. O telemóvel e a ponte são feitos do mesmo barro. Estou no Nguanhã, diz-lhe a rapariga. A partir de Viana, ele percebe que Luanda é distante, principalmente quando se está dentro dela. Entre um candongueiro e outro para ir ter com ela, ele nota, incrédulo, que tem o bolso vazio... o telemóvel fora já furtado. Tem que ficar para outra altura a tentativa de reencontro. Se calhar, ter o número da pessoa amada na memória do telefone é pouco.
Gociante Patissa 22.09.13
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