Somos chamados a manter um olhar optimista, ou o
silêncio por vezes, a propósito do nosso futuro enquanto sociedade, enquanto
país novo. Mas não é nada fácil quando indicadores e tendências aparentam
apontar para o oposto. Olhando por exemplo para a educação, faço parte dos que
se devem orgulhar do seu ensino médio no que ao perfil de saída diz respeito.
Os anos 90 foram em si mesmos um desafio para quem por acaso não tivesse
"padrinhos" para ir estudar ao estrangeiro (Europa ou no mínimo
Namíbia), um luxo que significava simultaneamente estar livre das rusgas para o
serviço militar obrigatório. Estudamos em condições complexas, caminhando
vários quilómetros a pé, sem manuais - porque não existiam mesmo -, apenas
fascículos, nunca uniformes. O acesso a computadores era só por milagre, a
Internet nem se punha. Muitos de nós tivemos de optar entre estudar e
trabalhar. Ainda assim, conseguimos criar instituições, dirigir departamentos
estatais, singrar em profissões mais determinantes. O país assentava sobre os ombros
de técnicos médios. Quando por fim chegamos à universidade, já a vida nos tinha
proporcionado uma considerável cultura geral. O sector voluntário, o da
sociedade civil, que por décadas servi, era globalmente aguentado por técnicos
médios. Hoje porém é com desespero que se observa o declínio em termos de
perfil de saída dos nossos estudantes do ensino médio. As bases são cada vez
mais fracas, títulos bwé, consistência muito coxe. É como afinal, ó sistema de
ensino? Teremos de recuperar a pedagogia do chicote? Sei que o país é novo, que
devemos manter um olhar optimista, só não digam que é fácil.
Gociante Patissa, Benguela 02.09.15
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