Gociante Patissa, foto do ano de 2004 |
1. A experiência diz que embora seja um teste para locutores, a cultura geral é sempre um valor acrescido. Pesquise um pouco sobre a Estação que está a recrutar, quando foi fundada, qual a sua missão, o nome oficial da rua em que está localizada. Ouça também noticiários para dominar alguns assuntos correntes da política, desporto, sociedade e economia. Não menos importante, leia um pouco sobre a estrutura da notícia, o que é um "Lead", assim como saber a diferença entre um facto e uma opinião. Ah, a língua portuguesa é ferramenta de trabalho, pelo que ter bases minimamente sólidas pode ajudar. Por exemplo, uma das regras é "não adjectivar". Já agora, você sabe o que é "adjectivar?" Sabe o que é a concordância em número e género? Conhece a diferença entre "mais" e "mas"? Uma das características da profissão é a curiosidade, no sentido de proactividade na pesquisa.
2. Quando lhe derem o texto para ler, peça pelo menos um ou dois minutos antes de iniciar a leitura, de modo a criar vivência com o conteúdo. Para além de evitar tropeços e dizer o que não está escrito, reforça a ideia de que o candidato tem noção da responsabilidade de informar. O texto radiofónico é específico e diferente do de um jornal ou revista. Se tiver um lápis, pode sempre ajustar a pontuação, de modo a lhe ajudar a respirar.
3. Não entre a competir. Isso parece contraditório de dizer, em se tratando de casting para recrutar poucos entre muitos. O problema do espírito/atitude de competição é que pode resvalar para o excesso de vaidade e distrai o candidato ou a candidata do essencial. Deixe o show para os comediantes. Procure estar sereno, concentrado. Acredite no seu potencial e procure dominar o nervosismo. Se notar que afina na voz mais do que os jornalistas/locutores que conduzem o casting, é sinal de que algo vai mal. Ser o mais natural possível pode ajudar imenso.
4. Evite confundir microfone com gelado. A tendência é encostar muito ao micro, o que distorce o som. A regra tradicional é posicionar-se a um palmo de distância. Se já tiver hábitos de leitura e se sentir confiante, de vez em quando levante os olhos para a vidraça a fim de manter o contacto visual com o operador de som, que fica do outro lado do aquário. No dia-a-dia vai ser útil para a empatia necessária no trabalho de equipa.
5. O truque da saudação. Quando o nervosismo é grande, a par do truque de respirar fundo umas cinco ou mais vezes, eu costumo improvisar uma saudação. Trata-se de transgredir, claro, já que tal saudação não está no texto, mas ninguém lhe vai prejudicar por isso. Depois do Bom dia, ou Boa tarde, ou Boa noite, o melhor é pausa de vírgula, não de ponto continuação, para não prejudicar o ritmo. Exemplo: "Boa tarde, há um médico para cada quatro mil doentes em Angola."
6. Chineses não fotocopiam pessoas (ainda). Ou seja, você não é a encarnação da voz ou do estilo do seu ídolo. Não tem de ser, até porque você tem tudo para ir mais além e não ficar estagnado na carreira. É bom termos alguém que nos sirva de modelo de referência, mas não precisamos de gastar energias tentando ser uma cópia a cores desta pessoa. Há imitadores que caem na graça, mas muitos também atingem o ridículo e evidenciam alguma falsidade e falta de originalidade. Se eu posso ouvir o locutor original, por que razão perderei tempo com a imitação? Eis a questão. É certo que os critérios de avaliação são subjectivos e pode haver rádios que encorajem a imitação de locutores, na medida em que parece haver um padrão estabelecido que sobrevive à entrada e saída de locutores na equipa. Mas eu recomendaria você ser apenas você, o que não quer dizer que não tenha de ter atenção a algumas técnicas de dicção e ritmo de articulação.
São conselhos banais de um observador que não é perito em absolutamente nada. Ainda era só isso. Obrigado
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 26 Abril 2018
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