Imagens 1: OPaís; 2: fonte sob anonimato |
Foi
pouco depois das 23 horas de sábado (07/04) que caíram na minha caixa de
correio quatro imagens de um mesmo conteúdo reportando algo à primeira
vista aterrorizante, o boletim de verificação de óbito do sindicalista Armindo
Cambelele.
Datada
de 07 de Abril e lavrada a punho da médica legista Maria de Fátima João de
Almeida, a lacónica narrativa das causas da morte do sindicalista eleva, ainda mais para um leigo, a nebulosidade, ao contrário do que se esperava, que
é fazer luz sobre o dramático fim de uma vida, ocorrido na tarde de sexta-feira
(06/04).
Foi
mesmo suicídio? Eis a dúvida mais registada consoante a notícia se foi
espalhando. Afinal, faltavam três dias para a realização da fracturante greve
geral de professores, convocada pelo “combativo” Sinprof (sindicato de
professores), do qual Cambelele foi representante na província de Benguela, apesar
de reformado há já três anos. O corpo de Cambelele, 57 anos, natural da
província do Uíge, conhecido pela intensidade no papel de interlocutor da
classe por condições mais dignas, foi encontrado estatelado no seu apartamento na
cidade de Benguela, segundo relatos, com uma corda à volta do pescoço.
Juntadas
as peças do puzzle, o cenário sugere enforcamento. Chegou a tipificar isto mesmo no
calor do acontecimento o Director do Gabinete de Comunicação Institucional e
Imprensa do Comando Provincial da Polícia Nacional, superintendente-chefe Pinto
Caimbambo. A tese veio cedo a ser refutada pela família que, conhecendo o seu
parente como ninguém, julga-o acima de uma tal egoísta saída, fosse qual fosse a envergadura do problema.
Perante
o quadro, e sem prejuízo da investigação prometida pelos órgãos afins, a
opinião pública depositou no resultado da autópsia a mesma expectativa que se
tem perante um sinistro aéreo, quando já só a caixa negra do avião pode dar
resposta às perguntas e como tal ligar as pontas soltas. Foi suicídio ou
assassinato dissimulado? Vamos ao que diz o laudo da médica legista quanto à
moléstia que foi a causa da morte: “Intoxicação de substância tóxica não
identificável, consecutivo a asfixia mecânica por estrangulamento.”
Há
qualquer coisa que soa pouco original. Ora, se tivermos alguma paciência de
recuar até 09 de Janeiro deste 2018, quando se deu a morte do futebolista do Sagrada
Esperança, Ntaku Zibakaka, durante treinos de estágio em Benguela, veremos
que o texto da autópsia era o mesmo, pelo menos na primeira premissa: “Intoxicação
de substância tóxica não identificável”. E a médica legista foi a mesma,
Maria de Almeida. A menos que existam pormenores reservados à Polícia de
Investigação, a autópsia suscita algumas questões.
Sendo
o segundo caso em três meses de morte por “Intoxicação de substância tóxica não
identificável”, haverá alguma correlação entre ambos? Esta substância passa a
designar-se “Não identificável” porque não há meios de análise ou por transcender
eventualmente o nível de conhecimento da médica legista? Se no primeiro caso, o
atleta ingeriu um cocktail tradicional, a intoxicação de Cambelele por que via foi?
Em linguagem própria na medicina legal, um suicídio por enforcamento encaixa-se
quadro de “asfixia mecânica por estrangulamento” ou isto pressupõe acção de homicidas
à solta?
A
única certeza por enquanto é que há uma família e uma classe enlutadas. Será caso
para se ir pensando já num serviço
de tradução das autópsias? Ainda era só isso. Obrigado.
www.angodebates.blogspot.com
| Gociante Patissa | Benguela, 8 Abril 2018
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