Há uns sete anos, lutei civicamente para que a
minha mãe passasse a receber aquela pensão a que as viúvas têm direito. Pouco tempo
depois passei a lutar, passivamente, para que ela não mais a recebesse. Explico.
Quando a agência BPC em que ela recebia entrou em obras, passaram a frequentar
a dependência da Kalomanga. E num destes dias, ela perdeu o bilhete de
identidade e a ficha da Segurança Social. Dias antes, estive com ela no banco e
achei simplesmente repugnante a forma com que os funcionários tratavam os
idosos. Há um que, confesso, passei a marcar pela negativa – do tipo, se esse
homem precisar de alguma decisão minha para algo, será lembrado da humilhação
daquele dia. Na sequência, quando fomos pedir ao banco que cancelasse a conta
até que a velha tratasse outros documentos, descobrimos que alguém fora levantar
cerca de dois meses de pensão, assinando com rúbrica e sob procuração, quando
só o Instituto de Segurança Social poderia emitir tal procuração, sendo também
obrigatória assinatura legível. Fomos ainda anunciar via Rádio Morena na
vertente de perdidos e achados, em vão. Postos na Agência Jardim, nenhuma
explicação satisfatória nos foi dada, o que só pode dar a entender que um funcionário
do banco operou a fraude. Ainda fomos à Segurança Social para saber quem havia
emitido tal procuração, cuja cópia ninguém tinha, nem o banco. Um amigo na
altura sugeriu irmos ter com um advogado amigo seu, que ficou com o processo
por aí meio ano, com promessa de ajudar a formalizar queixa junto da Polícia.
Mais tarde, mercenário como a profissão lhe permite, e já com tanto tempo
perdido, disse que nada faria, tendo em conta a insignificância dos sete
mil kwanzas burlados. A única coisa de boa no meio de tudo isso é que a velha
não precisa de voltar àquelas filas longas de velhos atrás de pensão de viúvas
e reformados, ela que tem força de sobra para a sua lavra familiar e filhos
para os complementos necessários. No outro dia, em finais do ano passado,
estive a falar com ela sobre o assunto, mais na vertente do alívio. Surpreendentemente,
ela me disse: “Una wombihã handi hanse” (literalmente, aquele, um tanto feio, é
o menos pior), referindo-se precisamente ao homem que eu vinha marcando ao longo
desses anos. Quer dizer, o que eu vi de mau atendimento para com os idosos foi
pouco.
Gociante Patissa, Catumbela 1 Fevereiro 2013
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Custa engolir esta desumanização. Um local onde eu não gosto de ir.
Abraço
Outro abraço, caro Manuel Luís.
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