Gosto de ver na TPA (por opção, não uso parabólica) a
faceta da diversificação da nossa economia que tem que ver com o investimento e
consequentemente resultados à vista na criação de peixe continental, concretamente
a tilápia, entre nós o cacusso.
Os termos é que –
confesso – de quando em vez me baralham
assim um bocado. É que se num noticiário gravo já assim no meu dicionário
mental "aquicultura" e coiso e tal, dia seguinte vem outro técnico (cheio
de know-how na boca) dizer que é "larvicultura".
Só que quando penso já que esses dois termos um gajo até atura, aí levo com a
"piscicultura", quer dizer, é começar de zero a caprichar no léxico.
Mas, pronto... isso também
não é bem a questão, até porque, à mesa, o único dicionário que conta são mesmo
só os olhos, não é verdade? Ora, tem bom aspecto? Cheira bem? Vai uma dentada,
e tudo já é comunhão e quê e tal!
O que de qualquer modo preocupa é notar que só
se fala de cacusso. Então se, até na cama, a pessoa varia a posição de dormir – um dia é pelo lado direito
do tronco, outro dia pelo esquerdo, amanhã de barriga para baixo e quando se está frustrado damos uma de decúbito – como é que não se fala em outra espécie de peixe para
aqueles dias em que o cacusso nos lembra a cara do patrão em lua de má
disposição?
Por acaso até, de peixes de
água doce, para além dos que apanhava no poço da lavra da minha mãe quando a
vala da açucareira transbordasse, os do rio que conheço são poucos. Também só
os conheço pelos nomes na língua materna. Neste caso, materna para mim e para os
próprios peixes porque, se falassem, uma vez que os conheci no kimbo, então
teriam de o fazer na língua de cujo barro comiam, o Umbundu.
Assim sendo, temos o "eponde",
que no Monte Belo abundava debaixo da ponte, e "ongungi", que na
Katombela aprendi que era bagre. Os nossos irmãos do Leste têm
"kakeya" ou tuqueia, não sei ao certo se é (ou não) a mesma coisa.
E não é que nos mova algo
contra o cacusso, com o qual aliás tenho uma ligação histórica. Para não dar muitas
voltas, diria que os irmãos do Norte é que sempre o viram como luxo. No
Lobito, onde cheguei em 1985, o “cipulu” [t∫i-pu-lu], como se lhe conhece pelo empréstimo
Umbundu, era de um valor abaixo da sardinha. Então porquê?
É peixe dos mangais, aonde as
águas negras de muitos ainda hoje desembocam. O preconceito viria a terminar entre
1993-95, altura em que abundavam corpos caídos, quais pétalas secas pela
calçada. O assassino em série? Penúria pós-eleitoral. Como diria o outro, urgia
alimentar a ilusão de se alimentar. Com os professores em greve, caminhava eu seis
quilómetros/dia para ir ter com um amigo estivador no Caminho-de-Ferro de
Benguela. De repente, o cacusso já era o peixe mais saboroso do mundo. O mundo
era o fim das nossas esperanças. A humanidade só vai por conveniência mesmo!
Enfim, ao governo e
parceiros, desejamos toda a força. De pesca, este cidadão não "pesca"
nada, é verdade. Mas, excelências, nessa vida que já nos acostumou ela mesma a
ser uma variável, vamos produzir só mesmo já assim um cacusso, sem alternativas?
Gociante Patissa. Benguela, 9 Setembro 2015
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário