Por José dos Santos,
director do jornal «A Capital», edição n.º 640, Luanda, 04/04/15
Quando decidi
abraçar o jornalismo, admirava algumas pessoas que já há muito labutavam na
profissão. Tanto pela forma de escrita – muita criatividade -, assim como por
aquilo que representavam ser. Gente idónea e, por via disso, verdadeiros
exemplos a seguir. Passaram-se os anos e, confesso, vi-me defraudado com
algumas pessoas, jornalistas, no caso, que muito admirava. Não porque deixaram
de encantar-me com os seus escritos, mas, sobretudo, porque passei a reconhecer
em muito deles uma outra faceta: um exacerbado narcisismo.
Deixei
completamente de os ver como exemplos a seguir, apesar das referências. Passei,
por isso, a colocar-me a milhas de distância, mal os avistasse. A luz que
brilhava no horizonte não era, afinal, o ouro que se imaginava. Era apenas uma
miragem...
Compreendi com
os anos que há por aí gente jornalista que continua a padecer (sempre foi
assim, encapuzavam-se) de um narcisismo patológico e que parece piorar com o
avançar do tempo. É o narcisismo jornalístico de que me refiro, um conceito que
pode servir para caracterizar um profissional do ramo que, sem pejo nenhum –
qual Narciso – admira de forma exagerada só a sua própria criação.
Em busca do
protagonismo só para si, entende que o seu jornalismo está acima dos demais.
Por isso, nutre uma paixão pelo individualismo numa tresloucada busca pela sua
auto-afirmação. Só assim
consegue os seus objectivos. Egocêntrico, quer ser sempre o centro das
atenções. É assim que se estabiliza emocionalmente, tal é a necessidade de
exposição, mesmo diante de um trabalho não raras vezes corriqueiro.
O jornalista
narcisista quer sempre receber elogios. Porquê? Entende que, como ele, não há
outro profissional igual. Não respeita ninguém, nem o trabalho dos outros. Ele
é “demais” e ponto final. E faz tudo para chamar atenção, inclusive contar
piadas sem graça, levantar conversas sem pé, nem cabeça. O que lhe importa?
Nada. É ser apenas o centro das atenções. E bate no peito quando se lhe é dado
alguma importância. Caso contrário, cria fantasmas. Nasce logo um clima de
desconforto nas relações com os demais colegas de profissão, mesmo daqueles com
quem partilha a redacção. Daí aos conflitos é apenas um pequeno passo.
Para o
jornalista narcisista apenas conta a sua opinião. E é esta que deve ser levada
em consideração. Se contrariado, bufa por todos os poros. Porquê? Sem modéstia,
considera-se um especialista em tudo o que é assunto. Por isso, procura
centralizar o conhecimento. Trabalhar em equipa? Para quê? É desnecessário. Só
ele é que produz sozinho. Os outros colegas apenas atrapalham. Esquece que
também pode aprender com os seus pares.
Há gente
jornalista, porque narcisista, que teima em acreditar que o seu umbigo é o
sistema solar. Acha-se um fenómeno mundial, sem perceber que, no fundo no
fundo, está a precisar de consultar um especialista em medicina para a
patologia de que padece.
Compreendi, por
isso, com os anos, que devo seguir em frente, absorvendo apenas os bons
exemplos. É que, contrariamente àquilo que pensam os narcisos do nosso
jornalismo, o mundo não é, afinal, tão ridículo assim...
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário