sábado, 18 de abril de 2015

Crónica | Inglaterra ou América, o confronto de confortos para turista estudioso da língua inglesa


Passei recentemente uma semana no Reino Unido. Fiquei em Hemel, a 25 minutos de carro de Londres, que visitei umas três vezes. Saí várias vezes para Watford, que dista menos de meia hora de carro.

O bilhete de avião é caro, mas é um investimento útil, tendo em conta que a língua é uma questão de uso e prática, de outro modo me arrisco a congelar no subconsciente os quatro anos de universidade na licenciatura em Linguística, especialidade de Inglês. Daí que de vez em quando "salte" a fronteira para uns dias na Namíbia.

Durante a intensa semana na Inglaterra, visitei de máquina fotográfica em punho lojas (das pequenas às grandes superfícies comerciais), jardim zoológico, hospital, frequentei o metrô subterrâneo, etc. Para a minha grata surpresa, não senti aquele aparatoso espectro de insegurança que se verifica nos EUA, onde em 2010 gozei um mês a convite do Departamento de Estado, no âmbito do programa de intercâmbio Líderes Juvenis Visitantes Internacionais, com uma semana em cada Estado: Washington DC, Portland-Oregon, Salt Lake-Utah e Miami-Florida.

Longe de mim fazer apologia à negligência na luta contra o terrorismo, acredito que os ingleses terão é outros métodos de vigilância, permitindo um equilíbrio com o direito dos seus cidadãos e estrangeiros a uma maior sensação de conforto. É este diferencial que torna a visita à Inglaterra mais prazerosa, pelo menos para pessoas não acostumadas a redundantes submissões a detectores de metais e aquele tira cinto, põe cinto, abre axilas, deita fora a comida, no típico tom autoritário americano.

Do ponto de vista da comunicação, que é afinal o que move um estudioso, sou partidário do Inglês americano (fora a linguagem do gueto, a do RAP). Gosto da clareza na articulação, da liberdade em pronunciar o /r/, da musicalidade. É um conforto que não se tem na dicção dos ingleses, que à primeira vista falam como se não quisessem ser percebidos, o que remete visitantes aos constantes “pardon”, “say again?”

A minha relação com o Inglês data de 1993, meses antes do 15.º aniversário, quando se despertou a meta de emigrar em busca de melhores condições de formação, o que nunca se realizou, literalmente falando. Seguiram-se anos de muita leitura e exercícios de diálogo, inicialmente com ajuda do Paulino Sõi (primo-irmão materno de primos-irmãos paternos meus), do bairro da Pomba no Lobito, que dista provavelmente uns 10 Km do bairro Santa Cruz, onde morava eu, ligação que fazia quase sempre a pé, muitas vezes só com água no estômago. Nesta época o país enfrentava uma penúria alimentar brutal, resultante do reacender da guerra civil pelo fracasso eleitoral de 1992.

O Paulino tinha já livros e uma monumental paciência que me permitia passar longas horas no seu habitáculo a transcrever vocábulos e expressões. Ao mesmo tempo, a fim de resgatar o televisor, retido em casa do mestre, passei a vender estátuas de madeira lá de casa a capacetes azúis britânicos da ONU e com isso praticar com falantes nativos.

O domínio do Inglês tem sido tão determinante na minha afirmação, como o têm sido a educação de berço e a mente criativa. Acredito que a língua de Shakespeare já me compensou com o que de melhor podia – como digo a brincar –, o que inclui ter amado, sonhar, bem como traduzir reuniões comunitárias directamente para Umbundu.

Gociante Patissa, Benguela, 18 de Abril de 2015
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