Ao
ouvir as palavras da directora da Rádio Mais na província do Huambo, que falava
à reportagem da TV Zimbo a propósito da invasão e consequente vandalização, em
plena luz do dia, dos meios de trabalho da Redacção da também conhecida
"Rádio da Nova Angola", ficou-me a ligeira impressão de que a causa
profunda teve a ver com a (in)definição das tarefas de um protector físico. A
senhora disse mais ou menos – e cito de memória – que o guarda estava a fazer
um outro trabalho na casa ao lado, momento aproveitado pelo invasor para levar
a cabo os seus intentos.
Ora,
o previsível seria ouvir que se devesse a uma eventual negligência do protector
físico do edifício, o famoso “abandono do posto”. Mas parece que não. Sendo
certo que para uma melhor leitura do quadro, só estando no terreno, é
inevitável entretanto inferir que neste “estar a fazer um trabalho ali ao
lado”, fica-se com a clara ideia de ter sido dada ao guarda uma tarefa muito
provavelmente secundária ao seu verdadeiro papel.
É
uma hipótese que sugere voltarmos à sociológica necessidade de repensar o país
em geral quanto ao estado do exercício da segurança privada patrimonial,
actividade que é tão-somente tida como complemento do policiamento na segurança
pública.
Foi
no ano passado, se estou bem recordado, que uma reportagem bem conseguida da
Rádio Benguela despertou a atenção da sociedade para as precárias condições dos
seguranças, que passam muitas horas em pé, alimentam-se em horários irregulares
e muitas vezes sem acesso a casas de banho para as suas necessidades
fisiológicas. "Protector", "efectivo",
"operativo", "maior", "segurança",
"ango-segu", "guarda", a lista de títulos destes
pára-militares do sector privado é interminável. A sua tarefa é que não é,
contudo, das mais bem definidas.
O
que se assiste na maioria dos casos, com maior incidência para
residências, é que são eles que cuidam de ligar o gerador quando a energia
geral falha, retiram do carro a botija de gás, o saco de carvão, hortaliças e
demais compras quando o patrão chega, abrem e fecham o portão 24 horas por dia.
Afinal é para serem guardas ou empregados domésticos? Por um lado, os excessos
do cliente, que os vê como “pau” para toda e qualquer obra enquanto, por outro
lado, enfrentam as parcas condições de trabalho, onde os turnos são prolongados
por mais de um dia, de vez em quando, em função do défice de recursos humanos.
Boa
parte deles ex-militares desmobilizados, outros nem tanto, deixam as suas casas
para o trabalho, que é suposto oferecer guarnição, geralmente a imóveis, sejam
residências ou instituições. São pagos (geralmente muito abaixo do que
mereceriam) para assegurar a integridade física do posto em que são colocados,
não se isentando de ressarcir o que se der por desaparecido durante o turno.
Não
seria já altura mais do que certa para se pensar em algum tipo de sindicato ou
associação socioprofissional? Bom dia!
Gociante
Patissa, Aeroporto Internacional da Katombela, 26.05.15
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